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sábado, 31 de dezembro de 2016

PARA 2017... PRIMEIRO SAÚDE DEPOIS, UM SISTEMA DE SAÚDE QUE NOS DEFENDA! AH, E UM COMPROMISSO COM A INTELIGÊNCIA.


Não se trata de mastigar doze "passas" na passagem do ano, ao mesmo tempo que se formulam desejos. Não se trata de brindar ao novo ano com um qualquer champanhe. Tampouco se trata de dançar madrugada adentro, após um confortável jantar. Não se trata de cumprir abraços e votos sejam eles de que tipo forem. Os primeiros são rituais que, pelo menos a mim, pouco dizem. O último, faz parte da cortesia e da boa educação. Porque, fundamentalmente, o que deveria ser assumido, a todos os níveis, é o compromisso com a inteligência. 


Penso eu que é essa inteligência que nos faz definir o certo do errado, a ganância que espezinha da vida com dignidade, o humanismo relativamente à ausência de sensibilidade social. E isto coloca-se nos patamares institucionais internacionais, nacionais, locais e de família. Infelizmente, tal não irá acontecer, porque a engrenagem dos interesses é monumental e esmaga a faculdade do ser humano de "conhecer, compreender, raciocinar, pensar, de interpretar" e de agir. Por mais Missas de "Acção de Graças" que façam, amanhã, globalmente, tudo continuará igual. 
Resta-nos, por isso, a leitura da Vida virada para dentro enquanto motor de mudança individual com repercussões no colectivo. 
Seja como for, a todos os meus Amigos, os mais próximos e os virtuais que por aqui passarem, desejo-lhes um ANO NOVO, primeiro, com saúde, depois, um sistema de saúde que nos defenda, ah, um compromisso com a inteligência. 
Ilustração: Arquivo próprio/2015.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

POLÍTICA DE SAÚDE: EM VINTE MESES... TRÊS CONSELHOS DE ADMINISTRAÇÃO DO SESARAM


Não há sistema que resista a tanto jogo de bastidores. O que isto indicia é a existência de extensos conflitos, muitos interesses pessoais e reduzida capacidade em se centrarem naquilo que é fundamental: em um sector vital, um governo que cumpra o desígnio de serviço público, direito constitucional do utente. Ao cidadão, desde há muito, parece tudo preso por arames, com momentos de aparente serenidade, mas lá no fundo, quase invisível, a estrutura move-se e, qual vulcão, periodicamente, expele todo o seu âmago. 


A presente demissão do Conselho de Administração do SESARAM explica esses múltiplos desconfortos da estrutura que procura espaço para explodir. Isto já não é apenas um problema de manta muito curta (leia-se financiamento e dívidas do sistema) que ao puxar para um dos lados deixa o outro descoberto. Parece-me muito mais complexo e esta demissão demonstra-o. Trata-se de uma demissão que está muito para além, convicção minha, de um gesto de solidariedade pelo secretário demitido ou que pediu a demissão. Há muito "magma" a correr e a fervilhar no interior do sistema. A bolha veio à superfície e uma vez mais rebentou. Tal como irá acontecer com outros sistemas aparentemente adormecidos. Inevitável, porque uma paz podre é insustentável, para mais quando o vértice estratégico da liderança deixa muito a desejar.
Uma democracia formal do tipo "duracel" é perigosa. Chega a um ponto que os protagonistas se enredam no labirinto do poder e das cumplicidades, pelo que não conseguem a necessária serenidade para encontrar uma saída. A carne foi-se e mesmo perante ossos há sempre quem deseje roê-los! A solução está, sustento, nas pessoas, nos cidadãos realmente livres quando chamados às urnas. Trago sempre presente as palavras de D. Manuel Martins, Bispo Emérito de Setúbal: "(...) as alternâncias são sempre boas. Por muito boa que seja a pessoa que está, a partir de determinada altura alternar é bom. Já tive essa experiência na minha vida. Fui professor, saí, entrou outro, foi óptimo; fui vigário-geral, saí, entrou outro, foi óptimo; fui bispo em Setúbal, saí, entrou outro, foi óptimo. A alternância é magnífica a todos os níveis e em todos os sectores porque traz novidade, dá esperança, imprime outro ritmo de vida". Concordo, em absoluto. 
Ilustração: Google Imagens.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

MUDANÇA NA PROTECÇÃO CIVIL


FACTO

Para o cargo de presidente da Protecção Civil da Madeira, IP, o governo da Madeira recrutou, nos Açores, o Dr. José António Oliveira Dias, que dirigiu, desde 2012, o Serviço Regional de Protecção Civil e Bombeiros da Região açoriana. Figura que substituirá o Coronel Luís Nery.

PERGUNTA

Parto do princípio que à frente das instituições devem estar os mais habilitados. Porém, deixo uma pergunta: depois de tantos anos de Protecção Civil na Madeira, esta instituição pública não gerou ninguém, pelas experiências vividas, com elevada competência técnica, para uma substituição local com naturalidade?

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

POLÍTICA DE SAÚDE SEM SAÚDE


É "obra", também com elevados custos, a nomeação, em vinte meses de mandato, de um terceiro secretário da Saúde da Região da Madeira. E outros sectores vitais reclamam a substituição de políticos que desta coisa de bem governar, têm dado provas de pouca capacidade ou habilidade política. Trata-se de um sector difícil, complexo pelos erros acumulados durante muitos anos, obviamente que sim. Mas não fica atrás da complexidade, por exemplo, da Educação (outro desastre pela ausência de uma qualquer ideia) e dos Assuntos Sociais (pior ainda). Há um triângulo que qualquer governo não pode descurar: saúde, educação e assuntos sociais. E tem sido, exactamente, nesta base triangular que o governo regional tem demonstrado enormes fragilidades. 


O exercício da política, de forma séria e consistente, não se faz através de agendas mediáticas ou de objectivos pessoais; de atitudes voluntariosas; para a fotografia, estar presente em tudo quanto mexe, muitas vezes cumprimentando com chapéus alheios. A política de topo exige que, antes, o político demonstre, ao longo da sua vida, que tem conhecimento, maturidade, idoneidade, respeitabilidade social e que consegue ver longe e muito para além dos interesses partidários. Só que, para o cidadão mais ou menos atento, a ideia que tem ficado de tais públicas e globais fragilidades é que as nomeações seguem uma lógica de amizades e de proximidade ao grupo(inho), do que propriamente de inequívoca competência, não a profissional, mas a política, que implica saber como administrar e gerir. Aliás, a competência política analisa-se pelas posições livremente assumidas, pela frontalidade, sem medo seja do que for e pelo que escrevem de forma sustentada. "Passeio" por entre secretários e deles nada sei e nenhum me fez reflectir no plano político. Minto. O das Finanças fez-me reflectir, negativamente, sobre o exercício da política na Madeira. Depois de ter sido um dos membros da equipa do anterior governo que conduziu a Região a uma dívida superior a seis mil milhões, aceitou a "promoção". Quando isso acontece, sobressai, primeiro, a dúvida, depois, a confirmação da ausência de unhas para a "guitarra". Até o Presidente, pelo que sei, toca piano(inho) e a guitarra não é a sua praia! 
Ilustração: Google Imagens.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

FELIZ NATAL PARA TODOS


O NATAL, Caros Amigos, diz-me muito. Diz muito a qualquer ser humano, independentemente das convicções. Em primeiro lugar, é o significado que me move. A Palavra, o humanismo, o sentimento de que é possível um Mundo melhor, não creio que ingenuamente, desígnio esse que mobiliza o meu pensamento muito mais do que a "Festa" propriamente dita. A escalada de atrocidades que estão a acontecer, a ausência de sentimentos, a maldade, a crueldade, a hipocrisia da condenação dos actos, de guerra e outros, ao mesmo tempo que fornecem armamento, a falta de princípios e de valores solidários, a ganância e sofreguidão dos "mercados", enfim, tudo isto constitui uma clara oposição ao significado do Nascimento, da Vida e da Palavra. Repito, sejam quais forem as convicções. Por isso, o Natal não deveria ser apenas um ritual de comércio, de ofertas, de convívio e de alguma boa comida. Deveria, também, constituir o momento solene de tomada de consciência, a todos os níveis, de tudo quando afecta o ser humano. Mas, tal como certamente todos, também gosto do respeito pela tradição histórica. Há rituais que nos enchem, obviamente que sim. Por isso, para TODOS(AS) os que por aqui passarem, desejo que esta quadra seja inspiradora dos nossos direitos, dos nossos deveres e do quanto podemos fazer para sermos felizes. Isso, também depende de nós e das nossas manifestações de cidadania.
Um BOM NATAL, em Paz.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

SÓ EM DITADURA TODOS OS ANOS SÃO DIFÍCEIS


Nota prévia: é meu entendimento que não se justifica o cargo de Representante da República na Região Autónoma. É, cada vez mais, de um simbolismo bacoco que nem na esfera da fiscalização legislativa se justifica. Aliás, se essa é a explicação, há muito que a alternativa está estudada. Portanto, o que aqui deixo escrito nada tem a ver com o cargo, mas com as declarações ontem produzidas. O Senhor Representante deveria poupar-nos a ler certas posições ou preocupações políticas. Enquanto cidadão, pode escrever ou dizer o que pensa, porém, na função que assumiu, deveria ser muito mais discreto.


