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domingo, 21 de dezembro de 2025

A pior crise da economia alemã no pós-guerra

Por
João Abel de Freitas, 
Economista

O tecido económico alemão é carente em energia. Com os preços vigentes e o modelo energético existente, nada a fazer. A desindustrialização entrou em processo sucessivo, com perdas significativas de emprego a vários níveis.



“A economia alemã está em queda livre e o governo não está, ainda, a reagir com a firmeza necessária”, palavras de Peter Leibinger, Presidente da Federação das Indústrias Alemãs (comunicado de 2/12/2025), a maior Federação Patronal. “Aguardamos uma queda de 2% na produção deste ano, ou seja, a produção industrial encontra-se em queda pelo quarto ano consecutivo” e, em sua opinião, esta crise não é pontual, nem temporária. Decorre de um impasse estrutural.

A Federação das Indústrias Alemãs exige, então, do governo de Friedrich Merz: “políticas económicas com prioridades claras para a competitividade e crescimento”, sob pena, subentende-se, de um mergulho da economia alemã e, por arrasto da europeia, por tempo indeterminado e problemático.

Como se referiu no artigo de opinião da última quinzena, “a falência da política energética alemã”, não se vislumbra qualquer luz ao fundo do túnel, que indicie uma mudança substancial, consequente e robusta, neste domínio, na Alemanha (nem na União Europeia), a causa principal de tamanho descalabro. Remendos, como a electricidade subsidiada às empresas, que Merz decretou, não são solução e, deste modo, a economia alemã não conseguirá recuperar a competitividade perdida.

O tecido económico alemão é carente em energia. Com os preços vigentes e o modelo energético existente, nada a fazer. A desindustrialização entrou em processo sucessivo, com perdas significativas de emprego a vários níveis. A título de exemplo, refira-se que a produção no sector automóvel caiu 20%, (desde 2019), equivalente a 150 000 desempregos e, a indústria química, na sua globalidade, encontra-se no pior nível dos últimos 30 anos.

Acrescento que alguns segmentos acusam reduções na produção, superiores a 50% e outros enfrentam o seu desaparecimento. Na indústria química, uma das fortalezas anteriores da indústria alemã (líder mundial em grande parte dos segmentos produtivos), continua a transferência de unidades empresariais para a Índia, China, Estados Unidos, na mira de aproveitamento da energia bem mais barata, na relação de 3 para 1.

Aquando das sanções à Rússia, associações empresariais e sindicatos, em exposições conjuntas, alertaram e questionaram o governo alemão para quão errado e prejudicial era o tipo de sanções na calha e, opuseram-se veementemente, de formas diversas, porque sentiam, com razão, que essas sanções (corte nos abastecimentos de gás) afectariam fortemente, em primeiro lugar, as indústrias intensivas em energia, mas os políticos europeus, levianamente, deixaram-se ir na onda das decisões de Joe Biden, esquecendo as profundas diferenças Europa/EUA, em matéria energética. Alguns dirigentes políticos ainda mostraram relutância, mas, não foram consequentes, deixando a Comissão Europeia de mãos livres!

O Governo alemão tem plena consciência da grave situação em que o país está mergulhado. Mas não encontra saída, porque continua preso politicamente à não aposta na energia nuclear e a prosseguir caminhos nada inteligentes, como a substituição de energia fóssil (carvão) por energia fóssil (gás natural), para alimentar as 40 centrais a gás, que decidiu instalar, tornando-se até ao final da década o quarto maior importador mundial de GNL, só atrás da China, Coreia do Sul e Japão. Para isto, tem de apostar em terminais GNL (5, no mínimo) o que acarreta um elevado nível de investimento e um aumento da emissão líquida de CO2, contrariando o que diz defender, em termos de transição climática.

Estas decisões errantes denotam um desnorte.

E, se a isto se acrescentar que Grécia, Itália e Reino Unido vão recomeçar, em 2026, as perfurações na procura de petróleo e sobretudo de gás nas suas águas marítimas, a dose de hipocrisia não pode ser maior. Outros países europeus, como a Polónia (esta em onshore) e a Noruega, vão pelo mesmo caminho.

Compreende-se a necessidade europeia de baixar os preços da energia, mas não pode é jogar em tabuleiros contraditórios, de forma um tanto quanto clandestina e com exigências do cumprimento de abandono da energia fóssil a países emergentes, quando estes pretendem explorar os seus recursos! E menos ainda aparecer em fóruns internacionais, como aconteceu recentemente na COP 30, em Belém/Brasil, com a União Europeia arvorada em campeã da mudança climática?!

Recuando à década de 2010, a economia alemã apresentava um ambiente de prosperidade, com uma saúde excelente, a operar na base de um modelo exportador de produtos de elevado valor acrescentado e qualidade, sobretudo nos sectores de bens de equipamento e da química, onde detinha os maiores grupos mundiais na química de base e produtos farmacêuticos, com uma elevada taxa de ocupação das empresas, usando gás russo de baixo preço e, assim, era tida como o grande motor da União Europeia.

O que mudou desde então?

Quase tudo. Menos o pensamento retrógrado e subserviente aos EUA. Várias condicionantes se conjugaram na década de 2020, pondo a nu a fragilidade dos modelos económicos alemão e europeu (demasiada dependência da energia russa), aliadas a decisões erradas dos órgãos comunitários como no ramo automóvel ou o não avanço na construção de mercados únicos (áreas financeira e energia designadamente) como bem apontam Draghi e Letta nos seus relatórios, a burocracia complexa em crescendo que emperra o regular funcionamento da máquina comunitária, atrasos tecnológicos, a falta de diplomacia internacional apropriada e, recentemente, as tarifas Trump, a que se submeteram sem resposta própria e dignidade, corroendo, tudo isto, ainda mais os alicerces da economia europeia.

E agora com Trump, a situação veio complicar-se ainda mais porque Trump privilegia os negócios querendo o fim da guerra a qualquer preço e a União Europeia desarticulada, decadente e sem rumo, vai flutuando, completamente aos papéis.

Tanto assim é que, no terreno, está a ser substituída por um Triunvirato (Macron, Merz e Starmer, primeiro-ministro inglês, que nem comunitário é). Não se percebe o rodopio de reuniões de capital em capital com Zelensky sempre atrás que, penso, já pouco neles “acredita”, mas não pode descolar.

Neste rodopio, a União Europeia “desapareceu”. Ursula von der Leyen e António Costa são, de vez em quando, convidados para o chá das cinco pelo referido Triunvirato. Os restantes países da União, uma vez ou outra, correm para umas pretensas reuniões que não levam a conclusões de jeito.

O Triunvirato teme ser marginalizado, posto de lado nas decisões sobre a guerra da Ucrânia. Daí a “coligação da boa vontade” andar sempre a girar, digamos, encenou em permanência a peça do “rodopio/corrupio”, infelizmente, com actores de péssimo desempenho. Aparece ainda a rebaixar o nível, o sr. Rutte da Nato, que mais não é que um pau mandado dos EUA. Fala grosso, tenta provocar alarme. Ninguém o leva a sério. Bem pode irmanar-se com a sra. Kallas, a comissária europeia das relações externas.

A acabar, bem andou o “Media” Político, que, neste Ocidente “zombi”, escolheu Trump, a personalidade mais importante da Europa, em 2025!

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