É aflitiva a situação dos indicadores de pobreza da Região Autónoma da Madeira. Trata-se do pior desempenho entre as regiões ultraperiféricas.
A ideia que os políticos transmitem, há 47 anos no poder absoluto, é que se respira felicidade, bem-estar e que são marginais os casos de pobreza e de privação, quando comparados com os níveis apresentados pelas outras regiões do país e, concretamente, pelas ultraperiferias: Guadalupe, Guiana Francesa, Reunião, Martinica, Maiote, São Martinho (França), Açores e Ilhas Canárias (Espanha). Mas lá vem o dia que os números são tornados públicos e, consequentemente, as muitas máscaras caem. E esta situação é preocupante.
Há muita vida feita de aparências, de muitas festas, de muito controlo social, de muitos subsídios para atenuar a dor profunda, de muita intervenção política diária, de muitas línguas caladas ou obrigadas ao silêncio, de muita cumplicidade interesseira, de muita economia paralela que disfarça, de muita "guerra" institucional contra a República, eu sei lá o que se esconde por essas ruas, becos e travessas da Madeira real.
Preocupa-me pelo facto de alguns indicadores terem uma óbvia repercussão no futuro. O desenvolvimento não se compagina com situações generalizadas de pobreza, com o círculo vicioso de uma economia com pés de barro, com uma mentalidade que não assenta em valores culturais, tampouco se compagina com o indicador dramático da ausência de saúde. Assiste-se a um crescimento na venda de medicamentos, a ausência de saúde mental arrepia, as milhares de cirurgias e consultas médicas em atraso horrorizam, as várias dependências florescem, os suicídios e as tentativas assustam, o sistema educativo sem norte, construído através de páginas mediáticas, sem rigor, conhecimento científico e estatísticas marteladas, tudo isto, pergunto, aonde levará a população?
E vão falando, como se discursassem para tolinhos, do "Dubai na Madeira", de pioneiros nisto e naquilo, da ilha das flores, dos desfiles e carnavais da ilusão, da "obra" feita, sem conta darem (ou se calhar dão) que também estão a gerar, há muitos anos, indisfarçáveis túneis na cabeça das pessoas. A grande obra teria e terá de ser, em todos os campos, a da edificação do ser humano. Por aí, tudo o resto virá por acréscimo. Mas a população tem uma tendência para tudo perdoar, tudo esquecer e, como mero exemplo, lá virá o dia da inauguração, com música, discurso e foguetes, a "renaturalização" da trágica marina do Lugar de Baixo onde perto ou mais de 100 milhões foram atirados ao mar. Tudo é perdoado pela população. Até a própria pobreza é perdoada! Isto dá que pensar.
Obviamente que não basta dizer que as outras regiões também não vivem no melhor dos mundos. É verdade. Mas isso, parafraseando, faz-me lembrar a história do Miguel que, no final do ano escolar, chegou junto dos pais e disse: "eu perdi o ano, mas papá, outros sete da turma também perderam!"
Ilustração: Dnotícias.
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