Fez escola aquela de a "Madeira em primeiro lugar". É evidente que a Região é autónoma, mas isso não invalida que se abrigue em um espaço nacional. Somos portugueses. Daí que essa continuada gritaria, daqui para lá, que esconde muito relativamente ao que é percepcionado pelas pessoas, não faça qualquer sentido. A Madeira é uma região, periférica, autónoma, mas não deixa de ser uma região entre outras do País. Com direitos e deveres. A levar à letra a expressão "Madeira em primeiro lugar" eu diria, então, que deveria, desde logo, ser exemplo interno, eliminando as nuvens de compadrio, as fortunas mal explicadas, os favorecimentos, as decisões que trazem fumos que bloqueiam a transparência, não permitindo uma economia dependente de alguns senhores, a ocupação de lugares por pessoas menos qualificadas, bem como a desnecessária multiplicação de lugares, impediria uma certa perseguição, não potenciaria o medo, antes deveria ser exemplo interno de planeamento, de rigor no investimento e de respeito pelo princípio da prioridade estrutural.
Fizeram aquele slogan para consumo interno, sabendo da existência de inúmeras fragilidades e rabinhos de palha. Há muitos anos que é assim. Basta ler a comunicação social para detectar, por um lado, as contradições, os desconfortos e as picardias entre iguais, por outro, a histórica atitude discursiva para o exterior que, ao mesmo tempo que parece distante dos assuntos, deixa um rasto de cumplicidade. Não é necessário ir muito longe. Atente-se na coligação que governa, a qual apresenta um discurso de compromisso (para o exterior), porém, uma parte dos seus apaniguados surgem na praça pública a dizer aquilo que, face às circunstâncias, o governo não pode assumir. Os exemplos multiplicam-se, sendo paradigmático o que se está a passar no sector da Saúde com a nomeação do director clínico do SESARAM.
Mas não me quero desviar da questão central: "Madeira em primeiro lugar". É um discurso de treta, porque é um discurso que demonstra fragilidade e incapacidade para resolver as questões centrais do processo político. O madeirense não precisa disso, de se considerar vítima, não precisa de andar na República curvado e de chapéu na mão, mas também não precisa de espavento, com um tipo de discurso truculento a roçar o ódio. Somos portugueses que vivem em ilhas com todas as vantagens e inconvenientes. Basta de aversão e antipatia que contamina, até, as relações pessoais internas. Esse discurso do coitadinho, confesso que me irrita. A Madeira tem direitos e deveres consubstanciados na Constituição da República e no Estatuto Político-Administrativo. Se há necessidade de ir mais longe na Autonomia (entendo que sim) preparem-se então as revisões desses importantes documentos. Para que tal aconteça, isso implica seriedade, normalidade, exemplo, respeito e boa capacidade de negociação. Só paleio agressivo assente em uma base de antipatia, rancor e repulsa, obviamente que todas as propostas ficam feridas de morte. Quando alguns deputados pela Madeira não conseguem influenciar os seus próprios colegas de bancada, questiono, terão alguma hipótese de ganhar a simpatia das outras bancadas parlamentares? Dificilmente.
É por isso que espero por uma vaga de políticos madeirenses com P maiúsculo, credíveis, que se imponham sem necessidade de gritarias estéreis e histéricas e de expressões de trazer por casa, desprestigiantes e geradoras de um olhar enviesado no seio do hemiciclo de S. Bento. Precisa-se de adultez política, de credibilidade e de referências. Aliás, não é com um histórico de milhares de milhões em dívida, com a descoberta de "contabilidades paralelas" e com, repito, rabos-de-palha internos que conseguirão "levar a água ao moinho". Simplesmente porque esse discurso que fez escola, já não pega. Nem cá, muito menos lá!
Ilustração: Google Imagens.
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