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quarta-feira, 3 de maio de 2023

A mosca


Há quem entenda que o exercício da política tem de assumir os contornos da maledicência, da ofensa gratuita e do rebaixamento dos adversários. Não entendo assim. Quem por esses caminhos envereda demonstra alguma soberba, alguns tons antidemocráticos e, sobretudo, uma clara falta de respeito pelos outros.



Esta semana escutei um desses momentos. O líder da bancada parlamentar do CDS, olhando para um deputado da oposição perguntou-lhe sobre a sua formação (académica, naturalmente) e, na ausência de resposta, terminou dizendo que talvez não tivesse sequer o 12º ano. Quando escutei tamanha deselegância, lembrei-me do poeta popular António Aleixo, falecido no ano que eu nasci:

(...)
Uma mosca sem valor
poisa c’o a mesma alegria
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.

Para não fazeres ofensas
E teres dias felizes,
Não digas tudo o que pensas,
Mas pensa tudo o que dizes.
(...)

Que grande António Aleixo, Homem "simples, humilde e semi-analfabeto", em discurso directo a todos quantos rebaixam os outros movidos pelos interesses pessoais ou de circunstancial grupo. Ora, na Assembleia estão os representantes do Povo, eleitos em sufrágio universal. A presença dos que lá estão não pode ser colocada em causa. Essa leitura pertence ao Povo e é, constitucionalmente, realizada de quatro em quatro anos. Portanto, o debate nunca pode ser sobre eventuais percursos académicos, mas sobre os conteúdos das propostas ali debatidas. Há deputados com uma auréola de doutor que pouco ou nada adiantam, enquanto outros, sem esse percurso, demonstram estudo, conhecimento e invulgar capacidade de argumentação. No próprio partido do deputado em questão.

Ilustração: Google Imagens.

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