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DIÁRIO de Notícias
22 AGO 2019
Na minha anterior abordagem a este assunto, resumi num pequeno historial, os factos que levaram à abertura do acesso rodoviário das Ginjas em S. Vicente, pelos Serviços Florestais da Madeira no início da década de 1980, e das implicações que tal obra causou ao coberto florestal indígena da Ilha da Madeira. Em Dezembro de 1999, por ocasião da 23ª Sessão do Comité do Património Mundial da UNESCO, que decorreu em Marraqueche, a floresta Laurissilva da Madeira foi formalmente inscrita na Lista do Património Natural Mundial daquela Instituição, o primeiro Bem de Portugal, e o único até ao momento a merecer tal prestigiante distinção.
Foram cinco anos de um longo processo de avaliação técnico-científico, conduzido pelo então Serviço do Parque Natural da Madeira, tendo em vista a formalização da candidatura. A Laurissilva da Madeira preencheu dois dos quatro critérios que a UNESCO determina (bastava que preenchesse apenas um), para que um Bem possa figurar na Lista do Património Natural Mundial.
Assim, a Laurissilva cumpriu o critério II “...exemplo eminentemente representativo de um ecossistema ecológico único à escala mundial...”, bem como o critério IV “...conter os habitats naturais mais representativos e importantes para a conservação in situ da diversidade biológica da flora e da fauna e de espécies ameaçadas apresentando um valor universal excepcional do ponto de vista da ciência e da conservação.”
Por aqui se depreende da responsabilidade que sobre nós pende, perante o compromisso que assumimos para com o Mundo, para a perpetuação deste valioso e único património natural. A partir do momento em que a Laurissilva foi considerada Património Mundial, a Madeira assumiu o papel de fiel-depositária, obrigando-se a conservá-la, e, sempre que possível, melhorá-la, e garantir a sua integridade e perenidade para toda a humanidade.
Pelo que se assiste, e pela postura que este GR assumiu publicamente, estão a preparar-se para fazer de tudo o que está assumido, tábua rasa. Temos que estar muito atentos ao que se está a passar, e se necessário ir até às últimas consequências, na defesa da nossa Floresta Laurissilva, Património do Mundo!...
Faço no entanto, ao GR e ao Município de S. Vicente, uma proposta absolutamente viável, que é a da recuperação do Caminho Real Nº 28, que ligava S. Vicente à Ponta do Sol, passando precisamente pelo Caramujo (onde é possível ver ainda a respectiva porta de entrada), prosseguindo até aos Estanquinhos, atravessando todo o Paúl e descendo para o sítio das Cruzinhas na vertente Sul.
Associada a esta intervenção, deveria proceder-se à recuperação das casas do Caramujo (pertença da Região e actualmente em completo abandono), transformando-as em alojamento turístico de natureza, dando lugar assim a um pólo de actividade único e de grande qualidade cénica e ambiental. Esta sim, seria uma medida culturalmente inteligente, com plena justificação do emprego de fundos comunitários.
Para os que pretendam apreciar a Laurissilva, comodamente instalados num automóvel, podem fazê-lo percorrendo um belo trecho da Estrada Regional que liga S. Vicente à Encumeada.
Terminaria, fazendo com a vénia que merece, uma referência ao Senhor Eng.º Rui Vieira, que num dos seus últimos escritos (Islenha Nº 42/2008), e que assim escreveu a propósito da Laurissilva: “A Laurisilva é, acima de tudo, um monumento da Natureza, um lugar sublime de supremo gozo e contemplação, uma vida multifacetada activa e milenária que se oferece à ciência e à cultura de toda a Humanidade, uma fonte inesgotável de bens para a ilha que com ela respira e que merece, por isso, todo o respeito. Espera-se dos responsáveis que a gerem, mais do que serem guardiães valorosos, que sejam também devotos convictos, defensores acérrimos e inteligentes e permanentemente dispostos a fazer pedagogia sobre o inestimável valor do património por que velam”.
Ilustração: Google Imagens.
Ilustração: Google Imagens.
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