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quinta-feira, 1 de junho de 2023

A busca do anormal

 

Não sei se já atingiu o nível da saturação, mas andará por lá perto. Não me sobejam dúvidas que as ditaduras são especialistas em esconder e calar os assuntos incómodos. E não quero viver num ambiente em que a transparência não seja total. Julgo que qualquer pessoa, democrata e com um mínimo de bom senso, assim exigirá. Mas já ultrapassou o meu limite da tolerância.



Qualquer português bem informado já percebeu que houve trapalhada da grossa no ministério da Infraestruturas. Que é difícil entender como é que políticos com anos nos corredores do poder, que dominam o bas-fond da política, o que se vê e sobretudo o que não se descortina, que facilmente advinham as consequências mediáticas dos seus actos, permitam que determinadas situações resvalem para o inimaginável. E o essencial da novela de má qualidade já conhecemos: sobre o SIS, o ministro Galamba, a chefe de gabinete, quem telefonou a quem naquela noite, a bicicleta, o computador, os arranhões entre pares, sobre a comissão de inquérito, enfim, bastou-me um ou dois dias para perceber e tirar conclusões políticas e outras.

Mas não, ligamos a televisão ou a rádio e a cantilena mantém-se, com paletes de comentadores a escarafunchar onde já não há mais para dizer. "É a velha à volta da pedra e a pedra à volta da velha". Ora, se existe uma investigação em curso através das autoridades e se em curso está uma comissão de inquérito na Assembleia da República, pois bem, deixem o marfim correr até que as conclusões sejam conhecidas. Poupem, por isso, os cidadãos a este massacre pretensamente informativo e à política feita espectáculo. Já não há pachorra para assistir a um emaranhado ao jeito de um pelotão a marcar passo.

Agora foram as declarações escritas pelo Primeiro-Ministro, as quais deram lugar a outras do Presidente da República. E essas posições estão a "render como milho de Cabo Verde". Vamos ter mais uns dias de paleio inconsequente. Há qualquer coisa de podre na comunicação social. Perdeu-se o sentido da medida e da responsabilidade. Fico com a ideia que muitos são conduzidos pelo anormal, pela costela político-partidária e que importante é fazer sangue, aparecer e justificar o que legitimamente auferem. Não gosto!

Já não basta a vergonha que é a transcrição exacta dos registos telefónicos entre entidades sujeitas a investigação, transcrições que ninguém ousa averiguar de onde partem tais fugas de informação que deveriam estar em segredo de justiça; já não basta o julgamento na praça pública antes de qualquer criminalização e condenação e já não bastam as prescrições de processos de alegados prevaricadores, o que diz bem do crónico estado da Justiça, os cidadãos ainda têm de levar com séries do tipo "timex", os tais, dizia a publicidade, que não adiantam nem atrasam.

Portugal é um País com muitos e graves problemas por resolver. Que não são solucionáveis através de um simples estalidado de dedos: os de natureza económica, financeira, de educação, saúde, sociais, laborais, culturais, de industrialização, natalidade, desertificação do interior, problemas sem fim que deveriam merecer outra atenção e debate público. Mas não, ficamos pelo SIS e pelo Galamba. Ao ponto de ter lido numa rede social: "se ligar a televisão e não estiver a dar o Galamba, é porque tem uma avaria".

Bom senso, precisa-se!

Ilustração: Google Imagens.

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