Tenho muita dificuldade em abordar o tema Páscoa, explico, porque os anos, centenas de anos já passaram e "desespero" por uma verdadeira "passagem" que venha ao encontro das minhas preocupações e controladas angústias. Os rituais sucedem-se onde são, meticulosamente, dissecados, pela enésima vez, os passos, as palavras, o assassinato e a Ressurreição daquele Homem que, acredito, em síntese, quis uma Terra de paz, concórdia, tolerância, amor e fraternidade. Porém, a Páscoa não acontece! A "passagem", significado primeiro daquela palavra, não acontece!
Por isso mesmo distingo dois campos: por um lado, o da justificável celebração da memória; por outro, o caminhar no sentido de um novo mundo gerador de paz e respeito total pelo ser humano. A celebração da memória, com aqueles ou outros contornos, à luz da Igreja, faz sentido. Quem sou eu para dizer o contrário? Agora, não me parece que seja por aí que qualquer "passagem libertadora" aconteça. Ela poderá acontecer, passo a passo, se o Homem que aqui habita olhar para si próprio e tomar consciência que as mudanças de rumo poderão se tornar realidade, a partir dele próprio e não por uma outra qualquer inspiração. A desejável "passagem" tem, por isso, uma natureza eminentemente política. É aos senhores que manuseiam os cordelinhos políticos do mundo que compete as grandes mudanças de paradigma político, económico, financeiro, cultural e social que venham a determinar a transição, a tal Páscoa (passagem) que liberte o Homem das amarras em que se encontra globalmente envolvido.
É ao exercício da política que o Homem deve exigir a verdadeira Páscoa. Aos que traficam influências, aos que produzem leis protectoras, aos que corrompem, aos especuladores, aos que apenas olham para os seus interesses, aos insensíveis que não conseguem perceber as desigualdades, aos promotores e financiadores da morte através dos conflitos armados, aos que não têm coragem para travar o jogo sujo da banca exploradora, aos ditadores, aos imperialistas, por aí fora, é a esses que o Homem deve exigir, no plano da democracia, a "passagem" para um novo tempo. À Igreja compete-lhe a permanente denúncia em defesa da Palavra.
E porquê? Para que a Páscoa não se fique pelos ovinhos, amêndoas, cabritinho e coelhinhos.
Ilustração: Google Imagens.
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