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sexta-feira, 25 de abril de 2025

Do diário da Diana – 12 anos – Escola C+S da Musgueira


Por
Carlos Esperança, 
in Facebook, 24/04/2025
estatuadesal 

A minha mãe adora o 25 de Abril e eu também. O meu pai detesta-o. Se a democracia fosse futebol, cá em casa a democracia ganhava 2-1.




Ontem a minha mãe estava possessa. Ouviu o Ventura a fazer promessas, como se as pudesse cumprir, e disse que há mais gente estúpida do que ela pensava e que esse aldrabão de feira parece um encantador de burros.

Como o meu pai andava com o táxi a dizer mal dos taxistas do Bangladesh e de todos os imigrantes, ficámos à conversa depois de jantar. A minha mãe não detesta só o Ventura, está desiludida com o Costa, irritada com o Montenegro e furiosa com o Marcelo.

Ó Diana – dizia –, vê a falta que o Costa faz cá e a inutilidade que é ele na União Europeia, onde bastavam a Von der Leyen e a Kaja Kallas para fazerem asneiras e serem humilhadas pelo desmiolado Trump!

Em Portugal a vergonha desceu à rua e o 25 de Abril está de regresso ao 28 de maio. O país está entregue ao Bando dos Quatro que emigram para Roma em gozo de férias de nojo pela morte do Papa, um homem decente que junta no funeral a escória da política e o refugo dos católicos, os que diziam cobras e lagartos do pontificado e fingem agora ser fervorosos admiradores de quem defendeu a paz e os pobres.

Em Portugal, durante o funeral do Papa, o país fica entregue aos bichos. A substituir o PR fica o Pacheco de Amorim, ex-terrorista do MDLP ou outro vice-presidente da AR; em vez do PM o Miranda Sarmento - porque até o MNE, o indizível Rangel, foi como acólito do PR, PAR e PM para perfazer o Bando dos Quatro, saborosa expressão de humor e raiva da minha mãe numa alusão a um grupo de radicais da China de Mao.

De facto, quando um ministro, em nome do governo que se ausenta para o estrangeiro no dia 25 de Abril, diz que «(…) o Governo cancelou toda a agenda festiva e adiou as celebrações relativas ao 25 de Abril», até eu percebo que não estamos num país de gente séria, estamos nas mãos de traidores, que trocam a Pátria por uma missa em Roma.

E, como se não bastasse, o ministro das Finanças de um governo em gestão, que já gastou a folga orçamental herdada, prepara-se agora para, segundo alega, em conluio com o PS, endividar o País em mais 1,5% do PIB para a Defesa, isto é, para armas.

Disse que pediu a Bruxelas para contrair mais 1,5% do PIB numa dívida que não conta para o Orçamento do Estado. Perguntei à minha mãe como era isso. Irritada, não comigo, nunca se zanga comigo, ela disse que era um expediente para esconder a dívida, até termos de pagar o capital e os juros. Nem sequer é uma dívida da UE, é só nossa.

E à custa de quem – perguntei eu? – De todos nós, respondeu ela. Vão às pensões e aos benefícios sociais. Mas o Nuno Melo disse que uma coisa não tinha a ver com a outra… - retorqui eu. E li, no sorriso triste da minha mãe, o desprezo por tal energúmeno e a dimensão da mentira.

E acrescentou ela: - Se tivéssemos um PR com um módico de dignidade, alertaria o Governo que nos impôs para o descaramento de tomar decisões com o PS sem saber se os dois têm a maioria em relação aos restantes. E acrescentou: - Ó Diana, que legitimidade têm de decidir despesas que oneram as gerações futuras sem as discutirem antes das eleições?

Que a Alemanha, queira gastar 500 mil milhões de euros, é lá com ela, embora esteja na origem das duas grandes guerras mundiais e esquecida da proibição de se rearmar, mas que a UE queira gastar 800 mil milhões também é connosco. Não digo que sou contra o armamento da UE, mas é preciso que se saiba para quê, para nos defendermos de quem e que sacrifícios estamos dispostos a fazer, incluindo o de morrer na Gronelândia ou em qualquer área da UE que vier a ser invadida.

A minha mãe diz que somos vítimas de bullying e que há uma campanha de intoxicação em curso para evitar que discutamos o que interessa aos portugueses para que interesses alheios possam prosperar.

