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quarta-feira, 19 de julho de 2017

NO ESTADO DA REGIÃO, TRATARAM OS MADEIRENSES COMO INCAPAZES


O Professor Marcelo Rebelo de Sousa, um dia e em um certo contexto, ressalvo, comparou a Madeira a uma grande autarquia. Infelizmente, teve e tem razão. O debate de ontem na Assembleia Legislativa sobre o "Estado da Região", pouco adulto e nobre, mais me pareceu um de uma assembleia municipal recôndita, para pior, já que por essas bandas, muitas vezes, se discutem assuntos de relevo para a população. Senti um governo encostado às cordas, bandarilhado pela oposição, um presidente do governo distante de um discurso coerente, assertivo, estruturalmente confiante, antes em permanente auto-elogio, jogando as culpas para outros, para o sempre inimigo externo. Já não há paciência para escutar que existe "uma estratégia montada em Lisboa para conquistar a Região". As palavras podem ser outras, bem como o tom e o objectivo, mas, questiono, quantas vezes os madeirenses já não ouviram tal musiquinha?


Ora, enaltecer que existe uma estratégia montada pressupõe, concomitantemente, a admissão da sua própria incapacidade de governação e, pior ainda, parte do pressuposto que os madeirenses são incapazes de fazer escolhas. Da propaganda falaciosa do "povo superior" caem, agora, na área do medo que o poleiro se quebre. Os ouvidos já não suportam que às perguntas, muitas pertinentes, o presidente do governo justifique que os que se opõem se limitam às "fanfarronices de sempre e às mesmas girândolas de desgraças". Os cidadãos, pelo menos os atentos, olham para este enquadramento, frágil e inconsequente, e, certamente, questionam-se: colocar o dedo na ferida das políticas de saúde que, todos os dias, sangram, abundantemente, constitui uma fanfarronice e uma girândola de desgraças?; falar de "800 nomeados políticos em menos de três anos de governo" (JPP) numa terra de desemprego abundante, constitui uma fanfarronice e uma girândola de desgraças?; falar da gritante pobreza e pedir um "basta de caridade" através da "promoção do direito ao trabalho" (PCP) enquadra-se na fanfarronice e em uma girândola de desgraças?; colocar em causa "um governo que pensa que está em estado de graça quando os madeirense não acham graça nenhuma ao estado caótico a que a Região chegou" (BE), em todos os sectores, constitui uma fanfarronice e uma girândola de desgraças? São evidências, diariamente destacadas pela comunicação social, entre outros, nos três pilares da democracia: saúde, educação e assuntos sociais. É o que sentem os madeirenses, face à presença de um governo aos papéis, ziguezagueante, previsível, acomodado e do qual não se vislumbra um caminho de esperança e de confiança no futuro. E o líder parlamentar da maioria, em solo de bateria, com aquele ar altivo, rufou: ninguém pode negar que "a Madeira está melhor em 2017 do que em 2015". Não disse em quê, obviamente. No tempo do anterior governo também som era idêntico. Adiante!
Depois, em todo aquele "debate" ficou a convicção de uma "conversa fiada" de quem tem por hábito culpar terceiros. "A culpa é de Lisboa. Esta é a desculpa dos novos governantes com vícios antigos" (PS). De facto, cansa ouvir a lengalenga, em uma Região Autónoma, que criou, no plano institucional, um "Estado" dentro do Estado, facto que justifica a pergunta "(...) Para que serve a Autonomia se os senhores não governam"?. "Comparando, o executivo regional é um carro que patina na lama apesar de acelerar" (PTP). 
Ora, perante a realidade, será pedir de mais que o governo deixe de ter medo da sua própria sombra, que seja prospectivo, que saiba antecipar e desenhar o futuro, que não seja refém dos grupos económicos que o condicionam, que saiba corrigir os erros de casting de quem foi seleccionado para governar, que saiba dar corda aos sapatos e, nos lugares certos, sem pedras na mão, mas com honestidade, seriedade, frontalidade e verticalidade, exija a solução de problemas vários, que saiba diversificar a economia, que não ande ao sabor dos interesses e pressões venham de onde vierem, que deixe de andar sempre com o fardo da insegurança, passando culpas para outros e a outros níveis (já não falam de "contencioso das autonomias" mas o refrão é o mesmo, a "culpa é de Lisboa" - CDS), repito, será pedir de mais? Tem, pois, razão o director do DN: "após sete horas de "debate" sobra o costume: há uma culpa que ninguém assume".
Ilustração: Google Imagens.

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