Ontem, após um encontro, disparou: "(...) Os meus votos para 2017 são que, sem prejuízo da luta interpartidária, que é regra da boa democracia, não se perca os valores superiores da região, que devem primar em relação aos interesses partidários" (...) "Em 2017 temos as eleições autárquicas e um ano de eleições é sempre um ano mais difícil" (...). 
Vamos a isto. Um ano de eleições é um ano difícil? Que razões, no plano político, o levam a dizer o que sublinhou? Para o Representante, existe uma boa e uma má democracia? E quais são os "valores superiores da Região"? A manutenção de um poder que, injustificadamente, conduziu a Região ao descalabro financeiro, a um processo judicial por facturação não reportada, autarquias em "falência" financeira, ao aumento da pobreza e a uma situação muito complexa no desemprego? São estes os valores superiores da Região? São interesses da Região, o silêncio, o come e cala-te, uma maioria política que continua a confundir maioria absoluta com poder absoluto, que desrespeita as oposições e que chumba, por atacado, dezenas de importantes propostas, nem as querendo discutir? São estes os interesses superiores da Região? E que história é essa dos "interesses partidários"? Será que os partidos, excluindo o do poder, terão de se manter como decorativos da Democracia?
Não há anos difíceis quando o povo é chamado às urnas. A Democracia exige participação de todos, a denúncia clara do que mal vai, a proposta séria, honesta e exequível, custe o que custar aos ouvidos do poder. Que tem de haver respeito entre todos, obviamente que sim, mas a luta acesa de mobilização e denúncia é incompatível com a ideia de "ano difícil". Difícil, para quem, questiono. Ao contrário do que o Representante sublinhou, nós não "somos já uma democracia adulta e uma autonomia adulta". Não somos. A Autonomia é uma miragem, pois estamos a léguas do que deveria ser, por megalomanias concretizadas ao longo de 40 anos, somos pobres, dependentes e assimétricos. Por múltiplas e substantivas razões, ter órgãos de governo próprio é quase um faz-de-conta. Raramente a Assembleia é legislativa, mas adaptativa(!) dos diplomas. Por outro lado, uma Democracia adulta não espezinha e não controla as mentes. Existem muitos exemplos negativos no bas-fond da política regional e que não chegam, lamentavelmente, ao conhecimento de toda a população. Por isto e muito mais, que venham as eleições autárquicas, que os partidos lutem pelos seus projectos e que o povo decida. Simplesmente, porque não existem anos difíceis quando há eleições. Nas ditaduras, sim, todos os anos são difíceis.
Ilustração: Google Imagens.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

SÍRIA


A narrativa ocidental sobre a guerra na Síria é simples – era uma vez um ditador chamado Assad contra o qual, em 2011, o povo se ergueu pedindo democracia; o ditador mandou prender, torturar e bombardear os rebeldes e aí começou uma guerra civil que dura até hoje. Uma guerra terrível, que já fez meio milhão de mortos e provocou milhões de refugiados – mais de metade da população, deixando um rasto de devastação e ruínas, a ponto de estar em causa a própria sobrevivência do país, agora retalhado em zonas de influência. O problema com esta narrativa é que ela não se sustenta inteiramente. Tem, é certo, elementos de verdade – Assad é um ditador, a perseguição aos opositores é terrível, havendo até suspeitas (como no caso de Saddam, no Iraque) de utilização de armas químicas contra populações civis. Mas esse esquema interpretativo deixa na sombra as razões mais profundas do conflito: o embate regional entre as duas grandes correntes do Islão – sunitas contra xiitas – e, tanto ou mais importante ainda, a luta pelos recursos energéticos da região.


O acordo a que chegaram Síria e Irão para construir um oleoducto para escoar o petróleo do Cáspio evitando a Turquia e concorrendo com os sauditas e os outros países do Golfo no fornecimento de petróleo ao Ocidente é apontado por especialistas como sendo uma das causas da guerra de que pouco ou nada se fala. Esse enquadramento explicativo simplista, embora possa funcionar até certo ponto em termos de grande público, tem, além disso, debilidades evidentes que não resistem a um olhar minimamente crítico. Se a questão é simplesmente uma luta da liberdade contra a ditadura, maus de um lado, bons do outro, como explicar que do lado dos “rebeldes” estejam alguns dos piores inimigos das democracias ocidentais – o chamado Estado Islâmico, a Al-Qaeda e a Al-Nusra? Se esta guerra é só e principalmente um confronto entre liberdade e ditadura, como explicar que do lado da democracia estejam regimes tão prepotentes como os da Turquia, Arábia Saudita e Qatar?
O facto dos Estados Unidos apoiarem os chamados “moderados” não muda o essencial.
Sim, os moderados existem, não são mera ficção – mas o núcleo duro das forças anti-Assad é outro – o Estado Islâmico e a Al-Qaeda. E alguém tem dúvidas de que se Assad caísse seriam estas forças e não os democratas que a curto prazo iriam prevalecer?
É manifesto que a opção americana nesta guerra – auxiliando os que querem derrubar Assad – deriva mais de concepções geoestratégicas sobre a correlação de forças que se pretende ver vitoriosa no Médio Oriente do que da defesa da democracia.
O que Washington pretende é um Médio Oriente em que os países do Golfo, fornecedores de petróleo e aliados dóceis dos ocidentais – a quem compram milhões de milhões de dólares em armamento – continuem a ser dominantes, contendo as ambições nacionalistas do Irão e da Síria.
Já com um pé na Síria, onde desfruta de uma base aérea e de acesso marítimo crucial para a sua frota no Mediterrâneo, por via dos acordos anteriores com o regime alauita, a Rússia preferiu jogar pelo seguro, apoiando financeira e militarmente Damasco.
A vitória obtida agora em Alepo, com a recaptura da cidade pelo exército sírio, estimula certamente Moscovo a prosseguir nessa via, desafiando assim os interesses americanos na região.

REACÇÃO DE WASHINGTON

Para Washington, pelo contrário, a retomada de Alepo por Assad foi sentida como uma derrota quase humilhante.
Certamente não por acaso, os liberais americanos recuperaram agora as acusações de interferência de Moscovo nas eleições dos EUA supostamente para favorecerem Trump em detrimento de Hillary. Nos media, pelo menos, o sentimento anti-russo atinge níveis só comparáveis aos piores anos da Guerra Fria.
Com isso, dá-se vazão à fúria pelo fracasso da política de Obama na Síria e ao mesmo tempo cria-se um clima tendente a dificultar ao máximo qualquer viragem na relação com a Rússia que o novo presidente possa – como já indicou – querer empreender.
Melhor seria, no entanto, que se retirassem do desastre da Síria – que se segue aos do Iraque, Afeganistão e Líbia – a lição que se impõe: as políticas neoconservadoras de caos criativo e “regime change” foram um completo fracasso, só se traduzindo em devastação e morte, com prejuízo evidente para as populações dos países envolvidos e consequências negativas para a velha Europa, onde vêm agora embater ondas sem precedentes de refugiados em fuga dos cenários de guerra que supostamente seriam o preço a pagar para democratizar os países árabes.
Está mais do que na hora de rever essa estratégia e essa grande mentira. Sob pena de se obterem resultados diametralmente opostos aos pretendidos – consolidação de regimes ditatoriais e reforço das posições da Rússia no Médio Oriente.
NOTA
Texto de Carlos Fino, Jornalista, publicado no Facebook.

sábado, 17 de dezembro de 2016

IR AOS CORREIOS TORNOU-SE UM PESADELO


Ir aos Correios (CTT) tornou-se angustiante. Um pesadelo. São filas todos os dias, mesmo fora da época natalícia e da semana de pagamento das pensões, que leva um cidadão a desesperar. Fecharam balcões e para colmatar as reclamações abriram pequenos espaços, inclusive em supermercados, que não fazem todas as operações que, tradicionalmente, compete aos CTT. Um exemplo: fecharam o posto do Livramento (Funchal) e abriram um espaço, uns metros adiante, no supermercado "Amanhecer". É a lógica da privatização, da redução de trabalhadores, do lucro e os cidadãos que se danem. A este propósito o Deputado Carlos Pereira (PS) fez uma intervenção na Assembleia da República.

