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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

CUIDADO COM O QUE SE DIZ: A REALIDADE DO SISTEMA EDUCATIVO É BEM DIFERENTE


Não é só o problema das comunicações, é a factura da água e energia eléctrica com muitos meses de atraso, as facturas, algumas com vários anos, que fazem desesperar os fornecedores, os sobressaltos constantes nas cantinas (ainda ontem foi dado conta da Francisco Franco), o dramatismo vivido nas reprografias, a limitação do número de testes de avaliação de conhecimentos por falta de papel e toner e a pouca-vergonha nos cortes da acção social educativa. Mais, ainda, algum Colega poderá esquecer, por exemplo, algumas normas do caricato Estatuto da Carreira Docente, o aberrante sistema de avaliação de desempenho que querem impor, a trapaça que é a autonomia dos estabelecimentos de educação e ensino, a péssima estrutura da rede escolar, repito, os saldos negativos de vários anos que transitam e que coarctam a concretização dos projectos educativos, o que andam a fazer com a educação especial, a vergonhosa dispensa de professores a coberto da grosseira mentira da diminuição de alunos, a dívida de seis milhões de euros aos professores com tempo de serviço e avaliação positiva, a subjugação a tudo o que vem do Ministério da Educação desvirtuando a capacidade autonómica da Região, a burocracia que a todos inferniza, a não contagem do tempo de serviço congelado (28 meses) para efeitos de reposicionamento na carreira, ao contrário do que aconteceu nos Açores, enfim, até o próprio orçamento da Região que não respeita a prioridade da Educação sobre os demais sectores? Alguém poderá esquecer ou ignorar tudo isto? Esquecer que o governo faz o possível por ignorar as reivindicações apresentadas pelos representantes dos professores, protelando reuniões e apresentado as situações numa política de facto consumado?


