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Economista
1. Os EUA são um grande consumidor de energias, ocupando desde há décadas o primeiro lugar mundial. Para além de maior consumidor, ocupa a primeira posição mundial na produção de petróleo e gás, sobretudo a partir do fracking – uma técnica de exploração de recursos minerais de elevado risco ambiental e geológico (contamina os lençóis freáticos, liberta elevado CO2 e consome muita água), o segundo lugar no carvão embora em perda relativa e uma elevada posição como produtor de energia nuclear e de renováveis. O “mix” produtivo apresenta um certo equilíbrio a nível federal, embora muito desigual consoante os Estados, devido a factores específicos locais e a opções diferentes de políticas energéticas.
A União Europeia sai destas políticas de Trump maltratada, por sua culpa, e só tem uma saída: apostar seriamente em ser autónoma. Para Trump, a UE não é um aliado, mas um cliente.
1. Os EUA são um grande consumidor de energias, ocupando desde há décadas o primeiro lugar mundial. Para além de maior consumidor, ocupa a primeira posição mundial na produção de petróleo e gás, sobretudo a partir do fracking – uma técnica de exploração de recursos minerais de elevado risco ambiental e geológico (contamina os lençóis freáticos, liberta elevado CO2 e consome muita água), o segundo lugar no carvão embora em perda relativa e uma elevada posição como produtor de energia nuclear e de renováveis. O “mix” produtivo apresenta um certo equilíbrio a nível federal, embora muito desigual consoante os Estados, devido a factores específicos locais e a opções diferentes de políticas energéticas.
O que Trump2 vai “acrescentar”?
2. Trump, no seu discurso de tomada de posse, veio declarar uma emergência nacional no campo da energia, o que abre as portas à intervenção nos seus vários domínios. Na produção para privilegiar esta ou aquela fonte que na sua lógica traga poder aos EUA, nas infraestruturas para avançar com novos terminais de exportação de GNL, no financiamento, para anunciar a redução de apoios à aquisição de veículos eléctricos e da subsidiação ao Investimento (sem contrariar os interesses de Musk), desferindo ainda um grande golpe na transição energética com a decisão de saída do Acordo de Paris.
Assim, reverte as políticas de descarbonização de Biden, embora muito incipientes e contraditórias por vezes, avançando com as perfurações na prospecção de recursos no mar litoral que estavam suspensas e no desenvolvimento do gás e petróleo de xisto. Aliás, nomeou para Secretário de Estado da Energia, Chris Wright, um empresário muito conhecido na defesa das energias fósseis. “As energias fósseis não estão na moda”, uma frase de Chris Wright que caracteriza bem o seu perfil. Deve saber do que fala, pois é um grande construtor de equipamentos para as energias fósseis e, em especial, para o fracking (exploração de petróleo e gás de xisto).
Mas retomando a sua frase, diz que não partilha o desinteresse dos investidores e que será sua missão como Secretário de Estado da Energia colocar as novas tecnologias ao serviço do aumento da disponibilização de recursos energéticos fósseis (petróleo, gás, carvão…).
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Para Trump2, a aposta na energia é necessariamente um imperativo que decorre da vontade dos grandes magnatas do seu séquito, nomeadamente os dos grupos tecnológicos, ligados ao digital e à IA, cada vez mais sedentos de electricidade.
A procura de eletricidade (e também da água) está a crescer no Mundo de forma “estonteante”, decorrente do consumo que as actividades da IA (Data Centers) em expansão requerem.
No discurso de abertura não ficou clarificada a visão de Trump sobre a nuclear, enquanto sobre as renováveis, a redução sobretudo nas eólicas offshore parece adquirida.
3. A energia nuclear está a tornar-se cada vez mais popular no Mundo, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), admitindo vir aí uma “nova era” e, porquê?
Começou-se a compreender que se trata de uma energia estável e confiável, “permite produzir grandes quantidades de eletricidade numa área limitada e usando relativamente poucos materiais”, é totalmente independente da meteorologia, ao contrário das eólicas e solar. Segundo Fatih Birol, Director Executivo da AIE, a nuclear desde 1971 evitou a emissão na atmosfera de 72 giga-toneladas de dióxido de carbono (CO2).
Presume-se que Trump não se opunha ao crescimento da nuclear que “na opinião, entre governos, grandes empresas de tecnologia e instituições e organizações internacionais, envolvidas na transição, com a notável exceção da Comissão Europeia, a energia nuclear está em ascensão” em todo o Mundo, segundo afirma a Transitions & Énergies (20 de janeiro 2025), na base de um estudo recente da AIE.
Fatih Birol acrescenta que “mais de 70 gigawatts de nova capacidade nuclear estão sendo construídos em todo o mundo, um dos níveis mais altos dos últimos 30 anos, e mais de 40 países ao redor do mundo planeiam aumentar o papel da energia nuclear em seus sistemas de energia. Os reatores SMR [pequenos reatores modulares], em particular, oferecem um potencial de crescimento interessante. No entanto, os governos e a indústria ainda enfrentam alguns obstáculos significativos no caminho para uma nova era para a energia nuclear, começando com a entrega de novos projetos dentro do prazo e do orçamento, mas também em termos de financiamento e cadeias de suprimentos”.
4. A Agência Internacional de Energia reconhece que os EUA e a UE estão atrasados na indústria energética nuclear, sobretudo em termos de cumprimento de prazo de execução (7 anos de atraso) e de não cumprimento de orçamentos (2,5 vezes acima do planeado). São desvios inadmissíveis, difíceis de entender, enquanto China e Coreia do Sul cumprem, em média, o planeado.
5. No campo das relações económicas externas, Trump entrou em completa chantagem com a União Europeia, pois um dos seus grandes objectivos é a redução do défice comercial externo e então “impõe” ou mais aquisição de gás e petróleo, sobretudo de gás, ou taxas aduaneiras. Tudo indica que a UE vai entrar no aumento da compra de gás, aliás Von der Leyen já há muito aceita essa ideia, mas certamente as taxas também vão ser utilizadas, embora ainda não estejam definidas, pois segundo Trump, a Administração “não está ainda devidamente preparada”, ou seja, Trump está a pensar melhor a questão das taxas, pois a sua aplicação não é pacífica entre os grandes empresários, seus apoiantes. Os interesses nem sempre batem para o mesmo lado.
Falta-nos ainda muita informação para se apreender todo o alcance futuro. Mas, as energias fósseis são para explorar a fundo, o que poderá conflituar com a OPEP+, nada interessada em grandes aumentos de produção, nem baixa de preços. Na nuclear, as tendências de médio e longo apontam, no Mundo, para elevados investimentos e consequentes aumentos de capacidade com a China no comando. Nas renováveis sobretudo na eólica offshore reina uma não aposta.
A União Europeia sai destas políticas de Trump maltratada, por sua culpa, e só tem uma saída: apostar seriamente em ser autónoma. Para Trump, a UE não é um aliado, mas um cliente e enquanto a Europa não se convencer disso não rasga caminhos. Mas antes de tudo tem de se entender no seu interior, o que se torna difícil, numa Europa muito dividida, nas suas políticas como a da energia e face a Trump. Estamos perante uma União Europeia cada vez mais fraca, sem estratégia e sem dirigentes à altura. Visão e Capacidade para agir em falta. Uma União em grande défice, quando o Mundo está a mexer-se e não espera.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.
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