Não basta dizer que "perante as imagens de sofrimento, o discípulo de Cristo não pode ficar insensível ou indiferente. É necessário, pois, cultivar um coração compassivo, sensível à dos que sofrem". Pois, Senhor Bispo, esse sentimento é o que milhares têm e defendem, mas que resolve? Resolverá alguma coisa? Ora, o Bispo sabe, ora se sabe, que isto não vai com "compaixão", com um sentimento de pesar que nos causam os males alheios, isto vai com atitudes certas de quem tem o poder político nas mãos. Resolve-se com posições firmes, consistentes, humanistas e de respeito pelas prioridades. Porque o meu coração "não é insensível em face dos problemas dos outros" é que escrevo e tento denunciar a pouca-vergonha. Mas eu não tenho púlpito, eu não tenho a chefia da Diocese, eu não possuo a força de uma rede hierárquica capaz de colocar em sentido os responsáveis pelos dramas humanos. E o Senhor Bispo do Funchal, que não deve ser partidário, tem o dever de "(...) ajudar as pessoas a perceberem que elas podem fazer mais do que acham que podem", todavia no sentido da luta pela sua dignidade e não no sentido que deduzi das palavras ditas. Senhor Bispo, com toda a sinceridade, mude o seu discurso, claramente, por omissão, mais partidário do que assente na Palavra de Cristo. Enfrente a realidade e seja VERDADEIRO. É a única coisa que lhe peço, enquanto cristão.
Reflecti se deveria ou não escrever em clara oposição ao que li. Decidi que a solenidade destes dias não me impedia de ter uma opinião contra o essencial da homilia de ontem do Senhor Bispo do Funchal. Irritou-me aquela lengalenga, por si só repetitiva, porque a par dos elementos da História milenar, não consegue dar um passo em frente devidamente contextualizado com a realidade. O tempo de sofrimento não é o de há dois mil anos. Ficou o exemplo. Hoje, desse exemplo e dessa Palavra, urge partir, chamando os bois pelo nomes, partir para um espaço de intervenção directa, frontal e correctora dos desequilíbrios geradores de "sofrimento". Ao Bispo, essa reserva que os cristãos podem(iam) ter nesta Região de senhorios, pede-se frontalidade e não subserviência, pedem-se contributos e não palavras para um peditório que todos nós já demos e continuamos a dar. Não basta dizer que "perante as imagens de sofrimento, o discípulo de Cristo não pode ficar insensível ou indiferente. É necessário, pois, cultivar um coração compassivo, sensível à dos que sofrem", disse. Pois, Senhor Bispo, esse sentimento é o que milhares têm e defendem, mas que resolve? Resolverá alguma coisa? Ora, o Bispo sabe, ora se sabe, que isto não vai com "compaixão", com um sentimento de pesar que nos causam os males alheios, isto vai com atitudes certas de quem tem o poder político nas mãos. Como salientou o Bispo, "(...) nos caminhos deste mundo, são muitos ainda aqueles que experimentam ao vivo os sofrimentos de Jesus e solicitam a nossa solidariedade, atenção e amor concreto". Pois, é isso que muitos milhares sentem e oferecem, mas isto não se resolve com caridade. Resolve-se com posições firmes, consistentes, humanistas e de respeito pelas prioridades. Porque o meu coração "não é insensível em face dos problemas dos outros" é que escrevo e tento denunciar a pouca-vergonha. Mas eu não tenho púlpito, eu não tenho a chefia da Diocese, eu não possuo a força de uma rede hierárquica capaz de colocar em sentido os responsáveis pelos dramas humanos. E o Senhor Bispo do Funchal, que não deve ser partidário, tem o dever de "(...) ajudar as pessoas a perceberem que elas podem fazer mais do que acham que podem", todavia no sentido da luta pela sua dignidade e não no sentido que deduzi das palavras ditas.
As pessoas, Senhor Bispo, não resolvem o problema do desemprego, elas estão atadas, metidas numa camisa de forças, tal como vi e ouvi um homem com as lágrimas nos olhos, numa recente manifestação de trabalhadores dos estaleiros navais de Viana do Castelo: "eu, com o meu trabalho, com o meu suor, consegui dar formação a uma filha; custa-me dizer a uma outra que não pode continuar porque não tenho dinheiro!" As pessoas, Senhor Bispo, amarradas a um sistema que as conduz, inevitavelmente, ao "sofrimento" sabem que os responsáveis por esse sofrimento estão a montante, estão na governação, uns há dois anos, outros há 37! As pessoas sabem que existem directórios europeus e mundiais que as condenaram ao sofrimento, em função da ganância e da especulação. É contra esses, Senhor Bispo, que deve um olhar felino e uma palavra cáustica.
Ainda hoje, quando li as palavras do Senhor Bispo, cruzei-as com as do médico psiquiatra Ricardo Alves. Está lá escarrapachado que as pessoas estão em pânico, estão deprimidas e estão em desespero: "(...) este clima de austeridade forçada, de insegurança, leva muitas famílias - mais das classes médias e até altas, que tinham um determinado estatuto e um determinado padrão de vida, e têm que se adaptar forçosamente a um novo estatuto - a algum grau de desespero e, posteriormente, a desesperança, e muitas vezes as pessoas refugiam-se, inclusivamente, no abuso solitário, nomeadamente de bebidas alcoólicas, assim como de outras substâncias e aí podemos abordar cannabis e, claro, também de psicofármacos" (...) "as "perturbações de ansiedade estão a aumentar bastante." Este trabalho de Jornalista Sílvia Ornelas (DN-Madeira) tem o mérito de ter sido muito mais importante que a homilia do Senhor Bispo D. António Carrilho. O médico Dr. Ricardo Alves, não se colocou com reservas, disse a verdade, contextualizou, chamou a atenção e para quem é minimamente atento, percebeu que a "austeridade forçada" existe por culpa de políticos que a Igreja não afronta. São esses que estão na origem deste desastre social. E agora pergunto: como podem ter um "coração compassivo" os 25.000 que estão desempregados, as centenas que passam fome, os empresários desesperados, as crianças sem futuro e os idosos jogados a um canto?
Senhor Bispo, com toda a sinceridade, mude o seu discurso, claramente, por omissão, mais partidário do que assente na Palavra de Cristo. Enfrente a realidade e seja VERDADEIRO. É a única coisa que lhe peço, enquanto cristão.
Ilustração: Google Imagens e DN-Madeira.
1 comentário:
Caro André Escórcio
Se a Igreja Católica está assim tão preocupada com a miséria, que trate de declarar os rendimentos e pagar os impostos como toda a gente. Estou certo que seria uma boa ajuda para sairmos da crise.
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