Publicado no blogue "O Banquete da Palavra"
2018-2019
A canga é grande de ano para ano. 2017, carregou 2018, este vai enfiar o barrete a 2019 e este também não vai fugir à regra e não terá também tempo suficiente para não sobrecarregar 2020. É assim ano após ano. Estupidamente interminável. Porque nunca será mais foguete ou menos foguete de artifício que vir a pôr cobro a esta fatalidade.
Se eu fosse o ano novo não aceitava senão coisas novas. Porém, felizmente, eu não sou o ano novo e não tenho o poder da solução para todos os problemas. Mas garanto que se eu fosse o ano novo, o ano velho piava baixinho e não me entregaria a carga de problemas velhos, que ele não encontrou tempo e vontade para solucionar.
Para muita boa gente o ainda saudoso Santo Papa João Paulo II, dizia o seguinte, provavelmente, num daqueles momentos de boa disposição, que também o caraterizava: «a estupidez também é um presente de Deus, mas não se pode abusar». Este prisma, que nos inspira sobremaneira, podemos aferir que muitos dos problemas derivam precisamente do abuso na prática da estupidez. Vejamos então…
- A guerra e todo o género de violências físicas e psicológicas que comandam o nosso quotidiano são estupidez (falo das guerras grandes feitas entre os estados, que derivam do negócio das armas que deliciam os capitalistas e os governantes do mundo inteiro, mas também falo daquela violência quotidiana das nossas casas, por exemplo, a disparatada e muito estúpida violência doméstica).
- As desigualdades ou a falta de equidade neste mundo é uma crua estupidez que alimenta o egoísmo e a maldade humana.
- A destruição do nosso serviço de saúde é o máximo da estupidez quando sabemos à partida que todos mais tarde ou mais cedo necessitarão de cuidados de saúde. A politiquice que o norteia também nos envergonha e o muito malabarismo para justifica o injustificável não nos ludibria.
- A irresponsabilidade dos governos que nós temos são a face visível da estupidez quando abusada, porque governam em função de interesses mesquinhos de alguns grupos económicos ou amigos do partido a que pertencem, mesmo que isso hipoteque a vida de toda a sociedade e das gerações vindouras. E a estupidez é tanta que não olha à destruição da «nossa casa comum», a nossa «mãe terra». Mais ainda quando tudo isso implica altos custos para o erário público, sobrecarregando todos os cidadãos com impostos que levam ao sofrimento à morte.
- A estupidez é ainda desmedida perante a bênção dos poderes que se acasalam pornograficamente para conseguirem os seus intentos mesquinhos. Para isso não falta água benta para lavar as vergonhosas «uniões de fato», que a este nível os poderes justificam na troca de favores mútuos. Resta a caridade que alimenta os pobres ainda a serem mais pobres ou então dependentes do beija mão senhorial desta sociedade obcecada por mordomias exclusivamente para alguns, aqueles que tiveram mais certo.
- A fome pelos tachos agudiza-se ano novo adentro. Um problema velho, mas que o famigerado ano de 2019, sobrecarregará devido à abundância de eleições. Já vemos a estupidez a marcar passo em função desse eldorado do emprego para os incompetentes, os lambe botas do costume que até venderão a alma se para tal for necessário, mesmo até antes de terem vendido a sua progenitora.
- A beatice patética perdurará ano novo adentro, qual problema velho, que se alimenta estupidamente do fundamentalismo, do anacronismo, da hipocrisia para combater quem eventualmente lembre que precisamos de respostas novas para os problemas sempre novos que todos os dias a diversificada humanidade coloca diante dos olhos. O Papa Francisco deve saber bem do que falo!
- A estupidez não terá limites na aplicação das leis e dos critérios para ajuizar e agir perante cada uma das pessoas. Porque, problema sobejamente velho, é que uns são filhos de Deus e outros, mesmo que esperneiem serão sempre filhos da outra... Enfim, as discrepâncias continuarão a existir, uns a acreditar que Maria de Nazaré é Virgem espiritualmente e fisicamente. Mas pode haver que alguns, mesmo assim, duvidem, mas logo serão metidos na ordem, porque o santo dogma do discurso não pode ser violado, a santa tradição não tolera inteligência e a ousada da criatividade. A abusada estupidez não tolera que os contextos tragam também sinais de Deus nos tempos que correm, Deus é estático, a acção de Deus não muda… Ah, perversa estupidez!
Enfim, a lista poderia ainda ser mais preenchida. Mas fiquemos com estes elementos, só para vermos como a passagem de um ano para o outro vem carregada de sofrimento para quem vem. Lutemos, para que o ano de 2019 seja bom.
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