O título desta peça jornalística constrange. O jornalista foi feliz porque traduziu, exactamente, o sentimento que invade o pensamento político do candidato. Lá pelo meio falou, em jeito de contraponto, numa cidade "onde se criem postos de trabalho, onde as pessoas vivam com dignidade, onde tenham prazer de trabalhar". Coisa que não bate certo, porque se assim fosse, ele, na qualidade de vice-presidente do governo, com todas as responsabilidades daí decorrentes, teria, mesmo em tempo pandémico, gerado as condições susceptíveis de criar postos de trabalho, baixando a gravosa taxa de pobreza que já sobe aos 32,9% da população (80.000). E o desemprego é um drama que atinge mais de 20.000 pessoas, os que procuram e não encontram, entre outras circunstâncias, porque não dispõem das necessárias qualificações profissionais.
Em Fevereiro estavam desempregados 20.331 pessoas e apenas uma pequena percentagem recebe subsídio de desemprego. Os outros vivem de quê? Do biscate não facturado e das ajudas de dezenas de instituições de solidariedade. As escolas confrontam-se com a pobreza e as instituições, são tantas, desdobram-se em apoios.
O Dr. Calado não sabe o que é a pobreza ou a aflição de ter filhos para alimentar e educar. Não sabe, para quem passa necessidades, o que é a dependência de "um cabaz de compras ou de legumes pela porta adentro". Rui Ferrão, Licenciado em História, escreveu no FN um texto do qual aqui deixo um excerto:
"(...) Devem incomodar-nos as certezas "absolutas" que os "bons" têm sobre a vida dos outros. Para os "bons", eles comportam-se de forma perversa, são preguiçosos, preferem viver do subsídio de desemprego ou do RSI (para os "bons" dá para ter uma vida de luxo). Quem o afirma revela falta de empatia, por estupidez e nunca esteve desempregado (...) Estar desempregado é uma tragédia (...)".
Que seja sensível que uma franja da população prefira o subsídio ao emprego com alguma estabilidade, penso que essa situação é natural que se verifique. Mas não se pode tomar o todo pela parte. E se essa situação acontece, a mesma é da responsabilidade do governo e não da Câmara. O que tem feito para gerar condições de rigor, isso não sei, nem tem sido objecto de atitudes políticas. O que são sensíveis são os descarados apoios às Casas do Povo e a outras instituições que alimentam objectivos que não são os mais transparentes e prioritários.
O Dr. Calado fala de investimento, mas esquece-se que o governo a que pertence, ao contrário dos anteriores, estrangulou a Câmara do Funchal não assinando contratos-programa. Deve dizer aos funchalenses é se é verdade ou não "(...) que o Governo Regional deu 71 milhões à CMF entre 1992 e 2011" e com a derrota do PSD na Câmara do Funchal os contratos-programa passaram para zero. E que tem vindo a não aprovar os orçamentos da Câmara prejudicando esse mesmo investimento. O exercício da política, sejam quais forem os emblemas partidários que liderem, tem de ser exercido com dignidade, independência e transparência. É feio mentir e aldrabar. Ser oposição deveria ser muito mais do que tenho assistido.
O Dr. Calado deveria ter presente que, quando foi vereador da Câmara com o pelouro das finanças, no final, feitas as contas, deixou uma dívida superior a 100 milhões de euros. E que essa dívida tem vindo a ser substancialmente reduzida pelo actual executivo, apesar de todos os constrangimentos. Portanto, ganhe quem ganhar, quero lá saber, mas há duas coisas que não tolero: primeiro que se brinque com quem passa fome; depois, que tente vender uma imagem de rigor quando ele não existe.
Ilustração: Google Imagens.
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