Faz parte de uma certa paródia regional, eu sei, e daí, não é meu espanto, mas talvez uma certa perplexidade de como alguns conseguem levar de mansinho a água ao seu moinho. Durante anos a fio. O problema está em saber até quando e quais as sequelas sociais. Pelo que assisto, o coma é tão profundo que tudo passa como a água nas penas dos patos. Nem o "jardinismo", como todas as suas diatribes, com a paulatina "compra" e imposição de silêncios, as dívidas escondidas, as subtis ou descaradas perseguições, os alegados enriquecimentos rápidos e talvez mal explicados, porque dá jeito, a quase "institucionalização" de uma perversa economia paralela, a paciente montagem de redes e de compromissos, a muitos dizendo não dizendo, "toma lá, dá cá", o controlo da comunicação social, a multiplicação de instituições e subsídios a granel para contentar clientelas, nem nesse período da longa história, dizia, foi tão longe. Ou talvez hoje os novos dignitários estejam a receber de bandeja os "investimentos" feitos. É uma possibilidade.
Um dia, o Dr. Jardim falou de uma fase mais "raffiné". Pois, a democracia, por isso, é, hoje, um simulacro do que devia ser. O engano dos sentidos fez o seu caminho e agora, a percepção que se tem é a de uma sociedade doente, divorciada dos seus próprios interesses, uma sociedade de múltiplos receios ou medos, acorrentada nas aparências e que, mesmo sofrendo, prefere o conhecido ao desconhecido. Já não se rala. Entretanto, as grandes referências da oposição regional foram desaparecendo: ou porque morreram ou porque assumiram que outros ficassem com o brinquedo! Complementarmente, parece-me evidente que o sistema educativo foi intencionalmente condicionador, ao preferir a liturgia dos manuais programáticos à liberdade de pensamento, da criatividade e da inovação. Em poucos anos a sociedade caiu numa espécie de pântano que impossibilita a consciência de fuga ao lamaçal. Sobrevive. E a Igreja? O que dizer dela? Todos o sabem. Cala-te boca.
Segundo: INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL. Um dos princípios do desenvolvimento é o da transformação graduada. Há uma sequência no tempo que não pode ser ignorada. Da mesma forma que coexistem três perguntas simples que qualquer gestor/administrador da coisa pública (e não só) deve dominar: onde estou, onde quero chegar e que passos tenho de dar para lá chegar. O onde estou equivale ao levantamento exaustivo da situação real, para que daí se possa arquitectar uma situação ideal. Ora, o sistema educativo está de rastos, sendo evidente que esta escola não consegue dar resposta aos desafios de um mundo em constante aceleração. Segundo os estudos é desmotivadora para alunos e professores, apresenta currículos e programas desadequados, submete-se aos ditames de uma administração centralizadora e padronizadora, é rotineira e previsível, porém, quando é este o quadro, alguém vem falar de "inteligência artificial", ignorando o extenso rol de características onde o sistema se encontra. Como é possível ser prospectivo e presumir que se irá atingir a complexidade, quando são queimadas as etapas de um longo processo científico. Houvesse engenho e arte, depois de 47 anos de políticas, podia o sistema experimentar e almejar tal desiderato. Pela via que seguem, não. Tratam-se de umas palavras soltas atiradas ao ar e sem significado. Tal como a história do Brava Valley!
Terceiro: COMISSÕES DE INQUÉRITO. Um festival de palavras e de depoimentos inconsequentes. Apenas fumo. Um ex-Deputado Europeu e, depois, governante regional, falou de "obras inventadas". Foi logo encostado à parede. E o inquérito parlamentar surgiu. Conclusão: "obras inventadas", protecção a um grupo restrito de empresários, pressão destes sobre a governação, enfim, são tudo histórias, essas sim inventadas. Nada ficou nem ficará provado. Mas quando e onde rolaram cabeças na sequência de um qualquer inquérito parlamentar? É tudo mentira, pois o desabafo, certamente, tem a chancela do ressabiamento de quem o proferiu. Até o relator da comissão foi indicado pelo partido maioritário. Curioso, até, que o parceiro de coligação que antes abria a boca e não era nada piedoso, remeteu-se agora a um silêncio sobre a tal "mentira" criada pelo ex-governante. Tudo solenemente abafado. Pois tudo foi realizado com total transparência, rigor técnico, fiscalização sem mácula e absolutíssima lisura de comportamentos éticos e morais. O ex-Deputado irá, certamente, "de castigo" para o quarto escuro da política!
Quarto: ESTUDO DE OPINIÃO/SONDAGEM. Corolário de tudo isto, o povo (?), em sondagem recentemente publicada, atribuiu 50% dos votos ao partido governante, onde se inclui um ínfimo contributo do parceiro de coligação. Significa que está tudo ou quase tudo certo. Portanto, siga a festa...
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