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sexta-feira, 17 de maio de 2024

A pobreza do presidente



O presidente em gestão do governo madeirense assumiu ser "normal" a Região ter a mais alta taxa de pobreza do país. Esta palavra "normal" mexeu comigo e, certamente, pelo que li em diversos comentários, terá gerado repulsa na população. Ao comparar a região com outras também insulanas, o ainda presidente fez-me lembrar aquele jovem que chega junto dos pais e diz: "perdi o ano escolar, mas o José, o António, o Francisco e o Abel também perderam". Numa aproximação à mais alta taxa de pobreza, a leitura simplista do presidente em exercício, é que a população tem de ser pobre porque os outros também o são. Para ele trata-se de um fatalismo das ultraperiferias!



Teria sido melhor o seu silêncio. Quando cerca de 70 000 madeirenses vivem com sérias dificuldades, milhares no quadro da pobreza e centenas em privação material, as responsabilidades devem de ser assumidas, não existindo qualquer comparação que possa atenuar os défices sentidos a múltiplos níveis. As dificuldades não são, apenas, aquelas de fazer face aos custos de uma vida "normal", mas todas as outras iliteracias bem conhecidas. Teria sido decente, por respeito a todos os que vivem no sufoco das margens, um "mea culpa" depois de 48 anos consecutivos de governação.

Perante tão graves e crónicas disparidades sociais, sensata seria uma profunda reflexão sobre a ausência global de planeamento, relativamente aos anos que andaram a assumir, daí o não estabelecimento do princípio da prioridade estrutural, por razões políticas, claro, que a Madeira era rica e, por essa via, a negação da pobreza; uma reflexão sobre a política educativa enquanto única forma de romper com o círculo vicioso da pobreza; sobre as muitas imprudências cometidas que nem o Banco Alimentar escapou, negando, durante anos, a criação das condições mínimas para a sua implementação; os obscuros interesses de poderosos lóbis que se movimentaram gerando evidentes desequilíbrios; os cambalachos que hoje estão a vir à tona; uma reflexão sobre as tais ditas "obras inventadas", enfim, um "mea culpa" por terem seguido a lógica perversa de que "com dinheiro faço inaugurações e com inaugurações ganho eleições".

A história deste processo é muito longa e extremamente complexa e tem, obviamente, pessoas responsáveis que foram ou que ainda fazem da política a sua vida, cuja práxis foi gerir a eleição seguinte; jamais foram estadistas preocupados com o desenho e felicidade das gerações seguintes. Daí que, para qualquer cidadão livre das engrenagens, há uma "normal" anormalidade nas palavras ditas.

Esqueceram-se que, primeiro que tudo, está a "construção" (desenvolvimento) do ser humano.

Ilustração: Google Imagens / Orquestra do Titanic

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