 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

UM TIPO DE DISCURSO QUE JÁ NÃO PASSA


"Uma dívida de 15 milhões de euros dos subsistemas de saúde, 60 milhões da sobretaxa do IRS e uma discriminação em relação aos Açores, que recebem mais 90 milhões, foram as primeiras acusações de Carlos Rodrigues contra o governo da República". (DN-Madeira). “Gozaram, brincaram com todos os madeirenses”, afirmou. Estava a ler a peça jornalística e questionei-me: o que é isto comparado com uma dívida gerada de forma tresloucada e que atingiu mais de seis mil milhões. São trocos, obviamente. Dívida, aliás, criada pela megalomania de uns e que todos os madeirenses e portosantenses estão a pagar. 

Mas, atenção, se há dívidas da República para com a Madeira, é claro que têm, caso a lei o permita, de ser liquidadas. Quanto à Região dos Açores, o Senhor Deputado deveria saber (e sabe) que há lei que define o montante das transferências. Desde logo, entre outros factores, não faz sentido comparar duas ilhas com nove, separadas por 602 km, entre S. Maria e o Corvo.
Finalmente, a dívida da Madeira que, julgo eu, será impagável, leva-me a concluir que, de facto, durante muitos anos, "gozaram, brincaram com todos os madeirenses". 
Parece-me óbvio que aquele tipo de discurso é antigo, muito antigo, e já não passa. O povo precisa de NOVIDADE no quadro da responsabilidade.
Ilustração: Google Imagens.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

ORÇAMENTO DA REGIÃO DA MADEIRA (2017). DIZ O DEPUTADO JAIME F. RAMOS: O ORÇAMENTO "DEVOLVE A ESPERANÇA"


Quando se "devolve a esperança" é porque alguma coisa de errado andaram a fazer. É uma leitura óbvia que vem ao encontro do aforismo "que o peixe morre pela boca". Pois é, tratou-se de um raro momento de lucidez de política partidária, relativamente a um passado de 40 anos de muitos enganos! Tenho presente tanto discurso de cor e de olhos fechados e tantos outros "pensados" e lidos. A Madeira era um oásis de progresso no espaço nacional, traduzido em milhentas inaugurações. Mais tarde concluiu-se da fragilidade e insustentabilidade de todos os sistemas. Uma dívida superior a seis mil milhões de Euros, milhões escondidos das contas nacionais, sistemas educativo e de saúde com lacunas graves, 30% de pobres, taxa de desemprego arrepiante e empresários aflitos, enfim, caíram os tapumes do oásis e começou-se a conhecer muita coisa. 


Não discuto o Orçamento Regional porque não o li, portanto, não me sinto abalizado para qualquer comentário. Porém, em abstracto, reflicto sobre a "devolução da esperança". Ora bem, no exercício da política, com seriedade e honestidade, exige-se MEMÓRIA E COERÊNCIA. Estas duas palavras distinguem os políticos. No hemiciclo a palavra não pode ser de circunstância, porque dá jeito em um determinado momento, partindo do pressuposto que os outros, "os que estão lá em casa" se esquecem com facilidade das posições antes assumidas. Se ainda tivessem alguém para apontar o dedo acusador, um qualquer governo anterior de outra cor política, bem, ainda fazia algum sentido "devolver a esperança". Mas não, a Madeira é governada pela mesma cor desde 1976! 
Ilustração: Google Imagem.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

UM DISCURSO QUE CANSA POR NÃO SER VERDADEIRO


Manuel Braga da Cruz, antigo reitor da Universidade Católica, está na Madeira a convite da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE). Declarou: “Temos uma situação excessivamente partidocrática, ou seja, os partidos estão com um protagonismo na vida política que é excessivo e não dão espaço a que os cidadãos tenham um papel mais activo da vida política e na construção do futuro de Portugal” (...) “o problema da governabilidade e da representatividade, assim como da própria abertura dos partidos à sociedade” (...) “Acho que nós precisamos de adaptar o nosso estado social às exigências do mundo contemporâneo e que olhe mais para a sociedade” (...) “o Estado tem dado pouco espaço à iniciativa privada”.


Obviamente que não poderia falar de outra maneira. Percebo o seu posicionamento político. Acredito que seja uma pessoa bem informada e julgo que não anda distraído.   Porém, passei os olhos pelo seu CV e não detectei qualquer trabalho, cargo ou função de âmbito político-partidário. Perante as suas declarações, questiono, porque não participa? Porque não se junta a um partido, onde se sinta enquadrado ideologicamente, gerando o tal espaço de participação? Porque não aproveita as autárquicas onde se assiste a uma proliferação de candidaturas independentes? Depois, como se pode dizer que o Estado "tem dado pouco espaço à iniciativa privada?" Ou será que não viveu neste País entre 2011 e 2015, onde pouco restou para privatizar?
Sinceramente, com todo o respeito pelo Doutor Manuel Braga da Cruz, este tipo de discurso cansa por não ser verdadeiro. Aliás, devem ser os cidadãos, em função dos diversos posicionamentos ideológicos, que se devem juntar aos partidos, fazendo ouvir a sua voz. Por que não aderem, foi a questão que não mereceu uma opinião. Porque de abertura à sociedade, genericamente, todos os partidos têm vindo a defender essa necessidade.
Ilustração: Google Imagens.

domingo, 11 de dezembro de 2016

ARQUITECTO GONÇALO BYRNE - MAIS UM QUE COLOCA O DEDO NA FERIDA


Vários, ao longo de muitos anos e em diversos âmbitos denunciaram o que estava a acontecer na cidade do Funchal. Foram vilipendiados e apontados como pessoas contra o "desenvolvimento". Hoje, qualquer madeirense percebe que sofremos as consequências das opções erradas. Em entrevista ao DN-Madeira, conduzida pelo Jornalista Miguel Silva, o Arquitecto Gonçalo Byrne, salientou:
"O concelho do Funchal sofreu transformações bastante silenciosas, mas bastante eficazes no mau sentido" (...) "O problema da formação das aluviões e das cheias tem, em boa parte, a ver com o crescimento da urbanização, a impermeabilização dos solos, por vezes a má gestão das zonas estratégicas das ribeiras" (...) "Faz-me um pouco de impressão esta betonização dos antigos muros" (das ribeiras).

RESUMO CURRICULAR

"Formado em Arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa e pela Universidade de Alghero. 
Autor de uma obra extensa e diversa em termos de escala, programa e contexto, abrangendo projectos de planeamento urbano, desenho de espaços públicos e edifícios, reabilitação urbana, gestão de projecto, desenvolvimento e sustentabilidade, reconhecida nacional e internacionalmente, pela sua expressão arquitectónica, cultural e patrimonial. Ao longo dos últimos anos, o trabalho de Gonçalo Byrne tem sido amplamente reconhecido e premiado, tendo recebido, entre outros, o Prémio A.I.C.A/S.E.C., a Medalha de Ouro da Academia de Arquitectura de França e, recentemente, o Piranesi / Prix de Rome, edição de 2014, atribuído à sua obra do Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra. (...)"

Resta perguntar...
Quem conduziu o Funchal às "transformações silenciosas no mau sentido"?

sábado, 10 de dezembro de 2016

A AVALIAÇÃO PISA, TAL COMO OUTRAS, É UM INSTRUMENTO AO SERVIÇO DO PENSAMENTO ÚNICO.


"La OCDE parte de un principio equivocado, de que hay una forma de pensar el desarrollo y el mundo (...)"


"LAS PRUEBAS PISA SON EL CONCURSO DE BELLEZA DE LA PEDAGOGIA"



Ler AQUI.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

POLÍTICA EDUCATIVA - A EUFORIA DEU LUGAR AO SILÊNCIO


Em 25 regiões portuguesas (NUT3 - Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos) a Madeira encontra-se:

19º lugar em Ciências.
20º lugar em Leitura
15º lugar em Matemática

Texto publicado em:


terça-feira, 6 de dezembro de 2016

UM POUCO DE MEMÓRIA E DE DECORO SERIA ACONSELHÁVEL


A propósito da primeira ligação directa, entre a Madeira e o aeroporto suíço de Basileia, operado pela Easyjet, o secretário regional da Economia e Turismo, Dr. Eduardo Jesus, referiu: “É mais barato do que comprar uma camisa”, uma vez que a ligação fica por € 38,00.

