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sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Padre José Luís Rodrigues, uma voz livre que aponta o caminho

 

Parabéns, querido Amigo Padre. Parabéns não apenas pelo facto de hoje celebrar, no seio da sua comunidade, 25 anos como Pároco de S. José. Sublinho, não apenas por isso, mas muito mais. Sabe, meu distinto Amigo, esta Igreja de Leão não o merece. A de Francisco, sim! Porque este soube contextualizar a Palavra com a vida real; pelo contrário, Leão não faz sequer jus ao nome, tampouco aos princípios de Assis, quando, nestes cinco meses na cadeira de Pedro, tem vindo a transmitir a ideia de um conservadorismo que amarra. É por isso que lhe digo que esta Igreja não o merece.



Como o compreendo quando há dias escreveu, sobre os seus medos: "medo dos que não distinguem a diferença entre a dignidade e a chafurdice humana (...) medo daqueles que acham que podem vencer até os mortos, quando está determinado, os únicos invencíveis, são precisamente os que já morreram (...) medo de quem vai morrer sem perceber que deve lutar a todo o custo para sobreviver e nunca permitir ser tratado como um animal". Como o compreendo!

Desde há muitos anos que aprecio a sua frontalidade, assente na sua vasta cultura, a sua liberdade de pensamento, a sua tenacidade, a sua capacidade de transmitir o Evangelho não como qualquer coisa repetitiva e oca, mas plena de Vida, apontando caminhos e chamando os bois pelos nomes. Pois, percebo, que há quem não goste, todos os que se sentem incomodados com as suas posições, mesmo quando é público e notório que não confunde nem mistura, a Palavra com posicionamentos político-partidários. O Senhor é um Homem livre que apenas acredita na importância de uma Igreja de valores humanistas.

Faz, por estes dias, dez anos que escrevi um texto sobre o seu apostolado, baseado no que então escreveu: "(...) A Igreja da Madeira devia alto e bom som, proclamar por justiça e denunciar claramente todas as artimanhas que se vão implementando contra as pessoas indefesas. A coragem do Papa Francisco devia ser inspiradora e animar-nos no mesmo Espírito. Há tanta propaganda a promover gente medíocre contra o bem comum que deve ser denunciada. Se estudarmos os 500 anos da Diocese do Funchal na sua vertente sócio-caritativa não encontraremos nada além daquela ideia do pobrezinho a quem se devia dar esmola para salvar a alminha. Nunca existiu nem existe uma prática forte de denúncia das injustiças, uma rede organizada que ajudasse à criação de emprego, que não fosse além da caridadezinha esporádica, porque se «vendia» com redobrado sucesso a ideia que as paróquias não eram lugar de caridades nem muito menos misericórdias. Por um lado, era promovida a caridade da esmola, mas, por outro, alimentava-se a ideia de que os pobres não resultam da disparidade da distribuição dos bens, da desigualdade social, mas são uns malandros que não querem trabalhar, uns preguiçosos que não fazem nada e vivem à conta da boa vontade alheia. (...)"

Dez anos depois continua tudo igual, porventura, pior. Porque a hierarquia não quer, ela exige obediência cega e silêncios, está dependente, retida na sua torre ou sacristia e tem medo do saudável confronto entre a Palavra e a práxis política. Falavam de Francisco, e ainda o citam, mas sem qualquer convicção social. Prefere surfar as ondas do imobilismo, fazendo-se de morto, pregando aquilo que já não pega. A Igreja de Jesus assenta noutros pressupostos. É a Igreja da solidariedade, do amor, da justiça, da fraternidade entre os povos e da irmandade entre as nações. Estas razões, obviamente, deviam implicar determinação, custasse o que custasse e doesse a quem doesse. 

Caríssimo Padre, o Senhor foi muito Amigo do Padre José Martins Júnior. Para si, ele foi sempre uma inspiração. Eu sei. Isso ficou muito claro na comemoração dos 86 anos de vida e, passados uns meses, na Homilia da Missa de corpo presente. A consideração dele por si, também sei, porque tantas vezes me testemunhou, funcionava como um farol de esperança numa Igreja insubmissa, lutadora e atenta aos direitos humanos. Cerca de um mês antes da sua morte, ali para os lados do Santo da Serra, num rotineiro almoço, onde o que valia era o vendaval de pensamentos, disse-me que a Madeira precisava de "mais alguns como o José Luís". Foi nesse encontro, como que sentindo próxima a sua partida, a páginas tantas, molhando o pão no vinho, disse-me de forma pausada e sentida: "quando morrer quero ter uma conversa com Jesus e sua Mãe". Nele existia, claramente, um sufoco por tanta injustiça e tanta maldade. Ele que preferiu sempre o chão à ostentação. 

Tal como Martins Júnior, o Padre José Luís é um insubmisso, é um Homem que escolheu o sítio certo... ao lado do povo. Só que o lado do povo embaraça a hierarquia, logo, eu não diria que os irreverentes sejam proscritos, mas são tolerados e colocados no adro do sofrimento. Que pena tenho da verdadeira Igreja de si não se lembrar para Bispo da Diocese! Teríamos, com toda a certeza, uma Igreja "aberta ao mundo, a este mundo concreto da nossa vida" (JLR), portanto, próxima do Povo. Até porque, na esteira de Martins Júnior "(...) Ninguém pode servir a dois Senhores. Ou se serve a Cristo ou se serve o Poder (...)".

Querido Padre, passaram-se 25 anos. No seu blogue, "O Banquete da Palavra", assume que "gosta muito do que faz". E pergunta: "Ora bem, e o que se há-de esperar de quem é feliz! Assim, o que mais desejo neste mundo é que os outros também sejam muito felizes". Continue feliz, de sorriso largo, atento e obstinado pela divulgação dos princípios e valores que o Evangelho anuncia. Todos precisamos de si.

Um abraço.

Ilustração: Google Imagens.

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