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segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

Tema proposto: "Compromisso partidário para evitar eleições antecipadas"


A escola educadora e transformadora não existe. Logo, o compromisso não pode existir.



Como pode haver compromisso se não estamos a educar para o rigor e a responsabilidade? O compromisso não se decreta, ele constrói-se, paulatinamente, na conjugação de princípios e de valores que a sociedade vai intuindo. Ora, falhando aí, não existe possibilidade de acordos políticos consistentes e portadores de futuro, quando se perdem referências essenciais, quando a família e a escola falham, quando se assiste a um contínuo resvalar das regras mais básicas do comportamento social, quando se perde o sentido que o exercício da política constitui um serviço público temporário à comunidade e não um interesse profissional e de vida. Os acordos tornam-se, assim, frágeis, pontuais, marginais e até inviáveis, quando não sobressai a formação básica mais elementar. Hoje, já não basta um aperto de mão para selar um compromisso.

A muitos custa dizer bom dia; obrigado; por favor ou retirar os olhos do computador quando se atende alguém. Ocupa-se todo o espaço de uma escada rolante, estaciona-se indevidamente e conduz-se sem respeito pelas regras e pela segurança. Escrever ou tecer comentários absolutamente insensatos e desprimorosos tornou-se normal, tal como ser agressivo, violento e grosseiro. Fugir aos impostos ou permitir que a corrupção se torne paisagem, vender, aos poucos, a honra, alimentando o chico-espertismo, o compadrio ou a existência de grupos favorecedores dos seus interesses, tornou-se uma tendência. Ora, quando isto acontece, a ausência dos valores mais básicos toma conta de tudo o resto. Torna-se rastilho.

Não se trata de uma percepção minha, mas de uma constatação, este evidente, contínuo e preocupante deslizar que perturba, como se a palavra educação no âmbito dos valores tenha, hoje, um novo significado. Atente-se no que visualizamos e escutamos nas confrangedoras "arenas" do debate político, os ares altivos, as ofensas dirigidas por palavras e gestos, onde é sensível a ausência de verdadeiros estadistas, daqueles que se preocupem com as gerações seguintes. Tudo gira em função do posicionamento ideológico, da preservação do lugar e da eleição seguinte.

No essencial, tudo aquilo que é básico acaba por estruturar a atitude e a forma como enfrentamos os processos, entre outros, os de natureza política. E o compromisso, note-se, não implica concordância, mas a inteligência que determina que nos acordos bem-sucedidos todos perdem para que todos possam ganhar. Falta essa cultura maior que a família, pouco exigente, genericamente, não dá e que o sistema educativo, intencionalmente, tem ignorado.


Vive-se, portanto, num círculo vicioso e pernicioso de causas multifactoriais. Transmitidas e degradadas de geração em geração, não apenas pelos avanços da tecnologia (redes sociais e outros), mas pelo quadro dramático que a escola configura, cada vez mais preocupada com o cumprimento dos currículos e dos extensos programas, de muitos conteúdos para esquecer, numa absurda política enciclopédica e de competição por notas, mas nada desenhada visando uma consistente formação do ser humano. E a formação é muito mais que responder de acordo com os manuais. Precisamos, portanto, de uma escola que privilegie o pensamento, o rigor, a responsabilidade individual e colectiva, a humildade, a solidariedade e o compromisso, que não tenha medo de falar de política, que combata as muitas iliteracias e que, neste contexto, saiba estruturar, em liberdade, o conhecimento compaginado com a vida em sociedade. Essa escola educadora e transformadora não existe. Logo, o compromisso não pode existir.

Os compromissos políticos, respeitadores das diferenças ideológicas, só serão possíveis quando a escola for cultura e expressão máxima da obra de construção do ser humano. Enquanto tiver uma raiz enciclopédica, os resultados serão os que as estatísticas e análises demonstram. O problema é que essa escola de cultura, rigor e responsabilidade ninguém a deseja inaugurar. Percebo. Por um lado, porque exige sabedoria e leva muito tempo a estruturá-la; por outro, porque o poder imediato e as suas teias constituem o “bloom” das suas vidas políticas.

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