Não discuto o preço das camisas, pois cada um compra de acordo com as suas possibilidades. Na Primark há camisas a € 8,00 e até mais baratas. E são jeitosas. Ponho as camisas de parte, pelo exagero da imagem, e fixo-me nos preços médios praticados pelas transportadoras entre a Madeira e os aeroportos nacionais ou vice-versa. Ora bem, Senhor Secretário, no nosso caso de portugueses insulanos, não é o mercado a funcionar é a vergonha e a roubalheira que campeiam. E o que tem feito, pelos madeirenses que estão a ser sugados até ao tutano? Responda aos madeirenses e portosantenses. A mim não, que tenho acompanhado e vivido esta situação. 
Este tema, de resto, está escalpelizado e já foi motivo de muitos reparos na comunicação social, daí que, politicamente, seria de bom tom ter memória e um certo decoro. 
Ilustração: Arquivo próprio.









segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

O "TRABALHINHO" DE PEDRO PASSOS COELHO TEM, POLITICAMENTE, OUTRO OBJECTIVO.


Não sei mas ele, certamente, sabe onde quer chegar. Depois de quatro anos de aperto total, de empobrecimento e de uma permanente ofensa aos mais vulneráveis da nossa sociedade, o Dr. Pedro Passos Coelho denuncia que nada aprendeu com a experiência governativa. Continua a sua saga pela austeridade e pelo corte cego de salários e de pensões. Todos os dias surge com uma postura da qual resulta já não haver paciência sequer para atentar nas suas palavras. Pelo menos para mim. Recuperar salários, devolver, embora aos poucos, rendimentos do trabalho e apoios sociais que foram claramente "roubados", acabar com as taxas e sobretaxas, devolver os feriados nacionais que muito dizem na nossa História, isto e muito mais, constitui um caminho para "iludir" os portugueses, é "populista" e de "campanha eleitoral", pelo que, o que se está a passar "não é uma forma séria de tratar os portugueses". São suas estas declarações. Começo a perceber os motivos que levam os próprios militantes de partido a quererem ver-se livre desta personagem quanto antes. Fica claro, também, o motivo que, em Lisboa,,qualquer coisa parecida com o "PAF" foi à vida. O CDS mandou-o borda fora.


Pedro Passos  Coelho não consegue ver os portugueses um pouco, ainda que muito pouco, mais desafogados. Não consegue enxergar alguma felicidade nos outros. Parece que fica furibundo e que não perdoa o facto de ter sido arredado do poder por uma maioria na Assembleia da República. Mas essa maioria, pergunto uma vez mais, não é tão legítima como foi a da maioria de direita do tempo da união de facto entre o PSD e o CDS? Aliás, ele nem olha e nem interpreta as sondagens que o colocam a léguas da popularidade de outros políticos. Continua a falar como se todo o país fosse cego ou surdo, como se os portugueses não tivessem já uma maturidade suficiente para decidir o que desejam e o que consideram melhor em um determinado momento. 
No essencial, analisada a sua insistência, porventura não lhe interessa o regresso ao poder. Ele denuncia que está a fazer o seu trabalhinho no quadro de um dente da roda dentada da direita europeia. Tarde ou cedo, tal como aconteceu com outros, espera pela recompensa política através de um convite para qualquer função. Não tenho dúvidas algumas que os poderes europeus, os visíveis e os invisíveis, funcionam assim. Temos muitos exemplos. Mas que é preciso uma lata para, todos os dias, se apresentar no combate sem uma única proposta alternativa, lá isso é verdade. 
Ilustração: Google Imagens.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

EXCEPCIONALMENTE, A RESPOSTA!


O secretário regional da Educação, segundo um trabalho do Jornalista Francisco José Cardoso, a propósito dos resultados no quadro das "Tendências Internacionais no Estudo da Matemática e das Ciências (TIMSS), lembrou que "o principal crítico da política educativa e mentor do PS-M em matéria de Educação, simultaneamente, presidente da Assembleia Geral do Sindicato de Professores da Madeira (André Escórcio) defende, sistematicamente as "maravilhas" do sistema finlandês, talvez seja oportuno perguntar-lhe, porque razão os "burros" madeirenses, conduzidos por "incompetentes" em matérias de política educativa, conseguem estar à frente de tais maravilhas (...)" (DN-Madeira, edição de hoje). Achei interessante a referência, já explico porquê, embora não seja mentor político do PS ou de qualquer outro partido, não tenha qualquer actividade político-partidária, muito menos no Sindicato de Professores da Madeira. Apenas escrevo produzindo e cruzando, humildemente, sínteses do pensamento de tantos investigadores e autores onde se incluem, naturalmente, entre muitos outros, professores, filósofos, psicólogos, sociólogos, médicos e economistas. 


Dou de barato aquele tipo de "medições", como o dou relativamente à aferição PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). Há, de resto, muita produção literária sobre o formato, as diferenças sociais e sobre a escolha dos alunos submetidos a essas avaliações. A escolha, que deveria ser rigorosamente aleatória, que está em causa. Li, há dias, um texto, com o título: "No PISA nós confiamos - mas será que devíamos?" Neste pressuposto, sobre os resultados dos estudantes madeirenses (TIMSS), embora eu não seja adepto de "ranking's, por múltiplas razões, não deixa de causar alguma perplexidade quando os ditos colocam os estabelecimentos de ensino da Madeira em posições muitíssimo modestas e, qual passe de mágica, em um ápice, a Madeira "aparece" no topo da satisfação da política educativa regional. Isto leva-me a repetir a pergunta: será que devíamos acreditar?
Independentemente deste aspecto, não são os resultados pontuais que têm constituído motivo das minhas reflexões, mas sim, de forma compaginada, a estrutura do Sistema Educativo e a estrutura de toda a organização social (políticas de emprego, pobreza, cultura, etc.). E isto está, obviamente, muito para lá da simples avaliação pontual de uma ou de outra disciplina. A minha batalha, se disso se trata, é contra um sistema desintegrado, que repete o passado e demonstra incapacidade de adaptação a um mundo que não é o da Sociedade Industrial. Sou avesso à segmentação da aprendizagem por disciplinas, sujeita a questionáveis rituais programáticos. Defendo que a aprendizagem deve assumir uma outra dimensão que obriga a pensar e a questionar os porquês. Um sistema, que bloqueia a curiosidade e empareda a aprendizagem julgo que não tem futuro. Não entender isto, pelo menos para mim, constitui uma clara fragilidade intelectual. 
Ainda há poucos dias, em uma iniciativa do governo regional da Madeira, foi o Juiz Conselheiro, hoje jubilado, Laborinho Lúcio, ele que não é docente, mas evidencia uma leitura sistémica do processo, que veio transmitir que não tarda o dia que as crianças dirão que têm um adulto dentro de si, tais são as características do sistema educativo. A simplicidade e acutilância deste pensamento deveria conduzir a uma profunda reflexão, partindo de uma única palavra: porquê? A questão tem sido, exactamente, essa, questionar-me sobre a estrutura do sistema, as razões da insatisfação e esgotamento dos professores, a estrutura da rede escolar, a autonomia das escolas, o paradigma curricular e pedagócico, a estrutura e financiamento da escola pública, a burocracia, a cultura, níveis económicos, familiares e a mentalidade da sociedade em geral, daí partindo, então, para um sistema de resposta a tanto abandono e insucesso. Doze escolas da Madeira e, dentro destas, sem se conhecer como foram seleccionados os alunos, resulta uma imagem que não se compagina com outras verdades. Por exemplo, no mesmo ano (2014/2015) do tal apregoado sucesso, posto em destaque pelo secretário da Educação, foi o mesmo ano escolar onde ficaram retidos ("cumbaram") 3.800 alunos, o que equivaleu a uma desperdício de 17 milhões de euros, partindo do pressuposto que cada aluno, em média, custa cerca de € 4.500,00. Pode então, sem esforço, se concluir, que o problema deve ser analisado não pelo lado da percentagem dos "reprovados", mas pelo lado do que o sistema deveria ter realizado, a montante e a jusante, no sentido de uma escola que não repita o passado e que, pelo contrário, seja fermento para o futuro.
Sou por um Sistema e por uma Escola com pensamento crítico politizado e não partidarizado. As escolas não podem ser comparadas às "linhas de montagem". Por isso, não entrando por outras substantivas razões, estou muito próximo de Pepe Menéndez, diretor adjunto da Fundació Jesuïtes Educació, da Catalunha, quando, recentemente, enalteceu em uma entrevista ao DN-Lisboa: "(...) A mudança está em olhar para as coisas de forma diferente: o que queremos? Nós, jesuítas, dizemos: queremos alunos competentes, compassivos, conscientes, comprometidos e criativos. Que sejam capazes de construir o seu projecto de vida, é esse o centro do nosso projecto educativo. É preciso fazer coisas no colégio para que o aluno se vá construindo, e todos os conhecimentos têm de ser metidos dentro do projecto. Não é: "A minha vida é isto e os meus conhecimentos estão noutro lado. Tenho de integrá-los" (...) Há, portanto, que mudar o olhar, de acordo com o filósofo [Zygmunt] Bauman que fala de um mundo líquido. Ironizo: ele não falou da Matemática! Pepe Menéndez, a par de muitos outros autores e de experiências que estão a acontecer em tantos espaços, nessa entrevista sublinhou: "(...) Aplicamos uma parte da [Teoria] das Inteligências Múltiplas (Howard Gardner, 1985, Harvard), uma parte da aprendizagem baseada em problemas, uma parte do trabalho colaborativo, e fazemos um ecossistema. O nosso modelo baseia-se muito no trabalho interdisciplinar por projectos". Saliento eu, para que a Escola, como já alguém referiu, não seja "a catedral do tédio". Não perceber esta relevância, misturando alhos com bugalhos, expõe, repito, uma fragilidade de pensamento que gostaria que nenhum governante evidenciasse. Mas agradeço a referência, pois ela permitiu-me, dentro da minha fragilidade, eu que não sou investigador, aqui colocar algumas coisitas que me preocupam. Sinto-me feliz por chegar à aposentação e continuar a acreditar que é sempre preferível ser prospectivo do que repetir o passado. Quanto a "burros" e "incompetentes" essas são palavras do secretário, nunca minhas. Jamais, porque alunos, professores e pais estão na primeira linha do meu respeito e preocupações.
Ilustração: Google Imagens.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

