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sábado, 15 de abril de 2023

Para onde caminhamos


Basta uma carta anónima, um habilidoso desvirtuamento dos factos, uma publicação e, de um momento para o outro, um sujeito vê a sua notoriedade, credibilidade e reputação mergulhadas no lamaçal. Não me refiro a pessoas e situações em curso nos tribunais, arguidos que são e que terão de justificar a sua total ou parcial inocência. Compete ao órgão de soberania condenar ou absolver. Refiro-me a outras situações que me causam repulsa.



É o caso do Dr. Carlos Pereira, Deputado na Assembleia da República. Foi um mero "avalista" perante a Caixa Geral de Depósitos, de um empréstimo a uma empresa; a empresa não conseguiu cumprir as obrigações contratualizadas; mais tarde, o "avalista" foi chamado a suportar os encargos; seguiu-se uma naturalíssima negociação entre as partes; a dívida foi paga e a Caixa Geral de Depósitos, finalmente, veio dizer que foi ressarcida do empréstimo feito e que não existiu qualquer perdão de dívida ou favorecimento. A considerar tudo o que li, não recai qualquer mancha sobre o "avalista". Mas não, é de nula importância o nome dos empresários, nem me interessa conhecer, mas, publicamente, afundaram o político a coberto do anonimato.

Mas voltemos ao início. Ser "avalista" constitui uma situação absolutamente natural e normal. O próprio governo regional é avalista e existe legislação sobre esta matéria. Daí as perguntas: para onde caminhamos? Quem o fez e com que intenção o fez? A alegada "denúncia" terá partido da Madeira, em ano de legislativas regionais? Não sei!

Não apreciei a posição do Presidente do PS-Madeira, Dr. Sérgio Gonçalves, porque, não se inteirando, enquadrou a situação que, em síntese, apenas denuncia que o PS continua a apregoar uma solidariedade para fora que não tem correspondência no interior da sua instituição política. Lamentável.

Junta-se a isto, indirectamente, a reunião com a CEO da TAP. Que eu saiba (e já foi confirmado) e porque participei em várias comissões de inquérito, é normal acontecerem encontros com as entidades visadas, para que os Deputados se inteirem e cruzem a informação disponível, solicitando-a ou apenas para questionar e escutar. Um Deputado não pode nem deve guiar-se pela comunicação social. Trata de aprofundar o conhecimento sobre uma dada matéria. Há quem não o faça e prefira ir pelos "casos do dia" do que é publicado. Depois, em sede de Comissão de Inquérito Parlamentar (CPI) a história é outra. Munido de dados o Deputado é capaz de ir ao fundo das questões, porque está municiado de informações fundamentais. Por outro lado, a tal reunião ocorreu três meses antes da Comissão de Inquérito. Nessa altura nem havia aprovação da CPI. E segundo se sabe tratou-se de uma reunião normal para a qual o Dr. Carlos Pereira foi convocado e a CEO da TAP participou porque assim entendeu. O grupo parlamentar do PS não a convidou muito menos o Deputado. Não se tratou de um qualquer ensaio para a audição e ela própria assumiu isso. Foi uma reunião para partilha de informação.

Sou Amigo do Dr. Carlos Pereira desde o tempo que trabalhámos juntos. É um Homem íntegro, um político de mão cheia, sou capaz de dizer que não vejo ninguém na Região com mais capacidade e sustentabilidade nas políticas económica e financeira. Ele sabe do que fala, é profundo, não diz disparates, não anda ao sabor dos interesses políticos de circunstância, não se esconde por detrás da sebe, antes fala cara na cara, estuda os dossiês como ninguém e tem um discurso fluente. Foi ele, recordo, que quando o governo regional apontava para uma dívida de 1 000 milhões, depois, a muito custo, 2 000 milhões, ele assumiu que a realidade era outra: 6,3 mil milhões. Caiu o "Carmo e a Trindade" e foi preciso o ex-Ministro das Finanças, Dr. Vítor Gaspar (PSD), confirmar e dizer que "a situação da Madeira era insustentável". Na sequência disso, com dados, escreveu o livro "A Herança - saiba como o governo da Madeira escondeu a dívida", onde em 316 páginas justificou, com dados oficiais o seu pensamento. Ninguém o contestou.

Preocupa-me o Amigo e a sua família e sobretudo esta mórbida vontade de espezinhar quem tem valor. Por aqui e um pouco por todo o lado. Há uma ânsia em afastar pessoas e esquece-se que, tarde ou cedo, tudo isto poderá ficar entregue à mediocridade. Não vou por aí. Quero ser governado pela competência e pela transparência.

Ilustração: Google Imagens

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