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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

António Trancoso - Um livro, uma história de vida

 

Acabo de ler o livro do meu Amigo Dr. António Trancoso com o título de capa Se não tivesse sido assim... Uma deliciosa história de vida, desde o nascimento até ao seu "quadro de honra" que ostenta, neste momento, 4x20! É obra. São oitenta anos de história pessoal com muitas e muitas peripécias que me levam a concluir que só poderia ter sido assim. Porque, conhecendo-o há muitos anos, nunca nele vi o Homem portador de uma coluna de plasticina. Foi inteiro, foi ele próprio. E pagou por isso, só que a consciência tranquiliza-o e transmite-lhe, estou certo, que voltaria a viver os mesmos momentos, onde se misturaram a irreverência com o sentido de justiça.



Fui lendo e lendo páginas de um tempo marcado por uma insana obediência a valores políticos, educativos (nos Pupilos e na Academia Militar) e sociais que nem faziam sequer sentido  na esfera da disciplina militar, tempos marcados, também, por uma massacrante pobreza (os Senhores e os outros), mas onde, apesar de tudo, fica indisfarçável o amor de António Trancoso pelos Pupilos do Exército.

Tempos, como também assinala, de "covardia" e de "maldade", acompanhados de uma perceptível insensibilidade para alguns senhores perceberem que a "disciplina conquista-se pela compreensão das pessoas" - disse-me, em 1973, um Brigadeiro no decorrer da guerra na Guiné-Bissau. E assim, António Trancoso e outros camaradas de curso tiveram de abandonar a Academia Militar a poucos meses de terminarem o curso. A quantos, pergunta, "filhos e afilhados" foram "perdoadas" as tropelias da idade? E diz bem, recordando o Cardeal de Retz: "Quando os que mandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito". É isso. É o caso daquele comandante, certamente um exemplar aluno da Academia, mas que nas suas altas funções em Moçambique comprou "manilhas de esgoto", quando outras foram as aquisições para satisfazer interesses pessoais. António Trancoso relata o episódio, a trafulhice acompanhada da ameaça de 15 dias de prisão senão as mandasse pagar! Ao falar de manilhas, creia António Trancoso, que me assaltou o "esgoto" de tantas situações. Enfim...

A páginas tantas acabei por recuar no tempo, aquando da sua descrição no "paraíso de Macaloge" em Moçambique, para onde foi destacado na estúpida guerra colonial. Algumas passagens permitiram-me trazer à memória a constrangedora Guilége (Guiné-Bissau), por onde passei e onde nada existia, ou melhor, apenas o medo de não regressar. Trancoso conta as peripécias de uma guerra criada "por um regime deliberadamente criminoso" onde narra uma série de episódios de sacrifício e morte.

Depois, o regresso, a docência e a análise ao exercício da política, onde escalpeliza inúmeras situações de "lucrativos negócios e de rendosos lugares", da participação da Igreja, situações que deixaram um rasto de milhares de milhões ainda em pagamento e subtis perseguições que, ainda hoje, marcam um certo medo ou receio das represálias do poder.

Caríssimo Amigo e Colega António Trancoso, este seu testemunho contado na primeira pessoa, deu-me prazer em toda a extensão das 264 páginas de leitura. Apenas junto um pormenor: o facto de me ter sido grato recordar o Professor Capitão Robalo Gouveia de quem também fui aluno, pela sua exigência, rigor e mestria na arte de formar ginastas.

Parabéns Amigo Trancoso.

Ilustração: Fotos publicadas no livro.

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