CRISES OLÍMPICAS


Independentemente de se aguardar com alguma expectativa a divulgação pública do Relatório da Missão Olímpica elaborado sob a responsabilidade de José Garcia o chefe da Missão Olímpica, documento que, certamente, trará à colação mais um conjunto de informações bem importantes acerca daquilo que, em termos de liderança da Missão, efetivamente, se passou no Rio De Janeiro, o Comité Olímpico de Portugal (COP), perante a desilusão da generalidade dos portugueses, mais uma vez, chegou ao fim de um Ciclo Olímpico, desta feita o do Rio de Janeiro (2016), num ambiente de profunda crise, fundamentalmente porque, há muito que não tem uma ideia clara e objetiva para o seu próprio desenvolvimento no quadro do desenvolvimento do desporto no País. Em consequência, como tem vindo a acontecer desde 2004, o que se pode esperar do Ciclo de Tóquio (2020) é, tão só, mais do mesmo ou pior sem que o atual Governo, à semelhança dos anteriores, revele a mínima capacidade ou, sequer, interesse para equacionar um problema que está a conduzir o desporto nacional para um “beco sem saída”. 


A crise que, atualmente, o MO nacional vive não é a primeira nem, certamente, será a última já que, ao longo dos seus quase cento e vinte anos de existência, passou por diversas crises desde que, a 9 de Junho de 1906, por ação conjunta do Rei D. Carlos e de Pierre de Coubertin, o tísico António Lancastre foi cooptado como membro do Comité Olímpico Internacional (COI) a fim de representar os interesses da organização em Portugal. 
A primeira crise do MO nacional aconteceu em 1910 quando António Lancastre se demitiu do lugar que ocupava no COI por entender que, enquanto monárquico convicto que era, deixou de ter condições para representar o COI num Portugal republicano. Esta crise prosseguiu até 1919: Em Dezembro de 1913 faleceu Mauperrin Santos presidente do Comité Olímpico Português fundado a 30 de Abril de 1912; Em 1914 foi eleito e reconhecido pelo COI como o segundo presidente do COP o Conde de Fontalva que não chegou a ter qualquer ação significativa para além de, presumivelmente, ter respondido a uma carta de Pierre de Coubertin onde se comprometia a desenvolver um conjunto de ação que, que se saiba, nunca chegaram a acontecer; Ainda em 1914 surgiu a Federação Portugueza de Sports (FPS) liderada por Álvaro Gaia que, devido a “lutas intestinas” que, em grande parte, decorriam das lutas políticas da 1ª República, pretendia substituir o COP junto do COI, tendo até escrito uma carta endereçada a Pierre de Coubertin; Em 1916 os organizadores do 1º Congresso de Educação Física ostracizaram e denegriram o desporto e os seus praticantes. Em consequência, o MO entrou em profunda decadência ao ponto de, em 1919, após o término da Grande Guerra, o Governo da República ter de intervir (DG n.º 192, IIª Série, 19-08-1919) a fim de pôr ordem no COP que, acabou por ser reativado sob a liderança de Prestes Salgueiro com o objetivo de organizar a Missão Olímpica portuguesa que havia de estar presente nos Jogos Olímpicos de Anvers / Antuérpia (1920).
A segunda grande crise no MO nacional aconteceu nos anos quarenta quando, o então presidente do COP José Pontes foi posto na ordem pelo Governo, através dessa grande figura do desporto nacional que foi Salazar Carreira que, em matéria de desporto, era considerado um dos ideólogos do regime Salazarista. Ao tempo, Salazar Carreira, que desempenhou diversos cargos oficiais, nomeadamente o de Inspetor dos Desportos da Direção Geral de Educação Física Desportos e Saúde Escolar (DGEFDSE), em nome do Governo, protagonizou um confronto institucional com o COP e o seu presidente José Pontes. E a situação azedou de tal maneira que, no dia 27 de fevereiro de 1948, Salazar Carreira assinou um ofício dirigido a Otto Mayer, chanceler do COI, em que dizia que tinha sido encarregue pelo então Diretor-geral dos Desporto de lhe comunicar o seguinte: “Pelo Decreto-Lei 36:762, de 20 de Fevereiro corrente, o Governo português retirou todas as prorrogativas ao Comité Olímpico Português porque os seus membros não quiseram submeter-se às disposições legais em vigor”. E continuava: “…o Comité Olímpico Português está de hoje em diante fora de toda a hierarquia desportiva e já não tem competência para representar o país nas relações olímpicas”. O que aconteceu foi que, José Pontes, provavelmente, devido à enorme vaidade que, geralmente, toma conta dos homens de pouca altura (ele não devia ter mais de 1,60m) resolveu pôr-se em “bicos dos pés” e recusar-se a cumprir o que tinha sido estatuído no artigo 9º da Lei nº 32241 que obrigava as organizações desportivas a submeterem os seus corpos gerentes à recém-criada DGEFDSE se desejassem continuar a receber os apoios financeiros do Estado. A situação era de tal maneira pungente que Salazar Carreira, numa carta pessoal datada de 20 de janeiro de 1948, que enviou ao Chanceler do COI, chegou ao ponto de lhe perguntar se era possível manter José Pontes enquanto delegado em Portugal do COI (funções que já exercia) e, tal como acontecia em Espanha, atribuir a presidência do COP ao Diretor-geral dos Desportos.
Nos anos cinquenta ocorreu mais uma crise que se desenvolveu entre os Jogos Olímpicos de Helsínquia (1952) e os Jogos Olímpicos de Roma (1960) com repercussões até 1962. Esta crise, que foi desencadeada por Nobre Guedes, conduziu à demissão de José Pontes e à dramática expulsão do português Saúl Ferreira Pires de membro do COI. O que aconteceu foi que, Nobre Guedes, que exercia as funções de secretário do COP desde 1919, através de uma carta datada de 28 de Junho de 1953, em virtude da deficiente organização da Missão do COP aos Jogos Olímpicos de Helsínquia (1952), renunciou assumir o cargo de secretário-geral para o qual tinha sido cooptado na reunião de 25 de Junho de 1953. Em consequência, durante o Ciclo Olímpico de Melbourne (1956), Nobre Guedes viveu em conflito permanente com José Pontes que, bem vistas as coisas, já não estava em condições de gerir a instituição. Em resultado da disputa, Nobre Guedes, apesar dos protestos de José Pontes, acabou por ser eleito presidente da Comissão Executiva do COP na reunião plenária eleitoral realizada em 25 de Março de 1957. Esta crise teve custos elevadíssimos para o MO ao ponto de ter obrigado a uma intervenção do próprio COI que suportava José Pontes e, indiretamente, ter originado a kafkiana expulsão do português Saúl Ferreira Pires de membro do COI, uma questão que, ainda hoje, não está totalmente esclarecida.
Nos anos setenta, após o 25 de Abril de 1974, quando no País, a par da alegria da queda do regime de Salazar e Caetano, reinava uma enorme confusão, o MO nacional foi submetido a um rude golpe desencadeado pelos movimentos populistas que assaltaram as mais diversas organizações ligadas ao desporto. O que aconteceu foi que uma seita maoista que dominava as universidades e escolas universitárias entreteve-se a sanear vários professores do Instituto Nacional de Educação Física (INEF) entre eles Mário Moniz Pereira. Ao tempo, o COP estava “debaixo de fogo” e o esquerdismo maoista que campeava “sem rei nem roque” no País acusava a instituição olímpica de ser dirigida por contrarrevolucionários ao serviço dos imperialismos americano e soviético. Recordamos que a visão maoista do desporto fundamentava-se num manual de educação física do próprio Mao Zedong bem como no célebre “livro vermelho” que orientava a Revolução Cultural chinesa, para quem os resultados das competições deviam ser ajustadas aos interesses do Partido, quer dizer, resultados combinados. Em conformidade, na sedutora presença do primeiro-ministro Zhou Enlai, os atletas chineses eram “aconselhados” a perderem voluntariamente determinadas competições porque tal era do interesse do Partido ou do País o que era a mesma coisa. Nesta perspetiva, em Portugal, os chino-portugueses que assaltaram o poder, entre outros epítetos, acusavam Moniz Pereira de “andar a gastar o dinheiro do povo” por ir para o Algarve orientar um estágio de atletas que haviam de participar nos Jogos Olímpicos de Montreal (1976). Felizmente, a deriva maoista foi superada por Melo de Carvalho, entretanto nomeado Diretor-geral dos Desporto que, através dos designados Planos de Desenvolvimento, pôs cobro às chinesices que puseram a ferro e fogo o desporto nacional. E, em consequência da ação de Melo de Carvalho, os Jogos Olímpicos de Montreal (1976) foram salvos ao ponto da Missão Portuguesa ter conquistado duas medalhas de prata: Carlos Lopes no Atletismo (10 000m) e Armando Marques no Tiro (fosso olímpico), resultados que contrastam com os resultados conseguidos nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. 
