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quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Caos e desorientação na União Europeia


Por
Economista

Perda de valores, grandes incertezas sobre o futuro, caos nas ideias, na política, nas relações internacionais, são ‘qualificativos’ estruturantes do Mundo de hoje.



Vendo bem, irresponsabilidade, desorientação, desencontro de gerações, perda de valores, grandes incertezas sobre o futuro, caos nas ideias, na política, nas relações internacionais, são qualificativos estruturantes do Mundo de hoje.

A título de exemplo. A futura equipa presidencial dos EUA, escolhida a dedo, cheia de gente negacionista da Ciência, o caso da saúde com Robert F. Kennedy Jr., no comando, é aberrante, um homem anti-vacinas, felizmente contestado por um grupo de Prémios Nobéis ligados a temas de saúde; os representantes do grande capital, corporizados na gestão político-económica do país em que Elon Musk é o protagonista nº1 subjugando o país aos interesses de uma ínfima minoria, é, no mínimo, um tremendo caos.

A Coreia do Sul, onde o Presidente Yoon decreta a Lei Marcial, alegando razões absurdas, para horas depois a anular por decisão do Parlamento e do povo nas ruas e pedir desculpas ao país do que fez, mas onde, por outro lado, o líder do partido do Presidente, apesar de afirmar que ele representa um “grande perigo” para o país e seu povo, não o querer destituir, apesar da Assembleia tê-lo feito, não na primeira tentativa é, no mínimo, irresponsabilidade.

A Síria tomada pelos rebeldes sem qualquer oposição, mas de futuro incerto, enfrenta dias difíceis de desintegração, se não anos. De positivo, no Médio Oriente, só mesmo a condenação cada vez mais reconhecida no Mundo do crime de genocídio praticado por Israel na faixa de Gaza.

Para terminar a exemplificação. Nada a sair bem no combate às alterações climáticas, as pessoas cada vez mais descrentes das medidas que os responsáveis políticos mundiais aprovam nas célebres COP e ainda a denúncia indireta pelo think-tank Bruegel pró-europeu de que a Europa não tem dinheiro (meios) para a sua transição energética. Tudo isto e outras situações indiciam maus momentos (estruturais) que perduram, com poucos sinais visíveis de alteração no Horizonte. Que ambiente mundial é este?!

A amenizar, aconteceu Notre-Dame, um sucesso na recuperação de um património de grande simbolismo, cuja celebração foi aproveitada para contactos políticos de circunstância, de alto nível, mas sem grandes ilusões pois, apesar de tanto aparato, apenas uma pequena parte de representantes políticos do Mundo esteve ali. A outra grande parte, o “Sul Global”, cada vez mais influente e reivindicativo, com vozes, quantas vezes contraditórias, mas que não deixará de ser determinante no lançamento de novas condições para uma “outra arrumação” das instituições mundiais, não foi ouvida. Então, porque se fala de uma Cimeira Mundial em Notre-Dame?

A Europa em desconforto

Na União Europeia, temos as duas maiores economias em crise (fechos de empresas, despedimentos) e os respectivos países (Alemanha e França) desgovernados: o governo Barnier (França) chegou ao fim pelo chumbo do Orçamento 2025 por uma moção de censura na Assembleia. O de Olaf Scholz, em banho-maria, aguarda eleições em Fevereiro. As incertezas de um e outro país, que se arrastarão por meses quanto a soluções em conteúdo e em equipas governamentais, são angustiantes, apesar de Macron já ter escolhido Bayron para PM.

O governo de Scholz na Alemanha é um não ente, admitindo-se que a CDU/CSU venha a ser a coligação mais votada, embora com um forte avanço da extrema-direita, a AfD. As expectativas estão no programa eleitoral da CDU/CSU incluir a retoma da energia nuclear, substituindo, desta forma, a Energiewende, a política energética vigente (aposta nas renováveis intermitentes, solar e eólica) que arruinou o país e ia afundando a UE. A energia é o grande problema de fundo da União Europeia.

A propósito da Energiewende um exemplo recente. A 6 de Novembro último, devido à falta de vento, as 1602 turbinas eólicas offshore do país estavam paradas, assim como as onshore… e esta situação durou 30 horas. Com o pôr do sol cessa a energia solar. Mas o consumo continuava uma necessidade. Como se recompôs a situação? A Alemanha teve de importar, de emergência, electricidade (nuclear) de França e o preço no mercado alemão de um megawatt/hora atingiu, então, 820 euros. Se tal cenário se repetir em Janeiro/Fevereiro de 2025, a temperaturas bem mais baixas, por conseguinte, consumos mais elevados que a 6 de Novembro, a Alemanha não vai conseguir importar e, certamente, poderá não escapar a um apagão maior ou menor (Transitions & Énergies 4 de Dezembro 2024).

Este exemplo demonstra o fracasso monumental do que tem sido a política energética da Alemanha: grossos investimentos nas renováveis intermitentes na ordem dos 600 mil milhões de euros, nos últimos dez anos, acompanhados do fecho das centrais nucleares, tendo cada vez mais que recorrer às fontes de energia fóssil. “Não é de admirar que os preços da electricidade na Alemanha sejam os mais altos da Europa e, por isso, tenham enfraquecido as suas actividades industriais”, lê-se na fonte antes citada, levando ao fecho de muitas unidades fabris ou à sua deslocalização, como tem acontecido com as químicas e muitas empresas electromecânicas.

Esta situação tem tido repercussões na economia europeia, enfraquecendo-a e tornando-a menos competitiva. E já que muito se fala de Draghi, cabe aqui dizer que, no relatório sobre os problemas da UE, identifica a questão energética fundamental. Sem estratégia, a UE será um pólo mundial manco, porque não competitivo e, menos ainda, poderá guindar-se a uma posição relevante nas actividades tecnológicas ligadas à IA, à computação quântica que requerem muita energia. EUA e China estão a avançar com medidas de política nesse domínio, recorrendo à nuclear.

Por outro lado, a Presidente da Comissão Von der Leyen anda toda entusiasmada com o Mercosul que, neste momento, tem a oposição de França, Polónia e Itália e, sobretudo, dos agricultores de vários sindicatos europeus com manifestações de rua previstas, em vários países. Evidente o Mercosul merece reflexão e celeridade, mas sem perceber as razões que levam grande parte dos agricultores europeus a manifestarem-se; sem corrigir as políticas europeias, em si, mal calibradas, a competitividade da agricultura da Europa não se resolve.

Não havia razão para mais uma fissura entre a Comissão e os países. Já existem tantas e muitas outras estarão na forja, a partir de 20 de Janeiro, complicando as relações de entendimento na Europa.

Caos e irresponsabilidade grassam no Mundo e, sobre as guerras, o cansaço e as informações pessimistas predominam, desde as deserções na Ucrânia que apontam para centenas de milhares e de mortes também dessa ordem, a sondagens que não se sabe se existiram ou não, em que elevadas percentagens dos europeus exigem negociações de paz e um clima de desilusão contagiante por toda a Europa.

Reina uma sensação de fim de ciclo. Urge equacionar, sem mais delongas, ajustamentos profundos em cada pólo económico e na relação entre si. Mas quem serão os agentes da passagem para o novo ciclo, se quem domina as relações mundiais não está para largar, de ânimo leve, as alavancas do poder, sem luta, seja de que tipo for…?

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

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