FACTO
Diz o líder do CDS/PP que o partido "(...) não é moça do PSD". Fonte: Dnotícias, edição de hoje, 1ª página.
COMENTÁRIO
Parece-me evidente que a coligação PSD/CDS tem os dias contados. Quando o líder dos centristas sublinha que o CDS "não serve, apenas, "para noites de aflição", isto significa que as relações entre os dois partidos atingiram um ponto sem retorno. No mínimo, está estabelecida uma grave desconfiança.
Isto é preocupante. Não entro por considerações de natureza política sobre os actos da governação. Enquanto cidadão interessa-me, fundamentalmente, perante as muitas fragilidades da Região, perceber se há um governo que, independentemente de questões ideológicas, está em condições de atenuar ou mesmo resolver os dramas deste povo insulano. Quando o desemprego cresce de forma preocupante, quando há empresas a caminho da insolvência, quando existe graves carências sobretudo alimentares e quando, por extensão, aumentam os sinais de pobreza, a pergunta que se coloca é a de saber quem tem "unhas para tocar esta guitarra".
Se há momentos que exigem estabilidade governativa, este, certamente, é um deles. Não basta atirar-se à República, antes interessa demonstrar capacidade de solução, empenho, união de esforços e absoluta determinação. E o que tenho constatado é um jogo de olhos desconfiados, de passa culpas, de politiquices e de "engolir em seco" situações embaraçosas. E, entretanto, o copo encheu e hoje derramou.
Pode até ser intencional quando se aproximam as eleições autárquicas (2021). Há situações dentro dos partidos que escapam à maioria dos cidadãos. Será que o PSD quer aferir o seu peso eleitoral antes dessas eleições? Será que o CDS, que pode valer mais do que os actuais três deputados, deseja a ruptura para reforçar a continuidade no governo? Será que o CDS pretende cair em outros braços? E o que significa a abertura do líder do PSD ao partido "Chega"? Tudo é possível. O que é evidente é que aquelas declarações trazem água no bico!
Seja como for, no plano político, não é possível manter um governo faz-de-conta. As repercussões políticas daquelas declarações são devastadoras. E se assim é, repito, enquanto cidadão eleitor, melhor seria uma atempada clarificação, só possível com a queda do governo e a marcação de eleições.
Os tempos que estamos a viver são extremamente complexos. Tempos que estão para durar, porque nada se sabe relativamente ao surto pandémico e a economia não é assunto que se resolva em 24 horas. Por isso, torna-se necessário que alguém de qualidade assuma a responsabilidade do momento difícil que todos estamos a enfrentar. Alguém, entre os melhores da sociedade, que seja capaz de acabar com estes jogos de poder. Alguém, que dentro do quadro angustiante, devolva a esperança.
Nota
Considero de pouco bom senso, nesta fase de extrema preocupação, o vice-presidente participar no Rali Vinho da Madeira. Basta atentar na Pirâmide de Maslow: para o ser humano, os cinco patamares começam pelas "necessidades fisiológicas" (respiração, comida, água (...), passam pelas necessidades de "segurança" (emprego, família, saúde, educação (...), as "sociais", as de "estima" e, finalmente, as de "auto-realização". Não é um bom sinal dado ao colectivo, perante uma sociedade mergulhada em algum desespero, um governante com altas responsabilidades, olhar para a sua realização pessoal, colocando de lado os dramas que atingem, neste momento, mais de 100.000 pessoas. Só a pobreza atinge mais de 30%, o que equivale a cerca de 80.000 habitantes.
Ilustração: Dnotícias.
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