Em 1980, o boicote aos Jogos Olímpicos de Moscovo, liderado pelos EUA por motivo da invasão do Afeganistão pela União Soviética ocorrida no ano anterior, originou uma crise nos mais diversos Comités Olímpicos Nacionais (CONs) que defendiam a posição de que os Jogos Olímpicos, na sua tradição milenar, deviam estar fora do confronto entre as duas potências. Em Portugal, o COP foi sujeito a várias pressões tanto internas como externas. Do ponto de vista interno era advogada a ida incondicional a Moscovo. Do ponto de vista externo o COP foi submetido a uma forte pressão por parte do VI Governo Constitucional liderado por Sá Carneiro no sentido de uma recusa à participação nos Jogos Olímpicos de Moscovo. Infelizmente, como nos relatou José Carvalho, ao tempo, uma atleta com “mínimos olímpicos”, os atletas foram envolvidos num processo com o qual nada tinham a ver e acabaram por, efetivamente, ser os únicos prejudicados. Salles Grade, então presidente do COP, mesmo perante uma resolução emanada do Conselho de Ministros que recomendava um boicote aos Jogos Olímpicos de Moscovo (1980), aguentou a “pé firme” todas as pressões a que o COP foi sujeito. E, a fim de cumprir uma das principais missões que competem aos CONs que é a de enviar atletas aos Jogos Olímpicos, organizou uma subscrição pública a fim de garantir os custos da operação. Depois, às Missões Olímpicas que se deslocaram a Moscovo contra a opinião dos Governos dos respetivos países não lhes foi permitido desfilar na cerimónia de abertura com a bandeira do respetivo país. Em alternativa, desfilaram sob a bandeira olímpica. A crise de 1980 vivida pelo COP terá, certamente, sido a única em que a instituição foi capaz de mostrar uma absoluta independência perante o poder político e, claramente, afirmar a sua posição singular no Sistema Desportivo nacional. A Missão Olímpica a Moscovo acabou por ser uma lição de liberdade, independência, afirmação e competência do COP que os atuais dirigentes deviam ter em atenção. 
Finalmente, a atual crise pela qual o MO está a passar, paradoxalmente, tem origem nos Jogos Olímpicos de Atenas onde a Missão portuguesa conquistou uma das melhores participações de sempre: três medalhas. Entusiasmados com os resultados os dirigentes tanto políticos como desportivos, ao tempo do XV Governo Constitucional chefiado por Durão Barroso, convenceram-se que estavam perante um maná pelo que era tão só necessário desviar o dinheiro das Federações Desportivas para o COP para que, nos Jogos Olímpicos seguintes, a realizar em 2008 em Pequim, as medalhas surgissem em profusão. Então, foram previstas nada mais, nada menos do que cinco medalhas e o presidente do COP, num momento de euforia, até chegou a anunciar ao País seis medalhas olímpicas. E, a fim de consumar esta nova visão para o desenvolvimento do desporto nacional, em 2005, já durante o XVI Governo chefiado por Santana Lopes, foi assinado um Contrato Programa entre o COP e o Instituto do Desporto de Portugal (Contrato nº 872/2005 - Contrato-programa de desenvolvimento desportivo nº 48/2005) que, do ponto de vista ideológico, numa dinâmica neomercantilista, assumia os resultados dos atletas conseguidos nas competições internacionais como um meio de afirmação político-económica do regime. Esta perspetiva, à revelia da Carta Olímpica e da Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto, tem vindo a ser processada desde então com resultados cada vez mais medíocres, sem que os dirigentes desportivos e políticos sejam capazes de reconhecer o erro que cometeram e o “beco sem saída” para onde conduziram o desporto nacional. Quer dizer, enquanto a prática desportiva nacional definha a “olhos vistos”, os Ciclos Olímpicos têm sido caracterizados pela mais profunda mediocridade que, invariavelmente, tem tido o seu epílogo numa participação medíocre nos Jogos Olímpicos. Depois de nos Jogos Olímpicos de Atenas (2004) terem sido conquistadas três medalhas, em Pequim (2008) foram conquistadas duas, em Londres (2012) foi conquistada uma única medalha de prata e, no Rio de Janeiro (2016), uma única medalha de bronze depois de, pomposamente, o presidente do COP ter anunciado seis medalhas em seis modalidades diferentes o que, orgulhosamente, colocaria o País ao nível do sucesso da Coreia do Norte. Tudo isto revela o profundo estado de desorganização do desporto nacional. Quer dizer, enquanto os responsáveis “tentam salvar a pele” a fim de conseguirem mais quatro anos de poder, os portugueses são obrigados a pagar muitos milhões de euros por um Sistema Desportivo profundamente injusto que serve cada vez mais e tão só para dar guarida a uma oligarquia político partidária que dele se apropriou. Nunca se investiu tanto dinheiro no COP e na preparação olímpica, bem como nas mais diversas áreas, setores e etapas do desporto, da educação física e do Desporto Escolar ao alto rendimento. A bem ver, o Ciclo Olímpico do Rio de Janeiro (2016), representa, tão só, mais um ponto alto da hecatombe que, desde 2004, tem sacrificado o desporto nacional em nome de uma oligarquia cujos membros, de festival dionisíaco em festival, se vão condecorando e agraciando uns aos outros. 
Por isso, quando, a quente, se admitiu o fracasso que foi a participação portuguesa nos Jogos Olímpicos do Rio (2016), se vem agora dizer que, “afinal, os resultados não foram assim tão maus quanto isso”, está-se decididamente a entrar numa dinâmica de “pós verdade” em que os factos dão origem a ficções que só podem conduzir a um novo fracasso nos Jogos Olímpicos de Tóqui (2020). Por isso, o que se exige é um mínimo de realismo e bom senso na medida em que estão em causa o dinheiro e os sentimentos dos portugueses que tiveram a oportunidade de constatar que, à partida para o Rio de Janeiro, enquanto o presidente do COP estava preocupado com o “dress code” das cerimónias olímpicas, como se os Jogos Olímpicos fossem um “reality show”, pelo menos um atleta, potencialmente candidato a uma medalha, embarcou com a bolsa e os apoios a que tinha direito mal resolvidos. E, perante esta situação, que aconteceu sem que a tutela política, que investiu nos Jogos Olímpicos mais de vinte milhões de euros, tivesse mandado levantar um processo de averiguações, só podemos chegar à conclusão de que o Governo perdeu completamente o controlo do desporto nacional. E o pior é que não revela ter a mínima consciência da incoerência sistémica em que as mais diversas organizações desportivas estão a funcionar com custos elevadíssimos para os portugueses, para o desporto e para o País. 
Entretanto, como enquanto há vida há esperança, os portugueses continuam a aguardar a prometida “nova agenda para o desporto”. Agenda que, até pelos olímpicos “golpes de mão” que estão a acontecer no desporto nacional, só o Governo tem legitimidade democrática para, numa abordagem transversal, mobilizar todas as entidades públicas e privadas que devem ser chamadas a participar num projeto de desenvolvimento do desporto nacional partilhado e continuado no tempo longo. Porque a última coisa que, agora, pode acontecer ao desporto português é ficar cativo de um qualquer grupo de interesses corporativos. Não se trata de mais Estado. Trata-se de um Estado com a medida certa e a ação exata que, decididamente, no cumprimento das suas responsabilidades constitucionais, proteja o desporto de aventureiros que, na maior das ignorâncias e irresponsabilidades, julgam que, para desenvolver desporto, é só, ao estilo “magister dixit”, “chegar ver e vencer”, bem como dos burocratas que, agarrados ao poder, saltam de partido político em partido político, de organização em organização, de lugar em lugar, de opinião em opinião, com o único intuito de, ao estilo de pequenos napoleões, numa de “quero posso e mando”, defenderem os seus próprios interesses. O desporto, a acontecer a proclamada “nova agenda para o desporto”, deve promover uma filosofia de vida ativa ao serviço do desenvolvimento humano. A não ser assim, tudo leva a prever que, ao cabo do Ciclo Olímpico de Tóquio (2020), em concordância com a progressão negativa que tem caracterizado o índice de prática desportiva, a participação olímpica portuguesa será, novamente, para além de uma confrangedora miséria, uma deprimente tristeza nacional.
NOTA
Um artigo do Professor Gustavo Pires, professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa, publicado no Jornal A Bola e  aqui transcrito com a devida vénia.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

