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“Não podemos continuar a permitir que centenas de milhões de pessoas passem fome enquanto os recursos que poderiam ser usados para os ajudar são sugados por aqueles no topo”, afirma a diretora da ONG Oxfam, a propósito do relatório que frisa estar a acelerar o aumento das desigualdades a nível mundial.
Por Alexandre Costa
As desigualdades não têm parado de se acentuar e os mais abastados (1% da população mundial) já possuem mais riqueza do que os restantes 99%, um cenário para o qual têm contribuído os paraísos fiscais, segundo indica o relatório da organização não-governamental (ONG) Oxfam, apresentado esta segunda-feira, dois dias antes do arranque de mais um Fórum Económico Mundial em Davos, Suíça.
Os 62 mais ricos já detêm tanta riqueza como 3,5 mil milhões de pessoas, metade da população mundial. Ao longo dos últimos cinco anos, o nível de aumento da riqueza dos que estão no topo teve correspondência com o nível de empobrecimento dos que estão na metade inferior da escala. A riqueza desses 62 multimilionários aumentou 44% desde 2010, enquanto relativamente aos 3,5 mil milhões de mais pobres desceu 41%.
“A preocupação dos líderes mundiais sobre a escalada da crise das desigualdades ainda não se traduziu até agora em medidas concretas – o mundo tornou-se um sítio muito mais desigual e essa tendência tem estado a acelerar”, refere Winnie Byanima, diretora da Oxfam.
Nos últimos doze meses, o fosso entre os mais ricos e o resto da população aumentou “de forma dramática”, indica relatório da ONG.
METADE DOS SUPER-RICOS ESTÃO NOS ESTADOS UNIDOS
“Nós não podemos continuar a permitir que centenas de milhões de pessoas passem fome enquanto os recursos que poderiam ser usados para os ajudar são sugados por aqueles no topo”, acrescenta Byanima.
Cerca de metade dos 62 super-ricos são dos Estados Unidos, 17 da Europa, e os restantes da China, Brasil, México, Japão e Arábia Saudita.
Cerca de 7 biliões de euros da riqueza de particulares encontra-se em paraísos fiscais e caso fossem taxados fora dessas offshores gerariam mais 174 mil milhões de receitas fiscais anuais, estima Gabriel Zucman, professor assistente da Universidade da Califórnia, Berkeley.
Cerca de 30% de toda a riqueza financeira de África encontra-se em paraísos fiscais, levando a perda anual 13 mil milhões de receitas fiscais, indica a Oxfam, com base nos estudos de Zucman. Dinheiro suficiente para pagar os cuidados de saúde que poderiam salvar anualmente as vidas de quatro milhões de crianças e para pagar a professores que dariam aulas a todas as crianças do continente, indicam ainda as estimativas apresentadas relatório.
OFFSHORES PERMITEM DESVIAR DINHEIRO
DE QUE AS SOCIEDADES PRECISAM PARA FUNCIONAR
“As multinacionais e elites abastadas estão a jogar com regras diferentes de todos os outros, recusando-se a pagar os impostos que a sociedade precisa para funcionar. O facto de 188 das 201 maiores empresas terem presença em pelo menos um paraíso fiscal mostra que é tempo de agir”, salienta Byanima.
Relativamente às desigualdades, o relatório indica ainda que a maioria dos trabalhadores mais mal remunerados em todo o mundo são mulheres.
Por outro lado, como tendência positiva, os dados mostram que o número de pessoas a viver em extrema pobreza diminuiu em 650 milhões desde 1991, apesar da população mundial ter aumentando 2000 milhões nesse período.
Para essa mudança contribuiu em larga escala o crescimento económico da China.
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