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23 Maio 2022
Apesar do que se diz, a Europa não está unida, porque as sanções avançadas até à data não tocam a todos por igual. Seria importante que se sentisse o mínimo de solidariedade.
1. Os actores-chave, no tabuleiro da política mundial, são os EUA, a Rússia e a China, embora com papéis e razões bem diferentes. Os EUA e a Rússia, nomeadamente pelo seu poderio militar nuclear, e a China, cada vez mais como potência económica e tecnológica. Fica de parte quem melhor estará a pontuar em termos de tecnologia, pois isso levaria a uma larga discussão, onde a Europa, infelizmente, está em desvantagem em quase todas as áreas, quando dispõe à partida de atributos para uma posição de vanguarda. Inoperância política, burocracia, falhas de gestão e de opções próprias explicam esta realidade.
São estes três países, em conflito latente e/ou permanente, que gerem a batuta do destino da Humanidade, mesmo quando não aparecem na linha da frente, como acontece agora com a China, na guerra Rússia-Ucrânia.
A União Europeia, infelizmente para os europeus, não marca pontos neste jogo. É um actor sem peso bastante, porque se demitiu de ter estratégia própria. A melhor prova, o tipo de sanções aplicadas à Rússia na guerra com a Ucrânia, em que a solidariedade entre os países-membros deixou de contar. Problemas diferentes, a mesma receita.
2. No 9 de Maio, dia das comemorações da Europa, Emmanuel Macron, na qualidade de Presidente da União Europeia, perdeu-se em floreados. Uma Europa alargada para os que saíram, para os que não entraram, menos decidido por uma União Europeia (UE) orientada para uma linha estratégica própria.
Macron já pronunciara estas palavras bonitas de opções próprias, no caminho para a primeira Presidência de França. Bonitas palavras, na altura, certamente a perder sentido, hoje, por falta de comando europeu forte.
A falta de pensamento e de jeito dos dirigentes políticos causa-nos apreensão. Basta concentrarmo-nos um pouco no conteúdo das propostas das sanções económicas contra a Rússia que tem partido da Comissão Europeia e, nomeadamente, da sua Presidente, por quem, aliás, há uns tempos atrás nutria alguma consideração.
Hoje, apressa-se pura e simplesmente a responder atabalhoadamente à pressão do ditame americano, não tendo em conta os interesses reais dos Estados-membros, caminhando de insucesso em insucesso em termos de resultados, onde a realidade do não pagamento em rublos das importações do gás russo ou o embargo ao petróleo russo são a montra mais perfeita do descalabro da Comissão.
Apesar do que se diz, a Europa não está unida, porque as sanções avançadas até à data não tocam a todos por igual. Um outro tipo de sanções poderia reunir consenso, desde que não contendesse com os interesses dos países e se sentisse o mínimo de solidariedade.
A UE recusa pagar o gás importado da Rússia em rublos
3. Esta exigência de Putin constitui “uma modificação unilateral e injustificada dos contratos e é legítimo rejeitá-la”, declarou a Comissária europeia da energia, Kadri Simson.
De acordo com Simson, “97% dos contratos [fechados pelas empresas europeias] especificam a divisa para pagamento e trata-se do euro ou do dólar americano”. Os pagamentos estão previstos para meados de Maio e a maioria das empresas respeitará as regras dos contratos, pagando em euros ou dólares, assegurou.
A UE avisa que o pagamento do gás russo em rublos “é uma violação das sanções e não pode ser aceite” (in Multinews, 2Maio 2022). A presidente da Comissão Europeia, Ursula ven der Leyen, incitou amiudadas vezes os países e as empresas a não pagar em rublos. E, afinal?!
A maioria dos importadores de gás russo paga em rublos
4. O primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, afirmou no dia 12/05/2022 (Lusa) que a maioria dos importadores europeus de gás russo “abriu contas em rublos” para efectuar os pagamentos a Moscovo, cumprindo assim o decreto de Putin, assinado em 1 de Abril, em que exigia aos países “hostis” o pagamento em moeda russa. Nos países “hostis” entram todos os países da UE, segundo o decreto de Putin.
Draghi acrescentou que a UE não se pronunciara oficialmente sobre se o pagamento em moeda russa infringia ou não as sanções impostas à Federação Russa pela invasão da Ucrânia. E refere que o conglomerado de hidrocarbonetos italiano, ENI, controlado pelo Estado em 30%, deve fazer o pagamento das suas compras em meados de Maio em rublos.
Com efeito, acrescentou Draghi, “a maioria dos importadores já abrira a sua conta em rublos junto da Gazprom”, e sustentou que numerosas empresas na Alemanha “já tinham pago em rublos”.
Onde começa e termina a verdade da UE
5. Onde paira a verdade dos membros da Comissão Europeia? Nesta matéria, sobretudo da Presidente von der Leyen e da Comissária Europeia da Energia, mas também dos ministros e Presidência actual da UE-França. Nesta e, em muitas outras, a verdade é a sua não verdade.
6. Outras verdades, por exemplo, as grandes conjecturas avançadas pelos “bem informados” – expressão magnífica de Miguel Sousa Tavares – para as muitas lérias que, aqui e ali, foram sendo inventadas, acerca do que seria o discurso de Putin a 9 de Maio, Dia da Vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazi.
Os portadores destas “verdades” eram analistas da “mais fina espécie”, socialmente acreditados como politólogos, jornalistas-comentadores, comentadores civis e também militares.
Os ditos “bem informados”, a título de aviso, iam lançando nuvens negras para o público em geral, dizendo que Putin iria “fuzilar” o mundo, anunciando ou a mobilização geral tendo em vista ganhar a guerra, ou a proclamação da guerra formal à Ucrânia, ou a ameaça da guerra nuclear, ou ainda uma marcha triunfal pelas ruas de Mariupol…
Afinal, nada disto se deu. Nada! Putin folheou a história, referenciou duas das grandes batalhas em que a Rússia se bateu contra invasores externos, exactamente em defesa da “Mãe Pátria”, tentando insinuar algum paralelismo com a invasão da Ucrânia, que sempre justificou ser em defesa do povo russo e dos russos ucranianos.
Os “bem informados” criaram as conjecturas que, no seu entender, melhor serviam ou estariam em consonância com os interesses do Ocidente, entendido este como os EUA e a NATO. Estariam convencidos, todos eles, das “verdades que foram fabricando e espalhando”, por muito tempo, sem o mínimo de bases empíricas.
Ou seja, minimamente sustentadas em documentos da Rússia ou em posições dos seus dirigentes máximos?! Nada disso tinha sustentação. Foi o que nos trouxe e ensinou a experiência e a vida.
Eis o retrato do que vão dizendo e escrevendo os “bem informados” sobre o que ocorre no Mundo, no dia-a-dia e, em especial, sobre a guerra Rússia-Ucrânia. Esta será a tua verdade.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.
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