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segunda-feira, 30 de julho de 2012

A RONDA DO DESESPERO POLÍTICO


Algumas pessoas escutaram a musiquinha e pena tenho de um qualquer espectador não tivesse perguntado: senhor presidente, mas quem é que paga tarde e mal o rol das comprinhas que faz? O que é que tenho a ver com as suas despesas? Quem é que determinou as prioridades? Quem encheu a mula à custa do rol do senhor governo? Enfim, o homem vendeu o seu peixe, o povo voltou-lhe as costas e começo a ter a percepção que, cansados da lengalenga, muitos terão pensado ao virar a esquina do adro: "vais ter"! É a ronda do desespero político.

 
AJJ construiu um castelo na areia. E agora?
Ele continua de mentira em mentira até à verdade final. Prossegue na mesma linha de ontem sem perceber que os tempos mudaram, a mentalidade, aos poucos, também. Está convencido que a receita, política e perversamente eficaz em outros tempos e contextos, tem viabilidade nos tempos que correm. Ou muito me engano ou a sua "veia" de músico (de má qualidade), há 36 anos a tocar o mesmo programa, já não consegue colocar as pessoas a trautear seja o que for. Pelo contrário, apoquenta, importuna e maça quem ouve tais sons domingueiros, depois dos cânticos ao Senhor. Ontem, lá foi ele, cedo, tocar de forma desafinada, para o adro da igreja da Ponta do Sol. E disse, a propósito da situação regional relativamente ao Plano de Ajustamento Financeiro: "de maneira a nós podermos controlar as finanças da Madeira e, por outro lado, sem perdermos autonomia política, que era a minha grande preocupação, senão vinha para aqui gente de fora também administrar a Madeira", a exemplo do que está a acontecer no continente. Algumas pessoas escutaram a musiquinha e pena tenho de um qualquer espectador não tivesse perguntado: senhor presidente, mas quem é que paga tarde e mal o rol das comprinhas que fez? O que é que tenho a ver com as suas despesas? Quem é que determinou as prioridades? Quem encheu a mula à custa do rol do "senhor governo"? Enfim, o homem vendeu o seu peixe, o povo voltou-lhe as costas e começo a ter a percepção que, cansados da lengalenga, muitos terão pensado ao virar a esquina do adro: "vais ter"!
Mais tarde, na Ponta do Sol, porque a inspiração está nos limites, de forma repetitiva, regressou à estafada musiquinha que conta a história dos sistemas de saúde e educação terem custado nove mil milhões à Região desde 1976 (contas dele, porque eu não as somei) e, sendo a dívida da Madeira de seis mil milhões (fora as PPP), logo, quis o "chefe" dizer, a República ainda deve à Região três mil milhões! Espantoso. Esquece-se que os sistemas foram regionalizados a pedido da Região, fizeram deles o que quiseram e entenderam, vangloriaram-se de tanta coisa e escondeu três outros aspectos: dos financiamentos através do Orçamento de Estado, que os impostos da Madeira ficam todos na Região e que se fossem totalmente suportados pela República perdiam os madeirenses no campo da Autonomia Política e Administrativa. Neste último aspecto, questiono: que importância teria o Estatuto da Madeira que refere que aqueles dois sistemas constituem "matérias de interesse específico" da Região? Mais. O músico ignora que quem paga, manda. A letra da musiquinha é tão pimba que nem dá pela incoerência: afinal, se querem tudo pago pela República, porquê tanto alarido na Assembleia em defesa de um sistema educativo próprio? Já não há pachorra para ouvi-lo. O pior é que tem a lata, entre músicas, para questionar o povo: "Afinal o que é que o Estado está fazendo aqui na Região". Socorro-me de um leitor no online do DN-Madeira que lhe devolveu a pergunta: "O que é que AJJ está ainda a fazer no Estado?". Concordo.
Chamo a isto a ronda do desespero político. Trata-se de uma ronda diferente das de outros tempos. Antes havia dinheiro aos magotes, foi o tempo da designada "democracia directa", de adro em adro e de promessa em promessa, de olhar para um secretário e ordenar que meta a obra no próximo orçamento, depois, é só pregar no tecto as contas do populismo. O dinheiro foi-se, as facturas são muitas e, ao contrário do que anda por aí a dizer ao povo, a Madeira está controlada, eu diria controladíssima, por "gente de fora", directamente pelo Ministro das Finanças e este pela troika internacional. O povo, aquele mais profundo e menos desperto para os outros domínios da política, embora não compreendo os meandros, tem o sentimento que há ali qualquer coisa que não bate certo. E, de facto, não bate. A mentira permanente, ou melhor, a ocultação da verdade começa a ter limitado espaço de manobra. Daí esta corrida contra o tempo, utilizando várias máscaras ao longo da semana política. Já não lhe basta um Jornal da Madeira e os vários palcos que, diariamente, dispõe. Ele vai por aí adentro, tentando demonstrar que, politicamente, ainda mexe, armado em salvador da situação que criou. Como se os milhares de outrora acreditassem no milagre!
Ilustração: Google Imagens.

4 comentários:

Fernando Vouga disse...

Caro André Escórcio

Autonomia política sem autonomia financeira é como uma circunferência quadrada. Não existe, pura e simplesmente!

jorge figueira disse...

O castelo de areia a desmoronar-se não é uma referência à próxima abertura da Universidade de Verão no Porto Santo? Perante tanta ruína que por aí anda não ficaria mal uma nota de humor. Embora a vontade de rir esteja a desaparecer.

André Escórcio disse...

Caríssimo Cor. Fernando Vouga, o problema é que de uma forma moderada e consistente, nunca a Região soube conjugar a Autonomia Política com a Autonomia Financeira. A região deixou sempre um rasto de substanciais dúvidas e olhares enviesados que conduziram à situação que hoje enfrentamos.
Outro tivesse sido o processo e, porventura as duas autonomias se completassem ou, pelo menos, caminhavam nesse sentido.

André Escórcio disse...

Caríssimo Jorge Figueira, a sua nota é excelente no humor. Penso que ele será mais comedido no areal. Qualquer pessoa teria vergonha de uma situação em que é o protagonista principal. Mas, nunca se sabe, com os calores de Agosto e com alguma "rega" no bar, para que lado a língua se soltará!