Fiz um esforço, mas tive de voltar atrás pois o erro de compreensão/avaliação poderia ser meu. Milan Kundera escreveu um romance, editado em 1984, a "Insustentável Leveza do Ser", depois passado ao cinema. Daí que, o título do artigo, a "Insustentável Leveza" acabou por motivar-me na expectativa de perceber, mesmo enquanto metáfora, que amores e desamores políticos desejava abordar o vice-presidente do governo regional. Confesso que nada percebi, para além do habitual e velhinho rufar de tambores contra Lisboa, em simultâneo com um metralhar, ao jeito de "Rambo", que, julgo eu, poucos são capazes de levar a sério. Para além disso, ao longo do artigo, li posições, interrogações e o seu contrário, para além de frases que me transmitiram a ideia de ali terem sido metidas a martelo. Não gosto de pronunciar-me sobre o que outros escrevem, porém, a um vice-presidente do governo espero(a-se) que traga qualquer mensagem que permita uma reflexão séria. Sobretudo no debate da economia e das finanças. E isso não aconteceu, na minha opinião, claro. De resto, não gosto do sentido de vítima, tampouco da lógica do coitadinho. Eu diria que houve, de facto, uma insustentável leveza!
"Hoje temos orgulho em termos reduzido em mais de mil milhões a nossa dívida pública (...)". Foi o única passagem que consegui reter, se bem que, à cautela, as contas só devam ser feitas no final. Também na Câmara do Funchal foi dito que dava "lucro" e, depois, os funchalenses deram-se com uma factura superior a 100 milhões de euros. Contas, repito, só no final dos quatro anos da legislatura.
Não fiquei estupefacto, mas uma passagem prendeu a minha atenção. Volto a lê-la e a digitá-la nesta breve reflexão: "(...) O futuro é nosso, não dos apetites de poder dos continentais para instrumentalizarem
a nossa terra. O futuro é dos nossos filhos.
Com alma e coração da Madeira".
Ora, estas três frases dão muito que pensar. Ao lê-las, mastigando as palavras e, serenamente, cruzando pensamentos vários, interroguei-me, desde logo, onde estão os "apetites" e a "instrumentalização", quando existe, aprovado por unanimidade na Assembleia da República, o Estatuto Político-Administrativo da Região Autónoma da Madeira, enquanto vontade dos madeirenses? Logo, a verdadeira democracia e concomitante liberdade de pensamento será coisa de somenos importância a deitar janela fora? Então não reside no Povo, através de sufrágio universal, a capacidade de eleição dos seus representantes? Por outro lado, o "futuro é nosso"? Volto a interrogar-me, "nosso" de um determinado partido, curiosamente há 43 anos consecutivos no poder, ou a democracia implica aceitar o julgamento e consequente vontade do Povo? E quem pensa de forma diferente deixa de ter essa coisa, para mim esquisita, "alma e coração da Madeira"? A expressão traz, estou convicto, resquícios políticos de independentismo, porque o que dizer do sentimento à terra dos transmontanos, dos algarvios ou dos ribatejanos, por exemplo? Os madeirenses são portugueses, apenas dispõem, e bem, de um Estatuto que lhes confere Autonomia que proporciona órgãos de governo próprio. Mais, para quê desenterrar, essa repetida história de que "(...) não queremos mais 600 anos de colonialismo e muito menos, de constantes interferências no nosso dia a dia"? Para quê essa lengalenga do coitadinho quando importante é saber governar? Sabedoria que, inevitavelmente, deve predispor para a reivindicação dos direitos estatutários, é certo, mas para o estudo e para a plena certeza que a arte de bem governar implica aceitar o pressuposto das contingências e dos revezes. É a vida, disse, um dia, o actual secretário-geral da ONU.
Finalmente, "pela boca morre o peixe", tão verdade que ao Senhor vice-presidente lhe fugiu a dita para a verdade: "(...) Não se olha nem se prepara o futuro, tal como não se olha para o passado para aprender (...)". Desconexas com o texto, é certo, porém, aqui sim, pareceu-me um tiro dez no alvo. Que "insustentável leveza"!
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