Não é de agora que a Universidade da Madeira deixa passar uma imagem de alguma opacidade nas decisões. O caso do Professor Doutor Hélder Spínola, o mais recente, creio, associado aos testemunhos de Professores e de outras figuras que, ao longo do dia de ontem se posicionaram, transmitindo que a transparência dos actos não é a melhor, deixa um rasto de desconfiança que não abona aquela instituição. Ora bem, autonomia das universidades é uma coisa, transparência é outra. Quem lidera tem de ter mão e não pode deixar em rédea livre a universidade ou escudar-se nas decisões, pressupõe-se, soberanas, de um qualquer órgão. Porque todos os cidadãos têm o direito de saber o que se passa na casa da ciência. Tal como em qualquer outra instituição pública. Porque a universidade não pode ser um feudo. Certo?
E às vezes deixa transparecer que é! Só entendo a Universidade como espaço de ciência que exige rigor e irrepreensível qualidade. Em abstracto, em qualquer universidade, não pode existir compadrio na defesa de interesses que não os da formação de altíssima qualidade. Uma universidade não substitui um Doutorado por um Licenciado ou Mestre. Há uma carreira onde a investigação, a prestação de provas, a contínua avaliação, os artigos científicos publicados e a leccionação devem constituir, entre outros, os factores determinantes para o reconhecimento universal da instituição.
Por outro lado, a Universidade não pode denunciar ou revelar, sub-repticiamente, preferência ideológica e, por isso, não pode deixar transparecer incómodo pelas posições dos membros do seu quadro docente. Neste sentido, se este é o caso, a intervenção cívica, seja de quem for, não deve ser motivo de preocupação, pelo contrário, a dialética deve ser incentivada no quadro das ideias que geram outras portadoras de futuro. Um professor é, naturalmente, um político, porque tem opinião, coisa bem diferente é a utilização das aulas com finalidades partidárias. Um mero exemplo de circunstância: quando alguém luta por um melhor ambiente, justificando, cientificamente, a sua posição, está, naturalmente, a assumir uma posição que também é política.
Não gosto dos silêncios. Aprecio-os à noite, nos momentos de interioridade, contemplação ou de estudo. De resto, motiva-me a minha liberdade e a de todos quantos não se acobardam nos silêncios, muitas vezes cúmplices, os que deixam o marfim correr, manifestando indiferença perante casos de injustiça e ou ausência de qualidade. E sobre a UMa, sinceramente, deixou-me apreensivo ler testemunhos que foram caindo em catadupa na minha página de facebook, após divulgar uma “carta do leitor” do Professor António Brehm. Deixo aqui alguns excertos, cujos autores estão identificados na citada página:
“(…) Só tenho a dizer o pior da Universidade da Madeira. Tive a infelicidade de aí fazer a minha profissionalização em serviço e nunca vi tanta incompetência (…) e desonestidade juntas”; “Infelizmente, numa instituição de ensino superior, como a UMa, há muitas situações desta natureza. Eu também sou perseguido desde 2007. Tive de recorrer ao Tribunal para me defender. Ganhei na Justiça. Mas passei à condição de ostracizado”; “O habitual da nossa da terra. As vítimas e os defensores dos fazedores de vítimas, menos o professor António Brehm, que levanta a voz em defesa da verdade. (…) Infelizmente, ainda andamos nisto”; “estou no ativo, também levantei e levanto a voz há muito, muito tempo”; “sempre pensei que a Madeira aprendesse, 40 anos depois, algo sobre democracia, ética e bons costumes. Valores que interessam à Madeira. É pena!”; “A propósito da qualidade da formação da UMa, vide as declarações recentes do Dr. Miguel Ferreira, ex-administrador e director clínico do SESARAM, ao Diário de Notícias Madeira. E quanto aos cursos chumbados, podem consultar o site da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior”; “Lamentável o que se passa na Universidade da Madeira. Não é caso ímpar, infelizmente. Um abraço com viva indignação pela dispensa de tão competente professor (…) até existem adendas em atas do conselho geral de não concordância com a dispensa de docentes competentes e com provas dadas! Infelizmente escudam-se na lei e referem que quem decide são os conselhos científicos”; “E assim vai a Universidade da Madeira à procura de reconhecimento”; “Os casos de perseguição vão aumentando todos os dias e a “caça às bruxas” parece não ter fim. A minha solidariedade, também enquanto vítima de perseguição política”; “Parece-me isto ser definido, pura e simplesmente, como um saneamento político”; “Se estes casos acontecem, penso que deveria ser feita uma inspeção a tais actos e apurar as suas justificações, senão os compadrios continuam e o mérito morre”; “Infelizmente não é só na universidade da Madeira. Ninguém investiga porque não há quem o queira fazer. Havia tanto para descobrir e punir. É mais fácil acusar um docente de inadequado e assim justificar o seu despedimento”; “Seria interessante investigar casos semelhantes na Escola Secundária Francisco Franco. Sei muito bem do que estou a falar”; "uma universidade constrói-se pelas suas competências e qualidade de ensino!”; "Por estas razões e outras agradeço ao meu pai ter vindo para o Continente quando o quiseram prejudicar em 1980! Hoje, em 2018, como é possível acontecer o mesmo?”; ”É isto o povo superior e os incompetentes é que dominam a vida daqueles que lhes fazem frente”; “Não quero acreditar que seja verdade o que está a acontecer”; “A Madeira no seu Melhor!”; “O vício dos incompetentes é perseguir os competentes”; “É caso para dizer que há um monopólio “oculto” na Universidade da Madeira. Sei do que se passa mas, infelizmente, é tudo o que posso dizer (…)”.
Choca-me e preocupa-me tanto depoimento comprometedor. E onde há fumo, há fogo. Do meu ponto de vista, este caso deveria constituir motivo para uma séria e profunda reflexão interna e externa. Por enquanto, um sepulcral silêncio.
Ilustração: Google Imagens.
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