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sábado, 16 de março de 2019

GERAÇÃO QUÊ?


Assisto a um súbito interesse pela integração da geração mais jovem na actividade política. Em abstracto nada a dizer. É necessário que a juventude, desde muito cedo, seja motivada para a importância da participação na "coisa pública". Até por uma questão de preparação de futuros governantes e não só. O problema não está aí, obviamente. A questão é outra, é conhecer as razões mais substantivas do interesse e que percursos apresentam os jovens para o desempenho de funções políticas, representativas ou não.


Pela experiência vivida, o exercício da política, assente na honestidade, pela sua complexidade, exige que se percorram etapas diferenciadas de formação política. Deve começar na escola e continuar nos partidos políticos e em organizações de cidadania activa. Ora, a escola, que na sua estrutura organizacional nada tem de democrática, não está, por isso, motivada para o debate das questões políticas. Aliás, a generalidade dos professores foge desse campo conducente ao debate e ao pensamento livre e crítico. Há matéria para "dar" e, a partir dessa mesma matéria, sustentá-la, transversalmente, em preocupações de natureza política, que não significa partidária, é coisa que está muito longe de ser assumido com absoluta naturalidade e normalidade. Há um histórico de medo, porque, durante dezenas de anos, por aqui, as sucessivas maiorias políticas exprimiram, sempre, enormes dificuldades para conviver com esse pensamento livre e crítico. Portanto, temos um grave défice na formação inicial.
Por outro lado, salvo raras excepções, melhor não se poderia esperar das designadas juventudes partidárias. Faltando-lhes essa sensibilização básica, os que aderem, crescem, assim, em ambientes norteados por interesses vários, muitas vezes pré-determinados pelos adultos. São raros os jovens que de uma forma quase autodidacta, história familiar ou consequência da formação académica superior, procuram estudar, conhecer e posicionar-se no plano político sobre os mais diversos sectores. Ao longo da minha actividade política só dei conta de um jovem que entrou na sede do partido (era a primeira vez que iria votar) para se inteirar do programa eleitoral. E disse-me que estava a fazer uma ronda por todos os partidos concorrentes e que, só depois de uma atenta leitura, definiria o seu sentido de voto. Achei notável. 
No meio deste genérico alheamento crescem os que tentam subir, de três em três degraus, a escada da capacidade política. Muitos estatelam-se! Há uma lógica de chegar, ver e vencer. Basta possuir alguns dotes de oratória ou dispor de um bom enquadramento ou visibilidade interna. Se o que dizem vale alguma coisa, torna-se pouco relevante. Estar ao lado de alguém é fundamental. O curioso de tudo isto, enquanto corolário, daí a minha estupefacção, é a quase ordem de exclusão, pura e simples, de pessoas que poderiam constituir uma mais valia, por outras sem qualquer percurso e experiência políticas. 
Ora, a conquista da credibilidade e da notoriedade só são possíveis através de um roteiro que leva anos. Dominar os dossiês, locais, nacionais e mundiais, saber cruzar toda a informação, especializar-se, estabelecer contactos, conhecer pessoas, gerar empatias, apresentar e defender propostas credíveis, tudo isto necessita de uma paciente aprendizagem. Por isso, é-me difícil entender, quando um ou outro político consegue um patamar distintivo e de excelência, que os mesquinhos interesses se sobreponham, e à pala de uma hipotética renovação (com pés de barro) ou de um investimento em uma "geração não sei de quê", aos notáveis (de notoriedade) e credíveis, académica e politicamente, lhes seja apontado, na melhor das hipóteses, o banco dos suplentes. São tidos como descartáveis, como se a política fosse um mero "jogo da glória", no qual, um precalço, faz regressar à casa de onde se partiu!
Sinto um total desencanto quando olho para esta "geração" de políticos, arvorados em grandes senhores, portadores de verdades absolutas, juvenis no pensamento, que escondem inconfessados meandros de interesses que são, ainda não perceberam, facilmente desmontáveis. Depois, estranham que o povo não vá na história que contam!
Ilustração: Arquivo próprio.

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