Por
Madalena Nunes
Vereadora na Câmara Municipal do Funchal
Jornal da Madeira
11/08/2020
Há dias vi a Paula Erra a declamar o texto “O teatro e a peste”, de Antonin Artaud, na página do facebook do Teatro Municipal Baltazar Dias. Retive a frase do início: “A mais terrível peste é aquela que não divulga os seus sintomas”. Por acaso, ou talvez não, vi esse vídeo depois de ter lido as declarações de Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional da Região Autónoma da Madeira, sobre a necessidade de o PSD ter de se aliar ao Chega para conseguir aceder ao poder. Custa-lhe que o seu partido esteja arredado do poder há tanto tempo. Fala em “cliques de meia dúzia” que governam o país… devo dizer que esta frase me fez sorrir, ao lembrar-me do que tem sido a governação do PSD-M há mais de 40 anos.
Também é muitíssimo esclarecedor o silêncio total perante esta postura de Miguel Albuquerque por parte das pessoas filiadas no PSD-M e que se afirmam democratas e defensoras dos direitos humanos.
“A mais terrível peste é aquela que não divulga os seus sintomas”, escreveu Antonin Artaud. Na Madeira não temos esse problema. Os sintomas do caciquismo, da ditadura, da intolerância, estão bem visíveis e são postos em prática diariamente. Até a resolução governamental para a obrigatoriedade do uso das máscaras, medida que seria certamente aceite por toda a gente, mostrou bem o “quero, mando e posso” de quem nos governa, sendo decretada em cima do joelho e sem respeito algum pela correção jurídica da sua implementação. Tiques! Aprendizes de ditadores, que se escondem na defesa do povo, para darem cobertura à sua glória de mandar.
O antirracismo não é de esquerda, nem de direita. A luta contra o xenofobismo também não. São lutas por valores humanistas universais e não se compaginam com branqueamentos de partidos, nem com o silêncio ou com a ausência de reação de cada um de nós.
Temos de erguer a voz e as ações contra estes tiques populistas e ditatoriais que ameaçam tornar-se normais. Não falar deles, não os faz desaparecer. Sejamos do centro, da esquerda, ou da direita, sempre que nos calarmos perante injustiças ou perseguições, somos cúmplices e ajudamos a ascender ao poder ditadores que não desejam o bem dos povos. Desejam, sim, a “glória de mandar” que Camões já mencionava nos Lusíadas.
Ilustração: Google Imagens.
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