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quinta-feira, 1 de junho de 2017

OS EMIGRANTES MADEIRENSES NA VENEZUELA NÃO COMEM NEM CURAM MALEITAS COM PALAVRAS DE SOLIDARIEDADE


Constrangem-me e decepcionam-me as atitudes políticas que não transportam qualquer coisa significativa. O Dr. Sérgio Marques, secretário regional dos Assuntos Parlamentares da Madeira, em visita à Venezuela, repetidamente, disse que a razão da sua visita "(...) não é vir aqui descortinar soluções para a crise política (óbvio) é pelo contrário exprimir um sinal claro de solidariedade com a nossa comunidade" (...) "Não a abandonamos (comunidade). São madeirenses, independentemente do sítio onde estejam a viver e, portanto, é também essa mensagem que quero transmitir com a minha vinda cá". Ora, os emigrantes madeirenses não comem, tampouco adquirem medicamentos com a solidariedade manifestada através de palavras. A solidariedade deve materializar-se com factos e não com acenos de simpatia que por aí ficam. E sendo assim, os que vivem dolorosos momentos necessitam de uma solidariedade consubstanciada em alguma coisa, por pequena que seja, mas que atenue a dor. Já explicito melhor.


Não é necessário ir à Venezuela para saber que "a situação se degradou bastante nestes meses que medeiam entre a minha anterior visita (Julho de 2016) e esta que está a ocorrer neste momento" (...) que "a situação está a degradar-se, acentuadamente, e é cada vez mais preocupante, até porque não descortinamos uma saída para esta crise política, social, económica, muito profunda em que a Venezuela está a mergulhar e que afecta, obviamente, tremendamente, a nossa comunidade". Declarações deste teor constituem, apenas, paleio político que nada acrescentam. Basta seguir os meios de comunicação social, as imagens dos confrontos na rua, as dezenas de mortos, os assaltos, as declarações da besta que governa, as manifestações aqui no Funchal, as inscrições no centro de emprego, o número de crianças que passaram a integrar as escolas, para percebermos, rapidamente, que o quadro é dramático. Ora, a solidariedade não pode ser concretizada ao jeito de quem se cruza com um faminto e que lhe diz: tenha paciência. A solidariedade materializa-se, neste caso, procurando, através dos canais institucionais, desde secretaria de Estado à Embaixada e Consulados, passando pelo vasto associativismo, de forma oficialmente articulada e fiscalizada, fazendo chegar, prioritariamente, medicamentos e alimentos. Bastaria meter mãos à obra. Ou por via do orçamento regional ou pela sempre pronta disponibilidade do nosso povo, tantas vezes já demonstrada em variadíssimas situações de aflição. Mais, ainda, através da contribuição daqueles que tanto ganharam e enriqueceram com as obras realizadas na Madeira. 
Sei quanto pode custar um contentor de medicamentos ou um contentor de alimentos, incluindo o respectivo transporte. Que raio de governo que não encontra soluções? A solidariedade assente em palavras não funciona. Prestar solidariedade dá muito trabalho, mas é preciso fazê-la funcionar. Por outro lado, a secretária da Inclusão e Assuntos Sociais apregoou que a Segurança Social já atribuiu a regressados da Venezuela cerca de € 100.000,00, mas não ficou claro se a verba saiu da Segurança Social que é NACIONAL ou do orçamento regional! No primeiro caso, no quadro autonómico, chama-se a isso cumprimentar com o chapéu alheio. E o drama dos que lá ficaram?
Deixo um exemplo de solidariedade efectiva relembrando o desastre que varreu Vargas e que sepultou centenas nos anos 90. Uma semana depois, um representante do grupo parlamentar do PS-Madeira na Assembleia Legislativa da Madeira esteve em Caracas e junto do Padre Alexandre Mendonça, entregou três mil contos para atender à situação dos madeirenses afectados. O saldo da conta do grupo parlamentar ficou a zero, mas prestou-se solidariedade. Mais tarde, quando tantos falavam do carenciado ensino da Língua Portuguesa, sei que foram remetidas centenas de livros escolares, para todos os graus de ensino, para colégios e associações que transmitiam o ensino da nossa língua e cultura. Prestou-se solidariedade. Porque a solidariedade não pode ser uma mão cheia de NADA e a maioria dos que emigraram não são ricos. 
Ilustração: Google Imagens.

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