Vivemos em um mundo às avessas. Em tudo. Porque o dinheiro é rei: uns em luta pela sobrevivência no dia-a-dia; outros, escravizando em modo de tempos modernos, sofregamente, porque a lógica do sistema baseia-se em querer mais e muito mais. Vem isto a propósito do trabalho por objectivos.
Há dias, em uma grande superfície comercial, abeirei-me de uma daquelas ilhas que vendem produtos, eu diria, da época. Interessei-me e comprei. Lá pelo meio da transacção disse à simpática vendedora: parece que o negócio está fraco. Resposta: tem dias, uns melhores que outros. O problema é atingir os objectivos. Objectivos? questionei? Com um semblante alegre para com o cliente de circunstância, próprio de quem deseja vender o máximo, adiantou: para a semana tenho de chegar a (x vendas), porque de contrário perco o bónus e talvez mais do que isso.
Saí dali a pensar nesta história do trabalho por objectivos. Se calhar o mais correcto seria falar de ganhar por objectivos! E em um ápice lembrei-me da minha gestora de conta, já tem uns anos, que às nove e meia da manhã, à minha exclamação "pela sua cara, parece-me que isto hoje não vai bem". Não pode ir, foi a resposta, e continuou: entrei às 08:30, são nove e meia e já me perguntaram "o que já vendi hoje". Alguns anos mais tarde, todos viemos a conhecer a trama bancária desse e de outros bancos. Em síntese, exploração de uns para alimento, neste caso, de condenáveis interesses de uns quantos.
Do meu ponto de vista, a questão do trabalho por objectivos deve colocar-se ao nível empresarial em uma perspectiva macro. Isto é, em função do período anterior, a empresa x define, como objectivo, um crescimento de, por exemplo, 2%. Toda a estrutura organizacional, quero eu dizer, todos os seus colaboradores, animados de um sentido de pertença, deverão trabalhar no sentido da concretização daquele objectivo. Coisa bem diferente é, a um circunstancial colaborador, portanto, com um vínculo precário, dizer-lhe que tem de vender 300 caixas de um determinado produto na semana k. Sem publicidade de suporte, acrescento.
É panaceia do trabalho por objectivos que esmaga e que, muitas vezes se torna ridículo. Um dia, na minha escola, uma assistente operacional abeirou-se e pediu-me que a ajudasse a preencher um documento que tinha recebido. A páginas tantas o documento solicitava que definisse os objectivos a concretizar no ano seguinte. Porque está sujeita a uma avaliação para progredir na carreira, a senhora estava em pânico e disse-me: eu limpo o pavilhão e todas as instalações anexas uma vez por dia e dou assistência aos senhores professores, aliás, como está definido. O que acha, vou pôr aqui que passarei a limpar três vezes por dia? Pedi-lhe o papel, levei-o para casa, preenchi e, no dia seguinte acertámos os pormenores. Ela ficou feliz porque o tal papel, devidamente preenchido, ao querer dizer tudo, nada dizia, portanto, não a comprometia. Porque o seu trabalho era feito de forma exemplar.
Mas há quem diga que se não houver objectivos o pessoal não trabalha! São todos uns malandros, ouve-se amiúde. Não aceito este posicionamento, quando em causa está a estrutura organizacional e a criação de um verdadeiro sentido de pertença capaz de fazer atingir um objectivo desejado. A este propósito deixo aqui o endereço de um texto que publiquei, baseado na organização de uma empresa de sucesso.
Ilustração: Google Imagens.
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