Estive ausente da Região durante largos meses. Fundamentalmente por isso fui adiando um encontro que, sabia eu, ia escorrer-me garganta abaixo como mel. Há pessoas que me encantam e que me marcaram ao longo da vida, algumas, mesmo à distância, acompanhei-as e com quem muito aprendi, nas entrelinhas das palavras ditas ou escritas, nas atitudes de perseverança, no pleno respeito pelos princípios e valores de base humanista. Sempre gostei de pessoas que me possibilitassem ver para além do horizonte. E quando encontro uma pessoa assim, lembro-me que tenho dois ouvidos e uma boca por algum motivo!
Ontem foi um dia excepcional. Precisava de o ter. Não pelo pensamento convergente naquilo que é estrutural, mas pela sinceridade irradiante e contagiante do meu interlocutor, pelo olhar que não engana, pela humildade que entra e fica, pela visão do Homem no mundo, pela cultura expressa em palavras que atravessam os tempos, pela noção da efemeridade do tempo de vida e por tudo quanto está em redor de uma simples frase: os outros têm tanto direito à felicidade como nós. Precisava de escutá-lo, serenamente, de amadurecer pensamentos que me invadem. Foram seis horas de comunhão e confissão, de passar em revista anseios e incompreensões, mas, sobretudo, interrogações sobre se ainda vale a pena manter acesa a chama dos desconfortos, perante o monstruoso peso dos interesses, de homens e mulheres que se acotovelam, que pouco tendo para dar, se colocam em bicos de pés e dedo no ar, como se quisessem dizer: eu estou aqui!
Vieram a propósito tantas figuras que marcaram um tempo de vida, face a tantos outros que falam e nada acrescentam. "Juntam palavras" e não se comprometem, não é meu Caro Amigo?
Pois, é o dilema de quem se apaixona pela Mensagem, que a contextualiza na vida real, que se dá aos outros sem pedir nada em troca, que faz da Palavra um Mundo melhor, no pleno respeito pela mãe natureza, por esta nossa "casa comum", que sem negar o crescimento e o desenvolvimento, fá-lo, no entanto, segundo o rigor que impõe actuações políticas convergentes com o interesse do Homem. Até porque a Cultura vende e o que é igual, isto é, não distintivo, tendencialmente, fica condenado ao insucesso.
Viajámos no tempo, interrogámo-nos sobre os pequenos e grandes poderes, sobre os ininteligíveis aspectos comportamentais em todos os patamares da intervenção, sobre a desmedida ambição que varre seres humanos indefesos para debaixo de um qualquer tapete, também, sobre a necessidade de construir e "inaugurar" a grande obra, a do ser humano.
A páginas tantas disse-lhe: o Senhor não precisa de uma estátua de corpo inteiro, porque sempre foi inteiro, e a melhor de todas, será encontrada nos seus textos, nos seus livros, na sua poesia, na memória colectiva e naquilo que outros dirão de si, sobretudo aqueles, por respeito a si próprios nunca subverterão a verdade histórica. O Senhor tem muito para dar, apesar dos seus 81 anos. Escreva e deixe-nos esse legado.
OBRIGADO, Padre José Martins Júnior, obrigado por aquelas horas que voaram sem darmos por isso, naquele dia 05 de Março, para mim, inesquecível.
Ilustração: Google Imagens.
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