Adsense

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Afinal, o que é que os distingue?


A situação política do CDS/PP Madeira, se já de si era menos confortável por alguma crispação interna, com a integração no governo da região tornou-se complexa. Eu diria muito complexa. Se, no plano da estrutura, com bom senso e diálogo, penso eu, por experiência, mor das vezes é possível o entendimento, já no plano do governo a coisa fica mais nebulosa. Desde logo porque não é fácil gerir tudo quanto foi dito contra a governação do PSD e esquecer tantas ofensas pessoais ao longo dos anos, algumas muito graves, e agora ser obrigado a voar muito rente ao solo, dizendo sim ao que outrora era motivo de sérias acusações políticas; depois, se os actos de governo não decorrerem bem, pode acentuar-se a impaciência interna com as consequências que sempre estão associadas. As migalhas distribuídas e a integração de umas quantas propostas no programa e no orçamento, servirão, apenas, para manter serena a coligação sob a égide de um PSD, também ele em clara quebra de popularidade. Aliás, desde  a tomada de posse que é este o sentimento que emana para o cidadão. 

Até o Presidente do PSD já coloca o polegar como símbolo do CDS!

O CDS/PP Madeira, parece-me, que não percebeu a cilada e caiu. O PSD, com a experiência e a paciência de quarenta anos, permitam-me a expressão, a experiência de "virar frangos", nesta fase de deslumbramento, controla-o com mestria. No governo admitiu dois à mercê de nove e, no parlamento, deixou-o amarrado através do presente envenenado da presidência. Como se isto não bastasse, o PSD nas recentes jornadas do seu grupo parlamentar, chamou-os para o seu espaço de debate político, comprometendo-o. Politicamente, tratou-se de uma situação só explicável à luz de interesses escondidos na manga. Não tem outra explicação, deduzo.

O PSD, matreiramente, está a fazer o embrulho, anda a envolver o parceiro de coligação em celofane e já tem um laço pronto do tamanho da Região. A voz da discordância apagou-se, o discurso da alternativa de poder emudeceu, a mudez nos temas políticos mais gravosos da Região constituirá, certamente, um facto, portanto, o CDS/PP ou ficará diluído na corrente social-democrata ou qualquer afirmação distintiva, segundo os princípios da democracia-cristã, gerará um insanável conflito no seio do partido e da coligação. 

Do meu ponto de vista seria absolutamente aceitável, porque democrático no quadro político da direita, um acordo de incidência parlamentar como tem vindo a acontecer com os governos do Dr. António Costa: primeiro, com um acordo de princípio, agora, através de negociações sectoriais. Nestas circunstâncias, na Madeira, o PSD deveria estar a governar só, com um governo minoritário, o que libertaria o CDS para uma continuada e saudável oposição. Isto obrigaria o governo PSD a ter de negociar todas as suas propostas em sede de parlamento. Seria bom para a Madeira e, no caso em apreço, para o próprio CDS/PP. A opção foi outra, os dias passam-se, e cada vez é mais sensível que os "dinossauros" tomarão conta do espaço político. E se as autárquicas decorrerem mal, presumo, adeus CDS/PP e, talvez, adeus coligação. As culpas por eventuais resultados negativos dificilmente serão divididas. E isso é bem possível que aconteça, a avaliar pela maturidade da população que já denunciou que sabe ler o jogo e sabe quem deseja na Assembleia Municipal, na Câmara, nas Juntas e nas Assembleias de Freguesia. 
Ora, este joguinho político, desenvolvido debaixo dos olhos dos eleitores, é insustentável. Enquanto o PSD, creio, mais cedo que tarde, perderá o poder por esgotamento, o CDS, convicto estou, com esta sua estratégia tendencialmente suicida, pode apagar-se por muitos anos. Se a queda já era evidente nos planos nacional e regional, doravante, porque integra o governo, corre o risco de ser levado na corrente do descontentamento eleitoral. Nestas circunstâncias, parece-me óbvio, crescerão de tom as vozes internas e a travessia do deserto será penosa. A ver vamos. Para já, há um provérbio português que anuncia: "Raposa matreira não fará besteira".
Ilustração: Google Imagens.

Sem comentários: