Passados tantos anos e tanto discurso pelos valores da democracia e da cidadania, genericamente, ainda são sensíveis sinais de agressividade e de intolerância pelos outros. Ter uma opinião diferente, legítima, alicerçada em princípios e valores transmitidos e consolidados nas múltiplas experiências da vida, muitas vezes é recebida com traços de intolerância. No debate político, aí, a situação é mesmo grave. Mor das vezes, lamentavelmente, por mera comparação com o futebol, as paixões pelo emblema a) ou b) acabam por transferir-se para o debate político. As cores toldam e arrasam a tranquilidade que a discussão deveria assumir. E quando falo de tranquilidade isso não significa falta de empenho, acutilância discursiva e frontalidade, mas a vitória do conhecimento e da justificação dos argumentos. Penso que é por aqui que se constrói uma sociedade democrática que conduza ao desígnio máximo do exercício da política: o bem-estar da sociedade.
Às vezes fico com a percepção que um título ou uma fotografia são mais importantes do que o conteúdo do texto. Leio textos com muito interesse, mas com comentários completamente desajustados do essencial. Das duas, uma: ou não foram lidos, ou aquele, porque não é do "meu clube", toca a desancá-lo. Ter "amigos" no facebook ou em um "blog", parece-me óbvio, deveria conduzir a uma outra capacidade de aceitação dos pontos de vista e a uma relação afectiva recíproca. Discordando, mas com respeito. Mas, não é bem assim. Muitas vezes prevalece o sentido de arena romana com gladiadores e não o sentido do debate sério e profundo. Ou, então, a arena do futebol, onde necessário se torna conduzir as claques sob escolta policial, ou, quem nunca chutou uma bola, na bancada, resolve mandar os impropérios que o insensato entusiasmo determina.
A pergunta que deixo, quarenta anos depois de Abril, no sentido de melhores relações e compreensão dos outros, é esta: o que anda a formação educativa a fazer? Cidadãos bem formados, participativos, atentos, acutilantes ou Michel de Montaigne (1533/1592) continua com razão quando sublinhou: "uma cabeça bem-feita vale mais que uma cabeça cheia".
Ilustração: Google Imagens.
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