Adsense

sábado, 26 de janeiro de 2019

O exemplo vem de cima... FALSO!


Tudo ou quase tudo sobre como educar tem a família como elemento indispensável. É ali, desde o nascimento, que se inicia o processo de aculturação, isto é, de acordo com todos os estímulos, o novo membro acultura-se na cultura dos pais. Ele é recebido em uma determinada cultura, paulatinamente, entra em contacto com ela e vai interiorizando essa cultura. Pierre Bourdieu fala do conceito de "habitus" que não é muito diferente do conceito "código" apresentado por Bernstein. Uma criança nasce e, desde logo, fica inserida em um processo de sociabilização, isto é, à medida que  se vai apercebendo do mundo, vai também captando o que é que as outras pessoas esperam dela. Sociabiliza-se. Existe, aqui, uma inculturação, que possibilita conhecer as normas. De início, não entra, obviamente, nesse jogo, mas aos poucos interioriza os comportamentos que os outros esperam dela. 


Interiorizam as tais normas, os princípios, os valores, entre muitas, as maneiras de falar e de sentir. Já Bernstein partiu para este estudo no quadro de um conceito sócio-linguístico. Daí o "código" como elemento de decifração. Fico por aqui, porque, o que aqui me traz, não são os estudos nesta área, mas a família como elemento fundamental de um ser com uma educação assente, no mínimo, em princípios e valores.
Quem entra em uma escola reconhece que há um longo caminho a percorrer de sociabilização a montante da própria escola. E não é o factor pobreza, de per si, que influencia, negativa e determinantemente, tantos e sensíveis comportamentos inadequados. Conhecemos pessoas que, sendo pobres, evidenciam uma postura irrepreensível. Mas há uma sociabilização que tem sido descurada, um "habitus" que não existe, daí, na esteira de Bourdieu, a sua inexistência provoca que as disposições não sejam duráveis, porque não foram, até inconscientemente, interiorizadas as experiências vividas. Dir-se-á que não existe uma matriz de suporte que venha a integrar todas as experiências futuras. E isto acaba por ser determinante a todos os níveis. Quando esta interiorização falha, no seio da família, nem a escola pode suprir tais carências. Pode atenuar, é certo, mas não resolve. Mas vamos ao que interessa.
No DN-Madeira de ontem li duas frases que deixam qualquer pessoa inquieta:

"Marcelo está preocupado em andar a passear de camião 
   e a fazer jogos de bastidores para ser reeleito" 

"É tempo de tomar uma posição sobre esta pouca-vergonha. Nós votámos 
para o Presidente da República, não para tirar selfies"  

Não vou aqui referenciar os respectivos autores, mas são da mais alta hierarquia política do governo e da Assembleia. Frases que formam nódoas que só saem com benzina, parafraseando Eça. Ininteligível. Nem o Senhor Presidente da República escapa a esta desonra, vexame, eu diria, insulto público. É que não se trata do amigo do lado e de gabinete, de um desabafo feito dentro de paredes, mas um ultraje público ao mais alto Magistrado da Nação. Mesmo considerando razões de queixa (!), convenhamos que não é assim que, democraticamente, se exprime a discordância. O Sociólogo Pierre Bourdieu (1930/2002) tinha razão e, pena minha, nem a família, nem a escola, nem os políticos eleitos ajudam a resolver o problema das normas segundo as quais a nossa matriz comportamental se estrutura. O que fazer?
Ilustração: Google Imagens.

Sem comentários: