Interessa-me q.b. a história da tomada de posse de "sua excelência" Trump. Os americanos que o carreguem. Se lhes deram uma maioria em todos os patamares dessa espécie de "democracia", na dita pátria das liberdades que, pressupostamente, garante a viabilização de "sonhos", que convivam com as suas políticas e se amanhem.
Aliás, ele está para ali a falar enquanto digito o meu pensamento. Palavras e posicionamentos que, de tanto repetidas, sei-as e domino-as de cor.
O que me preocupa, isso sim, é o "trumpismo", o "bolsonarismo", o "orbanismo", o "mileinismo", o "melonismo", entre uma série de tantos outros que por aí andam a brincar com a humildade e a tolerância dos povos. Preocupa-me enquanto movimento político, tendencialmente global, que estende tentáculos por todo o lado e cujo fim último é o controlo absoluto das sociedades. Preocupam-me as doutrinas deles saídas, situadas no espaço extremo-direitista, que buscam na insatisfação dos povos o alimento necessário para fortalecerem as suas riquezas, algumas assustadoramente pornográficas. Preocupam-me, por essa via, o cada vez maior desequilíbrio patente na humanidade, fruto do avassalador pensamento económico vigente, onde poucos dão conta do precipício, montado de forma paulatina e inteligente, de acordo com os interesses que caracterizam o que demais negativo tem o populismo enquanto corrente teórica. Preocupam-me, também, os sistemas políticos de poder rigorosamente nada democrático, as guerras de maior ou menor escala concebidas por tresloucados actos expansionistas e/ou geoestratégicos. Entre uns e outros que venha o diabo e escolha.
Para quê tudo isto, questiono-me, esta louca e esbanjadora corrida ao armamento arrasador de tudo, de pessoas e bens, para quê esta economia de guerra, esta aflição permanente onde se incorporam todo o tipo de desesperos, a pobreza extrema, fome, desesperança, eu sei lá sobre a infindável lista de desilusões e incapacidades para tornar a vida humana minimamente decente.
Registei, em Novembro passado, num estudo da Hellosafe, que 10% dos mais ricos controlavam 76% da riqueza mundial e 50% dos mais pobres ficam com 2%. Segundo a Oxfam, em 2024, a riqueza combinada dos multimilionários, "aumentou, por dia, dois biliões de dólares (1,94 biliões de euros , o equivalente a 5,7 mil milhões de dólares (55,4 mil milhões de euros)". Isto é, três vezes superior ao ano anterior, o que levou aquela organização não-governamental a titular, no relatório apresentado em Davos, "A pilhagem continua". "Em 2024, havia em todo o mundo 2.769 multimilionários, em vez de 2.565 no ano anterior, e a sua riqueza combinada aumentou de 13 para 15 biliões de dólares (12,6 para 14,5 biliões de euros) em apenas 12 meses". Como e à custa de quê e de quem?
O que isto significa é que esta conjugada e intencional estrutura do poder económico está nas tintas para o Artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos do Homem: "todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos". Culpados: primeiro, genericamente, os povos, na sua crónica incapacidade de ver longe e de, talvez por isso mesmo, ser presa fácil de quem os manobra à descarada e distribui migalhas; depois, a abdicação (e venda) por parte dos poderes instituídos, governamentais e partidários, na regulação de tudo quanto se manifeste desadequado; finalmente, uma mentalidade, para mim absurda, em gerar riquezas quase incalculáveis, quando para ser feliz nesta tão curta vida, não são necessários milhões. A ambição é salutar, obviamente, mas sempre com o sentido da medida.
A edição de hoje do "Público, assinado por
Amílcar Correia e
Nuno A. Coelho, é muito clara:
"Trump e os mais ricos do mundo tomam posse dos Estados Unidos. Fortunas, donativos e conflitos de interesse. Donald Trump regressa a Washington com um elenco governativo sem paralelo na história norte-americana, com uma dezena de figuras no seu interior ou órbita imediata com mais de mil milhões de dólares em activo. À cabeça, Elon Musk. O homem mais rico do mundo, com uma fortuna estimada em 450 mil milhões de dólares, não integra formalmente a próxima Administração Trump mas terá a cargo um ambicioso projecto de reforma do Estado, acesso aos vários departamentos governativos e um gabinete nas imediações da Casa Branca".Para o futuro fica a imprevisibilidade do novo inquilino da "Sala Oval". Para já, não deixa de ser preocupante que nenhum alto representante da União Europeia tivesse sido convidado para a cerimónia. Trata-se de um indicador muito importante.
Retive do seu discurso, aqui e ali, lido com pezinhos de lã: "A idade de ouro da América começa agora mesmo" (...) Vamos ser uma nação como nenhuma outra, cheia de compaixão, coragem e excepcionalismo. Vamos ser prósperos, orgulhosos, fortes, e vamos ganhar como nunca ganhámos antes" (...) "A partir de hoje, será política oficial do governo dos Estados Unidos que existam apenas dois géneros: masculino e feminino e os militares que não quiseram tomar a vacina da covid-19 podem voltar ao serviço" (...) assegurou, também, que os EUA não vão deixar de usar combustíveis fósseis, pelo contrário". Tudo isto envolto em papel religioso: "Fui salvo por Deus para tornar a governar os EUA". Como disse o comentador José Milhazes, este discurso é preocupante porque se compagina com o de Putin! De facto, nem uma palavra sobre a Ucrânia. Ou, como comentou Clara Ferreira Alves, Trump discursou como um "evangelista iluminado".
Aceito que alguém ainda confira o benefício da dúvida. Não a concedo, porque andam, todos juntos, nos vários tabuleiros políticos, numa cruzada pelo domínio e espezinhamento dos povos! O ano de 2025 parece-me que tem tudo para ser muito complexo. Veremos.
Ilustração: Google Imagens.
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