PARA UMA CULTURA DESPORTIVA


“Quantas estradas um homem deve percorrer Para merecer o nome de homem? 
Quantos oceanos uma pomba branca deve navegar Para poder dormir na areia? 
Sim, e quantas vezes as balas dos canhões devem voar Antes de serem banidas para sempre? 
A resposta, meu amigo, está soprando no vento. A resposta está soprando no vento. 
Sim, e quantas vezes um homem deve olhar para cima Antes de conseguir ver o céu? 
Sim, e quantos ouvidos um homem deve ter Para conseguir escutar o choro das pessoas? 
Sim, e quantas mortes serão necessárias até o homem saber Que demasiadas pessoas já morreram? 
A resposta, meu amigo, está soprando no vento. A resposta está soprando no vento!”. 
Na cultura desportiva, cabem inteiramente estas palavras de Bob Dylan.


Quando se fala em “cultura” procura enfeudar-se esta palavra tão-só à “cultura ilustrada”, isto é, mormente à filosofia, à literatura e às artes e aos seus mais famosos intérpretes, a chamada intelligentsia, a qual, para o ato da criação, não esconde um anseio constante de liberdade. Nas ditaduras políticas, escutam-se sempre, com maior ou menor dificuldade, as reivindicações e aspirações justas de alguns escritores que jazem aferrolhados nas cadeias, pela única razão de gritarem, sem medo, a palavra “liberdade”. 
Assim, as mulheres ou os homens cultos, são, para muita gente, pessoas filosófica, literária e artisticamente informadas e com prática reconhecida e de indiscutível originalidade, no pensamento, na ficção e na arte. Alguns deles são mesmo autores de obras imortais, que dão ao que fazem sinais evidentes de eternidade. O sistema cultural integra um sentido antropológico de cultura, onde a cultura se distingue da natureza e do que não decorre das disposições hereditárias do indivíduo; um sentido etnográfico, onde cabem as crenças, os ritos, as normas, os valores, os hábitos, os modelos de comportamento de uma região ou de um povo; e, como vimos acima, uma cultura aristocratizante e elitista, só ao alcance da intelligentsia. No meu entender, a cultura humaniza e não civiliza. E, quando civiliza, é para melhor humanizar. Assim, a cultura desportiva não se divisa, ao jeito do que se passa na cultura científica ou na cultura literária, em pessoas unicamente de grande erudição mas, nos “agentes do desporto” que operam uma dialética orientadora e estruturante, entre a teoria e a prática desportivas, para que o Desporto satisfaça as exigências de um diálogo, em cada um de nós, entre as dimensões biológica e existencial, entre o pensamento científico e o pensamento sapiencial, entre a motricidade humana e a vida. Segundo a célebre definição de Ortega y Gasset, na sua História como Sistema: “El hombre es el ente que se hace a si mismo” (p. 33). E como? No meu entender, superando-se! Como no Desporto que é “movimento intencional e em equipa da transcendência”. 
A cultura desportiva, pela transcendência, reconhece, no ser humano, a sua dignidade. O que caracteriza o ser humano, para que ele seja confirmado na sua eminente dignidade? O desportista culto responde: A capacidade de transcender e transcender-se até ao ponto em que ser, na sua complexidade, e dever ser, como imperativo categórico, coincidam. A cultura resulta de uma vida que se faz e que se pensa. Portanto, a cultura desportiva não a têm (se não laboro em erro) os que praticam Desporto e desconhecem o sentido último da prática desportiva, nem os teóricos que não foram nunca “agentes do desporto”, manifestando, muitas vezes, uma serena indiferença pelo horizonte social e histórico do desporto. Para mim, quem só teoriza - não sabe; e quem só pratica – repete. “A cultura (escutei ao Padre Manuel Antunes) é a aliança do saber e da vida”, isto é, urge assumir, na cultura desportiva, uma incoercível responsabilidade prática, vivificada pelos grandes desafios culturais do nosso tempo. E assim a cultura desportiva significar o advento de um desporto novo! O Desporto é a experiência vivida de um comportamento complexo que, em movimento intencional e expressivo, procura a transcendência. Um comportamento complexo, quero eu dizer, servindo-me de palavras de Buytendijk: “um movimento existencial”. E portanto, um sujeito que, em movimento, intencional e afetivamente, transcende e se transcende. O movimento surge como elemento básico, na relação com o nosso semelhante e com a natureza. E, tendo em conta a complexidade humana, transforma-se num dos aspetos da fenomenologia da verdade sobre o ser humano. Com efeito, o Desporto é tanto um espaço do físico como do espírito e até do religioso. Está por tentar-se uma teologia do Desporto, onde bem possa compreender-se a diferença entre indivíduo e pessoa e possam ainda escutar-se as palavras de E. Mounier: “A pessoa só cresce na medida em que, sem cessar, se purifica do indivíduo que nela está” (Oeuvres, vol. I, Seuil, Paris, p. 62). O indivíduo, queria dizer Mounier: a total ausência de transcendência, pois que, na transcendência, diviso o outro, diviso os outros, diviso o Absoluto…
O ser humano é um “animal axiológico”, pois que vivemos reconhecendo valor aos produtos da Natureza e da Cultura, em poucas palavras: às coisas materiais e às ações humanas. No entanto, o que de mais importante a vida tem não atribuímos preço, mas valor. Uma pessoa não tem preço, mas valor. Não há preço que pague uma vida humana. Releio uma página de Edgar Morin do livro A Via – para o futuro da humanidade (I. Piaget, Lisboa, 2016): “É especialmente importante sublinhar a necessidade de uma reforma do conhecimento, pois atualmente (…) o problema da educação e o problema da investigação estão reduzidos a termos quantitativos: mais créditos, mais professores, mais informática, etc. Mascara-se, deste modo, a dificuldade maior que sobressai do fracasso de todas as reformas sucessivas do ensino: não podemos reformar a instituição sem ter, previamente, reformado os espíritos, mas não podemos reformar os espíritos, se não tivermos, previamente, reformado as instituições (…). Temos de nos opor à inteligência cega que tomou o controlo, em quase todo o lado, e temos de reaprender a pensar, uma tarefa de salvação pública (…). Com a marginalização da filosofia e da literatura, falta cada vez mais, na educação, a possibilidade de enfrentar os problemas fundamentais e globais do cidadão, do ser humano. Estes problemas necessitam, para serem abordados, da possibilidade de reunir múltiplos conhecimentos, separados em disciplinas. Exigem um modo mais complexo de conhecer, um modo mais complexo de pensar” (pp. 161/162). Um problema humano não se conhece, servindo-nos, unicamente, do conhecimento científico. Há necessidade também da filosofia, da religião, da cultura. Para mim, a motricidade é o elemento fundamental da educação, pois que é (é mesmo) o fio condutor que promove e realiza a unidade corporal e mental da pessoa. Ainda para mim, há três princípios teóricos fundamentais, na motricidade humana: 1. O conceito de complexidade, que une e explica a natureza humana. 2. O princípio homeostático de relação. 3. O princípio axiológico-transcendental, que dá sentido a cada uma das nossas ações. 
Termino, com a letra de uma canção de Bob Dylan, Prémio Nobel da Literatura de 2016: 
“Quantas estradas um homem deve percorrer Para merecer o nome de homem? 
Quantos oceanos uma pomba branca deve navegar Para poder dormir na areia? 
Sim, e quantas vezes as balas dos canhões devem voar Antes de serem banidas para sempre? 
A resposta, meu amigo, está soprando no vento. A resposta está soprando no vento. 
Sim, e quantas vezes um homem deve olhar para cima Antes de conseguir ver o céu? 
Sim, e quantos ouvidos um homem deve ter Para conseguir escutar o choro das pessoas? 
Sim, e quantas mortes serão necessárias até o homem saber Que demasiadas pessoas já morreram? 
A resposta, meu amigo, está soprando no vento. A resposta está soprando no vento!”. 
Na cultura desportiva, cabem inteiramente estas palavras de Bob Dylan.

