Li o texto do DN. Puxei atrás a minha cassete de vida. Quem quiser conhecer o breve percurso de vida do João Pedro Vieira bastará seguir a edição do DN, de 19 de Julho, página 5. Pela sondagem do DN será eleito Vereador da Câmara do Funchal. Eu, apenas, aqui, deixo a minha vivência, quando fui seu professor na Escola B+S Gonçalves Zarco. Foi dos alunos, confesso, que mais me tocou e que continuo a trazer em memória activa. O João Pedro, para todos os professores, era um exemplo de dedicação, de empenhamento, de participação, de responsabilidade, de ajuda aos outros com dificuldades em perceber a "matéria" leccionada em várias disciplinas, um exemplo de companheirismo, de cortesia, de humor, um exemplo de cidadania, enfim, esgoto as palavras caracterizadoras de um jovem fantástico. Habituei-me a ver no João Pedro, hoje Médico (separam-nos 40 anos) a figura que eu idealizava para toda a juventude em formação: gerações nascidas pós-Abril de 1974, com princípios e valores democráticos, cultos, questionadores, inconformados, insatisfeitos com as respostas, pessoas de causas onde o ser deveria assumir sempre relevância maior em relação ao ter.
O João Pedro foi e é tudo isto: insubmisso e tolerante, frontal e sem coluna de plasticina. Sempre gostei dele. Tenho presente muitos momentos, mas um levou-me a que dos olhos brotassem uma lágrima de satisfação profissional. Foi quando experimentou o parapente. Saiu do Pico da Cruz para aterragem no Lido. Chegado ao solo, correu para mim, deu-me um forte abraço e, repetidamente, exclamou: obrigado. Nessa fase da minha vida, incompreendida por muitos, o que esta palavra significou para mim! Do ram-ram da escola, de um programa absolutamente anacrónico, tínhamos saltado para outras regulares experiências no mar e em terra. Aquele obrigado significou que eu tinha razão, que a verdadeira escola está muito para além dos muros da escola.
Há, por aí, muitos jovens de qualidade. Lamentavelmente, no plano da participação política, ainda se refugiam, porque partem do errado pressuposto, por um lado, que não vale a pena, por outro, que talvez pelo silêncio consigam singrar na vida profissional. Esquecem-se que a construção do futuro deles depende. Que mais vale a honestidade da frontalidade do que uma vida a dançar o "baile pesado". O João Pedro seguiu o seu caminho, diferente, porque teve a felicidade de ter pais humildes e convictos, trabalhadores e estudiosos, que souberam transmitir o significado da vida e a preocupação pelos outros distante do egoísmo pessoal.
Há dias, o João Pedro mandou-me uma mensagem. Quer tomar um café, como pretexto para uma conversa mais profunda. Vamos a isso. Para já, quem por aqui passar, fixe este nome, e que tenha a certeza que, uma vez eleito, o Funchal terá um Homem de rara inteligência, trabalhador e com grandes preocupações sociais. Um abraço, João Pedro. Felicidades.
Ilustração: Google Imagens.
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