É uma treta o que ontem disse o Director Regional da Administração Educativa. É uma treta porque ele não abordou as questões sérias, não falou da necessidade de diminuição substantiva do número de alunos por escola e por turma como pressuposto necessário ao sucesso, não falou da necessidade de ir ao encontro, desde as primeiras idades, dos sinais de desconformidade no processo de aprendizagem, o que exige professores disponíveis para o acompanhamento (a escola não é apenas a sala de aula tradicional) e não abordou a questão do investimento na educação como único processo para romper com o círculo vicioso da pobreza. Não falou nem poderia abordar, porque não é professor, apenas um licenciado em Direito com anos de rotina submissa aos sucessivos secretários. Enquanto isto, o Secretário refugiou-se, não deu a cara, pois continua a preferir uma escola de "serviços mínimos".
Duzentos professores para o desemprego, só este ano. Duzentos mal contados, porque apenas foram divulgados os números daqueles que não viram os seus contratos renovados. Mas há mais, muitos mais, e o Secretário conhece os números. Para o próximo, provavelmente, serão outros contratados a seguirem o caminho do desemprego. Enquanto não chegar a vez dos efectivos! E, se se verificar o regresso à escola dos agora destacados, o problema será maior. Processo inevitável se esta gente continuar na governação. Com as finanças da Região em colapso, a curto prazo, novos afastamentos acontecerão. Os professores, entre outros, estão a pagar caro as loucuras do governo e a ausência de prioridades. Isto, quando continuam a querer gastar à tripa-forra em sectores e áreas de duvidoso interesse. É caso para questionar ao ex-sindicalista Dr. Jaime Freitas, hoje, Secretário da Educação, afinal, como é? Se dorme bem, sossegado, sem peso na consciência, se nada o incomoda?
É evidente que sei que, enquanto sindicalista, sempre fez o jogo do governo regional até porque o sindicato a que pertencia(e) nunca se demarcou das políticas regionais. Não sei se lá esteve (julgo que sim), mas muitos do dito Sindicato Democrático, aqui há uns anos, receberam, na Madeira, o Engº José Sócrates, à porta do hotel, com apupos e apitadelas contra a política educativa da então ministra Maria de Lurdes Rodrigues. Estou à vontade para o referir porque estive sempre distante (e escrevi) da ex-ministra da educação. Daí que pergunte: e se, agora, os duzentos (e os outros) que vão para o desemprego lhe fizessem uma espera ali às portas da Secretaria? Pergunto mais: onde pára a defesa da classe a que pertence e, sobretudo, a defesa do sistema educativo? Mais, ainda, terá este Secretário alguma ideia de fundo para o sistema educativo? Do meu ponto de vista não tem. Está no governo há dez meses e não conheço uma ideia, apenas uma, que faça acreditar que este professor e ex-sindicalista seja portador de uma ideia para o futuro. Do sistema educativo ao sistema desportivo que se pronunciem os professores e os dirigentes.
Não é que eu esperasse uma atitude de alguma frontalidade e de reivindicação perante um governo velho, caduco e subordinado a um homem, mas esperava que, embora de forma ténue, demonstrasse vigor, rigor, conhecimento e sentido estratégico. Porque ele foi SINDICALISTA! Ontem, refugiou-se, mandou para a frente dos microfones um Director Regional, que lá veio com a lengalenga da demografia, que temos menos alunos, etc., num paleio para encher e para ludibriar, quando o problema não é esse. Tampouco se pode imputar à nova configuração curricular a diminuição das necessidades. O problema, grave, é que não dispomos de um sistema educativo organizado e desenhado em função do desejável sucesso. Como já alguém disse, não temos professores a mais, temos sistema educativo a menos. Daí que, cerca de 6000 alunos, todos os anos, "chumbem" elevando as taxas de abandono e de insucesso para patamares de topo ao nível nacional. Isto para não falar do nível geral de aproveitamento dos que se submetem a exame, quando comparado com outras regiões. Portanto, é uma treta o que ontem disse o Director Regional da Administração Educativa. É uma treta porque ele não abordou as questões sérias, não falou da necessidade de diminuição substantiva do número de alunos por escola e por turma como pressuposto necessário ao sucesso, não falou da necessidade de ir ao encontro, desde as primeiras idades, dos sinais de desconformidade no processo de aprendizagem, o que exige professores disponíveis para o acompanhamento (a escola não é apenas a sala de aula tradicional) e não abordou a questão do investimento na educação como único processo para romper com o círculo vicioso da pobreza. Não falou nem poderia abordar, porque não é professor, apenas um licenciado em Direito com anos de rotina submissa aos sucessivos secretários.
Aliás, não se pode esperar mais desta secretaria. Em Fevereiro passado (aqui) comentei o facto do Dr. Jaime Freitas ter sugerido às escolas para que cumprissem "os serviços mínimos". Ora, do meu ponto de vista, escrevi, trata-se de "uma calinada política que explica duas coisas: primeiro, o estado de falência do sistema no que concerne aos meios que visam o cumprimento da nobre missão educativa; segundo, explica a ausência de um sentido de responsabilidade política, mesmo quando a maré é muito adversa, para galvanizar toda a comunidade educativa (professores, encarregados de educação, alunos, funcionários, etc.) para que se continue a produzir o máximo e com entusiasmo. A prioridade não é garantir que as escolas funcionem, isto é, mantenham as suas portas abertas, que os alunos, os professores e os funcionários compareçam, numa espécie de organismo que, em horário contínuo, abre às oito e encerra às dezanove. A Escola é o que lá acontece, são os saberes transmitidos, é a sua dinâmica multifatorial portadora de futuro, é o acolhimento e o esbatimento das desigualdades sociais, e tudo isto é incompatível com "serviços mínimos", mas com serviços máximos. A Escola não pode subsistir através de teorias do tipo desenrasquem-se, cumpram o horário e controlem os pequenos (...)".
Esta gente não sabe o que diz nem o que faz, ou melhor, sabe que o melhor caminho para manobrar uma população é a ignorância. Isso, sabem. Por isso, também temos uma secretaria de ignorância altifalante!
Ilustração: Google Imagens.
Aliás, não se pode esperar mais desta secretaria. Em Fevereiro passado (aqui) comentei o facto do Dr. Jaime Freitas ter sugerido às escolas para que cumprissem "os serviços mínimos". Ora, do meu ponto de vista, escrevi, trata-se de "uma calinada política que explica duas coisas: primeiro, o estado de falência do sistema no que concerne aos meios que visam o cumprimento da nobre missão educativa; segundo, explica a ausência de um sentido de responsabilidade política, mesmo quando a maré é muito adversa, para galvanizar toda a comunidade educativa (professores, encarregados de educação, alunos, funcionários, etc.) para que se continue a produzir o máximo e com entusiasmo. A prioridade não é garantir que as escolas funcionem, isto é, mantenham as suas portas abertas, que os alunos, os professores e os funcionários compareçam, numa espécie de organismo que, em horário contínuo, abre às oito e encerra às dezanove. A Escola é o que lá acontece, são os saberes transmitidos, é a sua dinâmica multifatorial portadora de futuro, é o acolhimento e o esbatimento das desigualdades sociais, e tudo isto é incompatível com "serviços mínimos", mas com serviços máximos. A Escola não pode subsistir através de teorias do tipo desenrasquem-se, cumpram o horário e controlem os pequenos (...)".
Esta gente não sabe o que diz nem o que faz, ou melhor, sabe que o melhor caminho para manobrar uma população é a ignorância. Isso, sabem. Por isso, também temos uma secretaria de ignorância altifalante!
Ilustração: Google Imagens.
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