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quarta-feira, 22 de maio de 2024

Não há insubstituíveis

 

A Madeira vai a votos. As circunstâncias assim determinaram. Embora os contornos e a dimensão dos alegados factos, criminosos ou nada compatíveis com o exercício da política, estejam muito distantes de uma sentença em órgão próprio, a legitimação política ficou ferida de morte e daí o acto eleitoral do próximo Domingo. Do meu ponto de vista, mesmo considerando que ao presidente do governo, em exercício, legalmente, nada obste que seja candidato, mesmo no caso de, mais tarde, ser totalmente ilibado de qualquer responsabilidade corruptiva, politicamente, o bom senso devia ter determinado, por agora, o seu afastamento. Assim não entendeu, o que deixa, desde logo, segundo muitos, um rasto de intolerável apego ao poder e de defesa no quadro da imunidade.



Julgo que foi o Dr. Mário Soares que terá dito que, na política, "morre-se muitas vezes". Quer isto significar que, em determinadas situações e mesmo quando a consciência está tranquilíssima, o afastamento temporário constitui um exemplo que impede as leituras populares menos simpáticas. Portanto, Domingo, os eleitores, que apenas conhecem as sínteses da comunicação social, terão no menu de escolha, um candidato-arguido face a outros sobre os quais não recai essa fragilidade. Na ponderação da escolha, o eleitor será ainda confrontado com um sistema de poder que leva um somatório de 48 anos ininterruptos, cuja voz popular, pelo menos uma parte significativa, entende ter gerado uma rede tentacular de interesses nada consentâneos com a transparência e com o rigor.

Sou de opinião que o povo, soberano nas suas escolhas, em sua própria defesa, não deve permitir anos a perder de vista na liderança seja qual for o patamar da vivência democrática: numa Junta, Câmara, Governo, por aí fora, até numa direcção de escola ou em qualquer área do associativismo. As mudanças são sempre importantes, trazem novos compromissos, novas ideias, inovação, respeito, credibilidade e, sobretudo, não deixam criar raízes muitas vezes perniciosas. Quando defraudam as expectativas, o povo tem sempre na mão o poder do afastamento. É óbvio que nada obsta a continuidade, mas a democracia, quando bem vivenciada, só traz ao povo incalculáveis vantagens.

De resto, não existem insubstituíveis. Os que se diziam ou assim pensavam, morreram ou andam por aí e, no entanto, a vida continuou. Nada parou, nem vai parar.

Ilustração: Google Imagens

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