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domingo, 28 de outubro de 2018

UMA MORTE QUE ENVERGONHA A POLÍTICA REGIONAL. NÃO VENHAM, AGORA, COM LOUVORES, MANTENHAM-SE IGUAIS A SI PRÓPRIOS!


Milhões, muitos milhões derramados em "obras", por todos os cantos da Região, uns com os olhos focados nas inaugurações em vésperas de actos eleitorais e , outros, sedentos do maná proveniente dos impostos. Todos os meses é enorme a listagem de contratações públicas. Milhões, muitos milhões para alimentar a teia de pequenos e grandes interesses que me fazem trazer à colação Chico Buarque: "Meu Caro Amigo" (Vítor Costa): "Aqui na terra tão jogando futebol / Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll / Uns dias chove, noutros dias bate o sol / Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta (...)". Há cinco milhões para a "cultura do futebol profissional", mas nunca houve duzentos e cinquenta mil Euros para pagar mais de 900 OBRAS que perpetuarão a morte do Maestro. Milhões, muitos milhões dados a fundo perdido ou gastos em obras públicas de duvidoso interesse ou que tivessem sido reclamadas pelos cidadãos. Milhões, muitos milhões, em um permanente "anda a roda" para uns e, para outros, com "OBRA" realizada, dizem, o justo pagamento terá de aguardar por "cabimentação orçamental". E os anos passaram, a doença chegou e com ela um fim de vida na miséria.

Surgirão, agora, hipocritamente, os louvores, o minuto de silêncio e, não me admiro nada, a condecoração como alívio da má consciência. 
Acompanha-me o som do Hino da Região do Maestro João Vítor Costa e a letra do saudoso Professor Ornelas Teixeira. Paro nos versos: "(...) Por esse Mundo além / Madeira, honraremos tua História". Digo eu, qual honra e qual História quando, cá dentro, foram incapazes de honrar uma das suas mais ilustres figuras? 
Chocou-me e comoveu-me ler a declaração de Eugénio Perregil no Diário: o Maestro "vivia com imensas dificuldades (...) Ele era pobre, eu vi o frigorífico da casa todo vazio (...) em várias ocasiões paguei-lhe o almoço e o jantar". E hoje, no cemitério, os que permitiram que tal acontecesse, sem a mínima vergonha, cumprirão o número, desfilando com um ar condoído. Ninguém se sentirá culpado. A lógica sempre foi a de jogar para o lado ou atirar para cima as responsabilidades. Neste caso a de uma OBRA de 250 mil Euros, ter baixado salvo erro para 100 e cujo montante nunca ter sido pago. 
Em 2016, com a voz embargada, disse numa entrevista à RTP-Madeira:

"(...) eu não corro o perigo de ficar rico, mas corro o perigo de ter necessidades... e quem não as tem? É questão de fazer uma contratação, verbal ou por escrito, dizendo, nós vamos dar tanto e eu digo sim senhor. Quanto me dão por mês para viver desafogado? E o resto dou aos dois filhos que tenho (...) O Hino da Região da Madeira, os respectivos direitos de autor nunca me foram pagos (...)".

É revoltante, depois de tantas promessas oriundas do Governo e da Câmara do Funchal, passados tantos anos de insistentes pedidos para que uma instituição ficasse com o espólio, ter-se confirmado, por incúria, o vaticínio do Maestro: "corro o perigo de ter necessidades"Não há desculpa política para uma situação destas. Enquanto madeirense, sinto VERGONHA, pela insensibilidade cultural. Caro Maestro, parafraseando Buarque, esteja onde estiver, saiba que aqui na terra continuam a jogar futebol. Que descanse em PAZ, porque foi um Homem de paz. 
Ilustração: Google Imagens.

2 comentários:

Anónimo disse...

Por não conhecer de perto a verdadeira situação economica do Maestro, chama-me à reflexão, o seguinte:
O Maestro não foi funcionario público? Não tinha uma pensão? Eventualmente baixa. Mas teria. Por isso acho que será exagerado dizer que o Maestro morreu na miséria, entendendo a expressão como fazendo parte da luta politico-partidaria.

André Escórcio disse...

Peço desculpa por só agora publicar o seu comentário. Infelizmente não dei conta da entrada.
Confesso que também me pareceu exagerado. Como terá reparado, apenas transcrevi algumas passagens publicadas no DN e em uma entrevista publicada na RTP-Madeira. Que não vivia desafogado, isso parece-me inquestionável. Lamento, apenas, que, em vida, não tivessem pago o justo valor por um acervo que deve ser património da Região.
Agradeço o seu comentário.