Artigo de MANUEL SÉRGIO, professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana e Provedor para a Ética no Desporto.

sábado, 26 de novembro de 2016

"QUE PAÍS QUEREMOS SER" (II)


A propósito do meu texto de ontem, recebi, na minha página de FB, uma mensagem assinada por Gabriel De Matos II, que aqui reproduzo:


"Meu caro amigo, a resposta a esse senhor é muito simples: "que pais queremos ser"... Pois bem, queremos ser um pais sem corrupção e sem corruptos, sem políticos que entram tesos na polÍtica e meia dúzia de anos depois estão milionários. Queremos ser um país onde o mérito seja primordial e não o parentesco ou afiliação partidária. Queremps ser um país onde não se faça tráfico de influências. De manhã turno na assembleia. De tarde turno no escritório como advogado. É vergonhoso. Queremos ser um país onde se respeite o património histórico em detrimento do megalomaníaco lobby da construção. Queremos ser um país onde a classe política seja um exemplo. Não como agora. Queremos ser um país onde quem queira montar um negócio não tenha que andar num beija mão aos caciques locais. Queremos ser um país onde os corruptos sejam rapidamente condenados e encarcerados. Queremos ser um país onde o mais alto responsável da AT não venda soluções de evasão fiscal através de empresa onde é accionista. Queremos que as dívidas criadas pelos políticos sejam pagas pelos mesmos. Queremos ser um país onde os ditos altos funcionários públicos, usem transportes públicos, e façam uma vida espartana tal como nos países Nórdicos. Queremos viver num país onde não se façam concursos públicos onde se CONVIDA um único operador como candidato! Queremos viver numa região onde os políticos cumpram as suas promessas e tenhamos alternativas de transporte de conexão com o Continente. Queremos viver numa região onde os preços de passagens aéreas seja aceitável, e não como actualmente. Queremos viver num país onde a justiça funcione e puna quem nos rouba. Isto é o basico. Depois sem dúvida há imenso a fazer em todos os sectores. Vivemos numa região onde até os limões se importam, do Uruguay ! E se venderam este verão a 4 eur o kg quando se compra frango a 1 euro. No entanto insiste-se reflorestar com árvores que acabarão por morrer e serão substituidas, obviamente, pela mesma empresa, de todos conhecida. É este estado de coisas que afasta as pessoas da política. As pessoas sentem náuseas com o que se passa por todo o lado. Houve dinheiro para tudo desde que falemos de obras públicas. E continua a haver. No entanto no hospital continua a não haver papel higiénico. Este é o problema de os lugares de topo estarem ocupados pelos eternos mentecaptos porém afilhados do regime. Enquanto assim for, esta ilha nunca será viável, a não ser para os que se dedicam a obras públicas, até porque falamos de uma ilha com a dimensão de uma pequena cidade como Sintra. Nunca me posso esquecer destes números da RAM: 11 Municípios e 56 Juntas de Freguesia. É de passar o dia a mijar a rir ! Para depois passar toda a noite a chorar!"
Ilustração: Google Imagens.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

"QUE PAÍS QUEREMOS SER" OU QUE REGIÃO QUEREMOS SER?


O ex-governante e ex-vice-presidente do governo regional da Madeira, Dr. João Cunha e Silva, iniciou, hoje, nas páginas do DN-Madeira, uma crónica semanal a que deu o título "Que País queremos ser". Li, com interesse, pelo facto de ter sido governante com altas responsabilidades e de há muito se ter remetido a um certo recato político. Voltei a ler o texto e nele descobri tantas aspectos que incomodam. Desde logo, a velha e gasta tecla de continuar a falar do País quando por aqui tem tanto por onde esmiuçar. Foi sempre assim, é verdade, pontapear para longe a bola dos problemas que nos afligem. Sempre os outros! Repisei esta passagem: "(...) Os países devem saber por onde ir. Tomar um caminho e apostar nessa direcção. E, então, pôr a lenha toda no assador. Ora há anos que não sabemos por onde ir. Que país somos? Um país agrícola? De mão de obra barata? Um país produtor? Industrializado e a apostar na indústria? Um país de serviços? De turismo? De tecnologias de ponta? De empreendedores? Inovador? Exportador? Um país do conforme? Conforme sopra o vento daqui ou dali? Se colocarmos a questão a vários ministros eles responderão de forma atabalhoada, imprecisa e de jeito diferente. (...)". 


Ao ler e reler fui-me questionando, exactamente com as mesmas perguntas, porém, retirando a palavra País substituindo-a por Região. E é aqui que a porca torce o rabo! O Dr. Cunha e Silva, mesmo sem querer, dá a resposta política: "(...) É verdade que andamos na rotunda às voltas e a perder tempo durante longo período (...)". Nem mais, inclusive, gastando o que a Região tinha e o que não tinha, defraudando e desiludindo as "legítimas expectativas" (...) a "dos mais velhos por causa do seu presente, dos mais novos por causa do seu futuro". Tiro certeiro. Aliás, não quero trazer à colação, enumerando-as, as loucas obras, algumas megalómanas e de triste memória, uma ou outra ocultada com um o tapume da vergonha e do mau senso, pois os madeirenses bem conhecem. Não interessa, sequer, trazer para aqui a preocupante dívida de milhões acumulados que é, tudo leva a crer, impagável, tampouco interessa trazer ao presente quarenta anos de muitos de surdez política relativamente a tantos e sérios avisos, centro-me, apenas, nas perguntas do Dr. João Cunha e Silva que estão atrasadas quarenta anos. As questões por si levantadas, em abstracto, estão certas quando defendidas por alguém que por lá não tivesse passado, que não tivesse tido as rédias na mão, nunca por quem decidiu embora não sabendo "por onde ir". A questão é esta e não qualquer outra. Ninguém pode "sacudir a água do capote" quando, politicamente, foi decisor, esteve por dentro, governou, que teve nas mãos a possibilidade de garantir "às gerações vindouras fundadas esperanças num futuro melhor", como escreveu. Mas, enfim, se alguém julga que a memória das pessoas é curta, pessoalmente, não estou muito certo disso. Algumas passam, outras, talvez porque tudo está muito fresco, avivam-se com  muita facilidade. Ou será que a falar do País o Dr. João Cunha e Silva está a querer, na verdade, jogar para outros "amigos de governo" as responsabilidades que teve? Por ter avisado e não ter sido escutado? Não sei, só a sua consciência poderá dizer. 
Ilustração: Google Imagens.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

EXCELENTES MARATONISTAS MEDIÁTICOS



Causa-me impressão negativa, muito negativa, quando um político, com funções de governo, entra em uma roda viva diária para aparecer em tudo, em uma lógica que as pessoas, leiam-se eleitores, comem imagem e não os conteúdos do que fazem. Movimentam-se através dos seus assessores para a comunicação social, mobilizam tudo e todos, nem que seja para uma reunião de circunstância, uma visita ou entrega de uns diplomas de um "(re)curso" qualquer. Se olharmos ao essencial, aquilo que resta, depois da produção do fumo, muito pouco ou mesmo nada. Fica a ideia que, politicamente, "mais vale uma imagem que mil palavras", isto é, mais vale a azáfama de estar aqui e ali, se possível com alguma fotogenia, do que as acções tendentes a resolver os graves problemas graves com que se debatem. Andam de um lado para outro, correm e correm, não se sabendo para onde. O fundamental, o estruturante do futuro, fica para depois. A pobreza está mais esbatida? Não está. Há mais e melhor emprego estável? Não há. Aliás, os indicadores são muito claros: há cada vez mais dependentes dos apoios das instituições de solidariedade social e o desemprego está a níveis extremamente preocupantes. Apesar disso, continuam a correr, a correr muito, ao ponto de não se perceber se têm tempo para governar. O cumprimento da agenda mediática sobrepõe-se aos actos de governação portadores de futuro. O que esperar de políticos assim? Nada.
Ilustração: Google Imagens.