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sexta-feira, 11 de outubro de 2019

"São paletes" de interesses e de cumplicidades...


Há pessoas que nascem com uma admirável capacidade de adaptação. São enciclopédicas no conhecimento de tudo quanto as rodeia. Por maior que seja a complexidade. Eu diria que pertencem ao grupo do "desenrasca". Crescidos em ambiente político favorável, estão ou vão, alegremente, para onde o padrinho indicar. Com a maior facilidade denunciam que dominam tudo, que é multifacetada a sua competência, embora seja outra a idoneidade profissional. Polivalência e nariz colado ao joelhos é o que mais se vê. E isto é extremamente preocupante, porque é a "coisa pública" e o futuro que estão em causa. Pelo menos a mim deixa-me inquieto, simplesmente porque seria incapaz de aceitar um lugar para o qual não tivesse formação condizente e um passado de experiência, percorrido em vários patamares, que me habilitassem para uma determinada tarefa. Alguns chamam àquilo a "dança das cadeiras", porém, é muito mais complexo do que isso. Na expressão de Herman José, "são paletes" de interesses, de cumplicidades e, em alguns casos, de alguma falta de vergonha. Um cidadão atento é capaz de sentir revolta.


Tempos houve, mesmo antes do 25 de Abril, que, para além da fidelidade partidária tornava-se necessário ter idade, leia-se maturidade, e competência. Hoje, basta andar pelos corredores do poder partidário, fortalecer laços de amizade, acrescido de uma mãozinha de fora para dentro que dá sempre jeito.
Fará algum sentido ser dispensado do governo e na legislatura seguinte regressar ao mesmo local? O que aconteceu de permeio? Fará sentido, a quem foi feita a acusação de "estar a dormir na forma" e, por isso, logo depois dispensada, aceitar pertencer a um governo, ser novamente dispensada e ter caminho aberto para liderar os portos da Madeira, sendo a sua formação na área da engenharia agronómica? Será que gerir uma escola de hotelaria ou de música é a mesmíssima coisa que administrar um sistema de saúde? Faz sentido uma socióloga liderar um instituto de saúde? E um farmacêutico reunirá as condições para liderar assuntos do mar e pescas? Politicamente pode, mas não me parece adequado.  E isto nada tem a ver com as pessoas, que as respeito, mas com a necessária adequação entre a formação, a experiência e a função. São tantos os exemplos.
Mais. Para contemplar interesses diversos, nesta região, de pouco mais de 260.000 pessoas, fará sentido ter um governo que passa de nove para onze governantes? E manter uma Assembleia com 47 deputados? E uma estrutura político-administrativa geral que significa um Estado dentro do Estado? 

Não se deve comparar a dignidade Constitucional de uma Região Autónoma com um concelho. Mas atrevo-me, por mera curiosidade, trazer à colação Sintra que tem mais de 100.000 habitantes que a Madeira e é gerida por um presidente de Câmara e dez Vereadores. Aqui temos, praticamente, um Estado dentro do Estado. Tudo isto deverá ser motivo de estudo que conduza a novos reenquadramentos, desde a divisão administrativa da Região até aos lugares de administração e gestão absolutamente dispensáveis. 
Ganharia a Autonomia e ganhariam as pessoas.

Apenas uma nota: nos Açores, com nove ilhas, distantes 600 km entre a primeira e a última, o governo é composto por um presidente, um vice-presidente e sete secretarias*. Aqui, para governar duas ilhas são necessários onze membros do governo. Está tudo dito.
Mas este texto não visa essa análise, antes a febre por um lugar mesmo que para tal, alguns ou muitos, não tenham a necessária formação. É tempo de pensar nisto, na necessidade de uma profundíssima reforma do sistema político, uma assumida posição contra este claro jogo partidário, onde as peças deixem de rodar de acordo com os interesses, com as cumplicidades, a satisfação de clientelas e, poucas vezes, com a competência.


Ilustração: Google Imagens.

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