Em nada me são estranhos certos comportamentos. São consequência de muitos anos, quase quarenta, afora outro meio século de total obscurantismo. As situações ambientais vão criando névoas que bastas vezes impedem, por um lado, de ver e testemunhar a realidade, por outro, conduzem a uma subordinação à teoria do facto consumado, de um certo fatalismo, pois sempre foi assim, dizem. Não há que dramatizar, ouvi. O que interessa é "arregaçar as mangas", não para tocar nas feridas que sangram, não para resolver os problemas de fundo, mas para remediar. Criam-se, assim, inclusive na opinião pública, biombos que impedem a solução dos problemas. Estou em crer que tal acontece, muitas vezes, por algum voluntarismo primário irreflectido, como um dia me disse o meu Amigo Professor João Coutinho, a propósito das atitudes de alguns professores que parecem dizer: "em verdade vos digo que não acredito no que digo". Escorregam, assim, nessa atitude de adoçar uma pílula verdadeiramente amarga, que não atenua a dor nem traz futuro. Aquilo que é dramático é transmitido como uma situação quase normal, ultrapassável, naturalmente, claro, com o apoio de quem governa, que, aliás, tem feito um bom trabalho, escutei, não com estas palavras, mas outras semelhantes.
Eu sei que ninguém gosta de mostrar os cantos a esta casa educativa com problemas e carências de toda a ordem. A teoria de "pobres mas remediados" fez o seu caminho, desde há muito, desde António de Oliveira Salazar, o ditador que governou mais de 40 anos (há quem queira bater este recorde), um homem que apregoava a sua pobreza, chegando a afirmar que "um povo que tenha a coragem de ser pobre é um povo invencível". Deixou-nos um legado de analfabetismo que, ainda hoje, pagamos. Ora, quando não se quer ver a realidade, quando não se procuram as causas e, com frontalidade, chamamos os bois pelo seu nome, os que assim se comportam, docemente e de sorriso rasgado, acabam por estar a laborar no erro de manter situações de prognóstico catastrófico. Um exemplo: posso dizer que os professores são o alicerce do sistema educativo (e são) e que todos estão empenhados em suprir as dificuldades (e estão), mas não posso assumir como facto consumado que, faltando, na escola, o sistema de comunicações (telefones), os professores e outros, resolvem o problema com os seus telemóveis. Se é assim com as comunicações, como não será no resto! Sendo este um mero e talvez pequeno exemplo no contexto de tantos problemas mais graves, entrar por aí, por uma solução que não é correcta, oferece-se uma imagem distorcida e de apagador de responsabilidades sobre quem tem o dever de manter o sistema a funcionar correctamente.
Mas não é só o problema das comunicações, é a factura da água e energia eléctrica com muitos meses de atraso, as facturas, algumas com vários anos, que fazem desesperar os fornecedores gerais, os sobressaltos constantes nas cantinas (ainda ontem foi dado conta do que se está a passar na Francisco Franco), o dramatismo vivido nas reprografias, a limitação do número de testes de avaliação de conhecimentos dos alunos por falta de papel e toner, a pouca-vergonha, em tempo de carências e de desemprego, nos cortes da acção social educativa. Mais, ainda, pergunto, se algum Colega poderá esquecer algumas normas do caricato Estatuto da Carreira Docente, o aberrante sistema de avaliação de desempenho que querem impor, a trapaça que é a autonomia dos estabelecimentos de educação e ensino e tudo o que diz respeito ao "fundo escolar", a péssima estrutura da rede escolar, repito, os saldos negativos de vários anos que transitam e que coarctam a concretização dos projectos educativos, o que andam a fazer com a educação especial, a vergonhosa dispensa de professores a coberto da grosseira mentira da diminuição de alunos, o aumento do número de alunos por turma, a indisciplina e uma certa violência que cresce, a dívida de seis milhões de euros aos professores com tempo de serviço e avaliação positiva, a subjugação a tudo o que vem do Ministério da Educação desvirtuando a capacidade autonómica da Região, a burocracia que a todos inferniza e que o digam desde os gestores aos Directores de Turma, a não contagem do tempo de serviço congelado (28 meses) para efeitos de reposicionamento na carreira, ao contrário do que aconteceu nos Açores (e continua o congelamento), enfim, até o próprio orçamento da Região que não respeita a prioridade da Educação sobre os demais sectores? Alguém poderá esquecer ou ignorar tudo isto? Alguém poderá esquecer que o governo faz o possível por ignorar as reivindicações apresentadas pelos representantes dos professores, protelando reuniões e apresentado as situações numa política de facto consumado? Pode algum professor pintar de tons primaveris o que é negro?
Como há dias escrevi no jornal do meu sindicato (SPM), são maldades a mais feitas aos professores, maldades sempre de sorriso aberto, sempre com palmadinhas nas costas, mas sempre de uma forma implacável, isto é, comam e calem-se. É por isso que entendo que toda a classe deve acordar de uma espécie de coma profundo, de um deixa andar como se nada estivesse a acontecer. Quanto mais deixarem, mais avançarão. Hoje, nem os efectivos estão seguros, que todos se lembrem! É tempo de acordar e de demonstrar que os professores não têm medo. O sistema educativo é demasiado importante para ser partidarizado (politizado, sim), para ficar enclausurado numa secretaria dominada por meia-dúzia de pessoas, algumas que nunca foram professores na vida, enquanto outros se agacham e pedem para não "dramatizar".
A minha experiência de vida diz-me que eles são implacáveis. Falam docemente, cumprimentam com elegância, desfazem-se em circunstanciais elogios, mostram-se diferentes, mas aquilo que apresentam na montra não corresponde ao que escondem no armazém. Conjugam os verbos reconhecer, prometer, adiar e esquecer em todos os tempos e modos e regressam ao primeiro para segui-los pela mesma ordem. Sempre foram assim, porque está no seu adn político passarem por cordeiros. Daí que, este ano lectivo esteja, uma vez mais, marcado pelo sinal mais do desastre, do contínuo abandono e pelo insucesso. Os indicadores são evidentes, não são meus, mas do Instituto Nacional de Estatística. Negá-los ou esbatê-los penso não constituir o melhor caminho. Não contem comigo para essa farsa.
Ilustração: Google Imagens.

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