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O “chavão” Energiewende não passou de uma moda perigosa, em profunda falência, mas que “afundou” a União Europeia, em especial, a Alemanha, devido ao seu perfil produtivo específico.
Energiewende é a denominação usada para identificar a “revolução da energia” na Alemanha. Esta “revolução” arrancou em força, a partir de 2000 com o governo do chanceler Schroder que incentivou e favoreceu o desenvolvimento das energias renováveis (eólica, solar, …), associadas ao gás natural, proveniente da Rússia, e tentou banir a energia nuclear, com o fecho da última central em 2023, reabrindo algumas a carvão em sua substituição.
Esta política, muito acarinhada pela Senhora Merkel, após 2011, tomou força pelos efeitos nefastos, nomeadamente o elevado número de mortes do Tsunami, em Fukushima/ Japão, transformado em grave acidente nuclear, hoje corrigido, pois os factos analisados vieram comprovar que os problemas com a central de produção de energia nuclear foram decorrentes do Tsunami e não consequência do funcionamento da central. Se, ali, estivesse outra unidade de produção energética, em vez da nuclear, as consequências teriam sido de natureza semelhante. Refira-se que o número de mortes atribuídas à central foi corrigido para zero, contrariando o que, então, diziam os antinuclear.
Este entusiasmo da Chancelar Merkel não se limitou apenas à Alemanha. Estendeu-se, ou melhor, impôs-se à União Europeia onde nenhum país escapou. Mesmo a França não ficou impune, tendo inclusive feito arrastar alguns dos seus governos (Lionel Jospin p.e.) a priorizar o investimento nas renováveis contra a matriz instalada de base nuclear. Macron, enquanto ministro da economia, entrou “na moda”, só corrigindo a rota, aquando da sua candidatura à Presidência da República.
A Alemanha serviu-se das ONG, para minar as estruturas e os meandros da União Europeia, no sentido da promoção das renováveis contra a nuclear. Muitas dessas estruturas, ainda hoje, continuam oleadas e a emperrar processos relativos à nuclear, apesar da Aliança Europeia Nuclear – o grupo de países que agrega mais de metade dos da União Europeia – defender que a nuclear é uma energia limpa, base de uma política energética soberana e, da própria União Europeia, a custo, ter reconhecido o contributo seguro da nuclear no consumo equilibrado, quer das pessoas, quer das empresas, quer ainda de uma maior prevenção contra os apagões.
Resumindo, o “chavão” Energiewende não passou de uma moda perigosa, em profunda falência, mas que “afundou” a União Europeia, em especial, a Alemanha, devido ao seu perfil produtivo específico, que nunca mais se segurou, desde que perdeu o acesso (contratado) que tinha ao abastecimento de gás russo, no decorrer da Guerra na Ucrânia (Fevereiro2022).
Em artigos de opinião, aqui divulgados, chamou-se a atenção para algumas ideias/causa da crise profunda (política e económica) que estava/está a corroer a União Europeia e, essa crise, cito: “pode levar a que, em 2050, represente apenas 15% do PIB real mundial contra 22,8% hoje, enquanto os EUA pouco mudarão, continuando em torno dos 35,4%. Estes valores constam de um livro conjunto de Patrick Artus, economista francês de renome e da jornalista Marie-Paule Virard, onde se admite que esta queda se deve a bloqueios estruturais existentes que é urgente ensaiar como os ultrapassar, sob pena da UE continuar em definhamento, a maior ou menor velocidade”.
Há um ano, Draghi acentuou que um dos grandes bloqueios do progresso é a energia que, dado o seu elevado custo, retira competitividade aos países da União Europeia, tornando-se urgente formular uma estratégia para remover “o alto custo da energia que se havia tornado o principal obstáculo da economia europeia”, obstáculo esse que se repercute, de forma desigual, consoante os países.
A “grande solução” por parte da União Europeia foi acomodar o relatório de Draghi, bem no fundo da gaveta e [continuar a viver “num mundo de fantasias”, estabelecendo metas intangíveis, sem antes ter preparado “as ferramentas” para enfrentar o novo mundo decorrente da necessária transição energética e da redução das emissões de gases com efeito de estufa – como se disse em outro escrito].
O novo Pacto Verde e propostas da União Europeia levadas à COP30 em Belém no Brasil, recentemente realizada, são bem exemplos desse “lirismo”. Pretender estar na vanguarda do combate às energias fósseis, continuando a investir nelas é um contrassenso. Mas é o que acontece na Alemanha que tem uma linha de investimento para centrais a gás para equilibrar a intermitência das energias solar e eólica.
A Alemanha
Os preços da electricidade na Alemanha mais que duplicaram nos últimos anos. Em Outubro (2025) atingiu mesmo, em média, o preço mais elevado da Europa.
Comparando a França com a Alemanha, em termos de preço, temos: €40,35 por MWh na Alemanha contra €25,24 em França (cerca de 60% mais elevado). Face aos EUA e China, em média, é o triplo. Como competir em indústrias electro intensivas com estas disparidades?!
Sendo a energia um dos factores críticos da competitividade europeia, difícil se torna carregar mais no botão! Ou se muda ou se afunda. Não se auguram bons percursos para a energia na União Europeia. O desentendimento continua muito forte entre os países por divergências de interesses entre lóbis que funcionam nos meandros das máquinas europeias. E, por correlação, a perda de competitividade continuará por muito tempo e a desindustrialização é uma saga.
Subsidiação à electricidade
Perante a desindustrialização continuada, perante centenas de milhares de cortes no emprego em sectores industriais, perante deslocalizações e encerramento de empresas, sobretudo nas áreas da química, metalurgia e electromecânica, o governo alemão decidiu tomar medidas de emergência para tentar “restaurar” a competitividade de suas empresas.
Essas medidas traduzem-se numa elevada subsidiação às tarifas da electricidade, orientadas para os grupos industriais. Segundo li, nos Media da especialidade, o governo do chanceler Friedrich Merz anunciou em finais de Outubro a introdução de uma tarifa de eletricidade fortemente subsidiada para os fabricantes. A medida, que não passa de um paliativo, deverá traduzir-se num montante da ordem de €3 mil milhões a €5 mil milhões por ano. Merz acrescentou ainda que “as discussões com a Comissão Europeia estão em grande parte encerradas“.
É de perguntar: quanto tempo durarão estes subsídios? Porque não se encontrou referência a medidas que poderão corrigir a situação para a retirada dos subsídios.
Tudo isto prova que a Energiewende faliu. A situação em nada está diferente de quando arrancou. O enquadramento europeu mudou e tudo ficou na mesma. Medidas como as sanções económicas só aprofundaram a situação.
O que vai a União Europeia oferecer?
O seu novo Pacto Verde, que continuará a aumentar os preços da energia. Não sou eu a dizê-lo, mas especialistas europeus. “O próximo passo, que promete ser perigoso, é a entrada em vigor, adiada de 2026 para 2027, do novo sistema europeu de permissões negociáveis. Uma verdadeira bomba-relógio. Isso resultará num aumento vertiginoso dos custos de energia para as pessoas e empresas. Trata-se de fornecedores de energia comprarem permissões no mercado de carbono que lhes permitam ir além da redução de emissões imposta pela Comissão Europeia”.
Com remendos que nem chegam a ser, nunca mais construiremos uma política de energia sustentável, base de uma competitividade a sério a contribuir para a criação de riqueza e bem-estar das pessoas europeias.
Esta União Europeia, cada vez mais em perda, caminha para onde?
