O ex-governante e ex-vice-presidente do governo regional da Madeira, Dr. João Cunha e Silva, iniciou, hoje, nas páginas do DN-Madeira, uma crónica semanal a que deu o título "Que País queremos ser". Li, com interesse, pelo facto de ter sido governante com altas responsabilidades e de há muito se ter remetido a um certo recato político. Voltei a ler o texto e nele descobri tantas aspectos que incomodam. Desde logo, a velha e gasta tecla de continuar a falar do País quando por aqui tem tanto por onde esmiuçar. Foi sempre assim, é verdade, pontapear para longe a bola dos problemas que nos afligem. Sempre os outros! Repisei esta passagem: "(...) Os países devem saber por onde ir. Tomar um caminho e apostar nessa direcção. E, então, pôr a lenha toda no assador. Ora há anos que não sabemos por onde ir. Que país somos? Um país agrícola? De mão de obra barata? Um país produtor? Industrializado e a apostar na indústria? Um país de serviços? De turismo? De tecnologias de ponta? De empreendedores? Inovador? Exportador? Um país do conforme? Conforme sopra o vento daqui ou dali? Se colocarmos a questão a vários ministros eles responderão de forma atabalhoada, imprecisa e de jeito diferente. (...)".
Ao ler e reler fui-me questionando, exactamente com as mesmas perguntas, porém, retirando a palavra País substituindo-a por Região. E é aqui que a porca torce o rabo! O Dr. Cunha e Silva, mesmo sem querer, dá a resposta política: "(...) É verdade que andamos na rotunda às voltas e a perder tempo durante longo período (...)". Nem mais, inclusive, gastando o que a Região tinha e o que não tinha, defraudando e desiludindo as "legítimas expectativas" (...) a "dos mais velhos por causa do seu presente, dos mais novos por causa do seu futuro". Tiro certeiro. Aliás, não quero trazer à colação, enumerando-as, as loucas obras, algumas megalómanas e de triste memória, uma ou outra ocultada com um o tapume da vergonha e do mau senso, pois os madeirenses bem conhecem. Não interessa, sequer, trazer para aqui a preocupante dívida de milhões acumulados que é, tudo leva a crer, impagável, tampouco interessa trazer ao presente quarenta anos de muitos de surdez política relativamente a tantos e sérios avisos, centro-me, apenas, nas perguntas do Dr. João Cunha e Silva que estão atrasadas quarenta anos. As questões por si levantadas, em abstracto, estão certas quando defendidas por alguém que por lá não tivesse passado, que não tivesse tido as rédias na mão, nunca por quem decidiu embora não sabendo "por onde ir". A questão é esta e não qualquer outra. Ninguém pode "sacudir a água do capote" quando, politicamente, foi decisor, esteve por dentro, governou, que teve nas mãos a possibilidade de garantir "às gerações vindouras fundadas esperanças num futuro melhor", como escreveu. Mas, enfim, se alguém julga que a memória das pessoas é curta, pessoalmente, não estou muito certo disso. Algumas passam, outras, talvez porque tudo está muito fresco, avivam-se com muita facilidade. Ou será que a falar do País o Dr. João Cunha e Silva está a querer, na verdade, jogar para outros "amigos de governo" as responsabilidades que teve? Por ter avisado e não ter sido escutado? Não sei, só a sua consciência poderá dizer.
Ilustração: Google Imagens.
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