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domingo, 26 de maio de 2024

Voto de confiança ou voto de dependência?

 

O povo decidiu. A maioria entendeu que essa coisa de estar há 48 anos no poder, a existência de uma extensa rede de interesses e cumplicidades (o poder partidário é sensível por todo o lado), de alguns já terem sido condenados a cadeia ou, ainda, de serem arguidos por alegados crimes, essas são histórias que não lhes interessa, nem lhes desperta uma qualquer desconfiança. Por mais que aconteça, saiba ou cochiche, o povo, uma vez mais, aceitou e continua a confiar. Esquisito? Talvez não, porque a sofisticada engrenagem evidencia desgaste, mas funciona! Ela é, diariamente, oleada. Entendo que aquilo que se observa já não se designa por "voto de confiança", mas por um "voto de dependência". O discurso político diz-nos que o povo é soberano! Lá isso é, mas não deixa transparecer o resultado dessa máquina política condicionadora de uma liberdade que se desejaria total e consciente. 



Não é normal olharmos para a democracia na Madeira e verificarmos a existência de meio século de um partido com maior número de votos expressos. Nos Açores isso não acontece, muito menos no espaço continental. De memória recente, Portugal, em tempos e circunstâncias diferentes, claro, levou com o Estado Novo durante 41 anos ininterruptos, mas isso não bastou para uma consciência regional colectiva que nisto dos senhores da política, como disseram vários autores e em diversas circunstâncias, entre outros, Mark Twain, Benjamin Franklin, Robin Williams e, até, possivelmente, o nossa Eça, que "políticos e fraldas devem ser frequentemente substituídos e pela mesma razão".  

Embora nas eleições da Madeira, os mandatos não cheguem para uma maioria absoluta, no jogo das combinações pós eleitorais, nos acordos de circunstância e até de sobrevivência, mesmo a perder votos, os mesmos de sempre continuam com uma vantagem e, neste caso, a poder ditar a sua lei. Infelizmente, não pude votar porque, para os madeirenses, não é possível o voto em mobilidade. Vá lá saber-se o porquê histórico! Foi a primeira vez que tal aconteceu e, por isso, não ajudei a contrariar esta nefasta tendência para manter um poder de características "duracel"! E se assim penso é porque entendo que as mudanças são sempre benéficas nas mais diversas situações da vida.

Seguem-se agora as negociações. O PSD, vencedor, parece-me isolado ou com enormes dificuldades de estabelecer parcerias de governação. O CDS, ex-parceiro de coligação, assumiu que "não é moça de recados" e que "foram despedidos sem justa causa", o que, desde logo, penso eu, desde que a coluna não seja de plasticina, não embarcará na festa laranja; o PS rejeita o bloco central de interesses, embora pareça aberto a uma conjugação de acordos; o Chega, declarou um rotundo não desde que Miguel Albuquerque faça parte do jogo; o JPP, pelo que tem sido público, prefere fazer o seu caminho, distante do PSD, embora aberto a negociações. A questão que agora se coloca é a de saber quando e como a Madeira terá um governo. E, já agora, quando serão as próximas eleições legislativas.

Ilustração: Google Imagens.

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