FACTO
"A questão da mobilidade aérea é uma questão que urge resolver por parte do Estado dentro das suas obrigações constitucionais" (...) a minha obrigação é a de "remeter para quem de direito a solução do problema das disfuncionalidades do Estado" (...) "Enquanto eu for Presidente do Governo, nós não vamos assumir nunca a limitação do princípio da continuidade territorial dos madeirenses e porto-santenses (...) Não vão ser os madeirenses e os porto-santenses que vão pagar do seu bolso as disfuncionalidades do Estado". Fonte: DN-Madeira.
COMENTÁRIO
O Senhor presidente do governo regional da Madeira parece irritado. Quase todos os dias dispara, de semblante carregado, como se todo o mundo estivesse contra ele. Esquisito? Não, não é. Talvez esteja perturbado com o "negócio" da governação. É difícil, pois é, quando o passado pesa, e de que maneira! Ora, naquelas declarações, excluindo o direito constitucional da "continuidade territorial", inalienável, sublinho, porque somos tão portugueses quantos os que vivem no espaço continental, existem várias questões que se colocam. Desde logo, quem negociou a última portaria sobre a mobilidade aérea? Quem a aceitou? Quem enalteceu as virtudes de tal disposição, (quando tantas vozes se levantaram), inclusive, quem salientou que os "madeirenses nunca viajaram tanto a preços tão baratos"? Se esse tem sido o discurso da maioria, para quê tanta vozearia?
As incoerências discursivas são, portanto, evidentes, para não falar da novela hospital, pelo que me parece, então, muito pouco assertivo o presidente falar das disfuncionalidades do Estado. Que existem, obviamente. Ademais, por aqui, pergunto, quantas disfuncionalidades abundam em todos os sectores e áreas da governação? Depois, a função de presidente de um governo AUTÓNOMO é muito maior que a de simples "sinaleiro". Não basta "remeter para quem de direito", mas a de antecipar os problemas e a de os resolver. Certo estou eu que não se resolve com má disposição e com fúrias descredibilizadoras, seguindo as mesmíssimas linhas do histórico combate por palavras que, se nunca resolveram, hoje, pior ainda. Vivemos tempos de vacas magras, pelo que só através do diálogo institucional, sem chapéu na mão, convém salientar, é possível ultrapassar os graves desequilíbrios criados ao longo de quatro décadas.
Isto não significa capitulação perante os direitos constitucionais, ausência de reivindicação, cumprimento de acordos e defesa da Autonomia, difícil é aceitar o discurso de tom ofensivo, como se do outro lado estivessem os malandros e aqui os anjos imaculados! Tenha o presidente do governo presente os reconhecidos disparates por opções políticas erradas, as megalomanias, a dimensão institucional de uma região, pobre e assimétrica, equivalente a um Estado dentro do Estado, o dinheiro que por aí se esvai, os grupos económicos muito pouco sadios e transparentes, a teia de cumplicidades e a incapacidade de dizer não, a inversão das prioridades estruturais, ora tudo isto merece adequada reflexão, não sendo com paleio político superficial, cara de poucos amigos e "chutando para as bananeiras" que os problemas se resolvem. Aliás, a atitude que vem sendo seguida, de forma insistente e concertada, apenas denuncia descontrolo, aflição, angústia, pouca segurança e sobretudo esperança. E na política, a melhor defesa dos interesses de todos, nunca é o ataque! Até porque os madeirenses e os porto-santenses desde há muito estão a pagar do seu bolso as disfuncionalidades da Região.
Ilustração: Arquivo próprio.
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