Pode ser legítimo, mas não é aceitável. Hoje, Dia da Cidade do Funchal, o governo regional da Madeira fez publicar um suplemento de quatro páginas com dois claros objectivos: promover o seu candidato às eleições autárquicas e "demonstrar" o que faz pelo Funchal.
Ora, o exercício da política não deveria baixar a este patamar de interesses. Por um lado, porque, na sessão solene, ao contrário de tempos idos (antes de 2013), todos têm direito à palavra, desde o presidente da Assembleia Municipal (PSD) aos partidos políticos nela representados. Há palco para todos dizerem, de forma livre, o que pensam da cidade; por outro, porque se trata de um suplemento, pressuponho, pago por toda a população para clara promoção de um candidato. No mínimo não é cordial. O suplemento inclui, ainda, quatro páginas comerciais sobre a cidade do Funchal, não se percebendo a sua origem e responsabilidade.
Não me interessam os conteúdos de um e de outro espaços, apenas analiso a oportunidade no quadro das próximas eleições autárquicas. Até porque não é habitual o governo publicar nos "dias" dos outros concelhos. Não me interessa saber o que fizeram, dando inclusive a entender que se substituíram à Câmara em tantas obras. Pergunta-se: o que tem a ver a Câmara com o novo hospital, com o estudante insular ou com a reabilitação dos conjuntos habitacionais? Nada. Eu diria que não fizeram e não estão a fazer mais do que o seu dever. O auto-elogio é feio, quando, em contraponto, em causa estão muitas fragilidades políticas, fundamentalmente, todo o tipo de bloqueios ao normal funcionamento das autarquias cujas populações deram o seu voto a outras formas de conduzir a "coisa pública". O que dizer, por exemplo, dos chumbos ao orçamento e à ausência de protocolos para e execução de obras públicas?
Por outro lado, o título "O governo cumpre com a cidade do Funchal" deixa a entender que este suplemento não tem nada de inocente. Enquanto cidadão não me revejo neste tipo de política. Mais do que enunciar trabalhos executados, qualquer candidato deve apresentar propostas para o futuro. Os munícipes, no quadro do seu direito de voto, deverão estar municiados de um entendimento sobre o futuro e não sobre aspectos do passado. Podem ter uma leitura sobre o passado, e certamente têm, mas mais interessados estão em conhecer os projectos para o futuro.
Poderiam ter publicado o suplemento ontem, amanhã, para a semana, no dia de hoje parece-me absolutamente deselegante. Mas, enfim... é a política!
Ilustraçã: Google Imagens/Dnotícias
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