Estou a pensar que amanhã não poremos cravos vermelhos na jarra da sala, por causa do meu pai e, antes que na rua comece a ser tão perigoso como dar vivas à República ou dizer mal do Salazar no tempo dos meus falecidos avós, eu e a minha mãe, só as duas, vamos da Musgueira ao desfile da Av. da Liberdade para gritarmos a plenos pulmões…

Viva o 25 de Abril! Sempre!

Musgueira, 24 de abril de 2025 – Diana

quinta-feira, 24 de abril de 2025

25 de Abril e a Senhora Presidenta da Câmara do Funchal


Para alguns parece que já nada mais há a acrescentar. Pressuponho que partem da convicção, pessoal e partidária, que a Revolução aconteceu há meio século e, portanto, não existem perigos de retrocesso político e de regime. Quão enganada está a Senhora Presidenta da Câmara Municipal do Funchal (estará?), quando impede uma cerimónia municipal evocativa porque, "(...) não se trata de um momento para intervenções políticas (...)". Bom, certamente, é "cozinhá-lo" em ambiente fechado, "declamando", sem margem para a diversidade da opinião.



Então, qual será o momento adequado? Quando, olhamos em redor, da escala internacional à local, e vemos o mundo dissolvido em políticas extremistas de interesses múltiplos, ódios e populismos que esmagam os povos, onde a pobreza se tornou paisagem, onde a inversão de prioridades oferece-nos um sinal claro de corrupções de variadíssima ordem, quando, até, o falecido Papa Francisco chamou à atenção para esta "Economia que mata", quando a ganância do ter se sobrepõe ao ser, quando a cidade está frágil, nas mãos de interesses de grandes senhorios que cavam assimetrias e geram velocidades distintas de desenvolvimento (qualidade), enfim, perante um quadro muito pouco auspicioso, pergunto, qual será o momento adequado?

Não se assinala o dia que celebra "o direito de falar, ouvir e de ser escutado" (aqui está o paradoxo da presidenta da câmara), apenas com iniciativas no âmbito do "Vivacidade". Ambas são compagináveis. O direito de falar, ouvir e de ser escutado, nunca poderá ser motivo de censura, porque a Senhora Presidenta entende que este "não é um momento para intervenções políticas". Pelo contrário, é mister dos políticos, representantes do povo, que falem com convicção, honestidade, seriedade e conhecimento, que apontem caminhos para a cidade, pois só por aí podemos celebrar o Abril da Esperança pelo qual tantos lutaram, foram presos, torturados, deportados, morreram às mãos do anterior regime, quer no país, quer na vergonhosa guerra colonial.

Os tempos são outros e os problemas também, é certo. Mas só com a palavra, por mais que soe a repetição e cause incómodos, as instituições poderão caminhar e defender novos equilíbrios, fazendo crescer e desenvolver uma cidade que não fique pela singularidade do anfiteatro do Funchal, mostrado pelo cartão-postal. Para além do discurso político, em qualquer patamar de intervenção, digo-lhe, Senhora Presidenta, está na altura de resistir e de regressarem novas canções que exerçam influência. Ademais, se a democracia causa embaraços, parafraseando alguém, não queiram "experimentar a ditadura"!

Ilustração: Google Imagens.

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Trump sonha com as Terras Raras


Por

“Enquanto Donald Trump se preocupa em saber em que equipa jogam as pessoas transgénero, os chineses transformam as suas fábricas com a ajuda da IA”. Citando Thomas Friedman, o futuro está na China.



Entre as múltiplas obsessões de Trump não podiam faltar as Terras Raras. Em local que “cheire” a Terras Raras, lá aparece de dedo em riste porque, na sua opinião, os EUA correm riscos, se as Terras Raras escaparem da sua alçada. E, sendo assim, têm de ser nossas, diz, “a bem ou a mal”!

É assim, na Gronelândia, Canadá, Ucrânia. … O que nos vale, parece, em nenhuma das Ilhas dos Açores há cheiro a Terras Raras ou, então, o cheiro sulfuroso vulcânico encobre. Mas quem sabe, se um dia destes não aparece por lá, “em visita de cortesia”, J.D. Vance e a mulher! (aeroportos para o avião “presidencial” não faltam).

Desconhecia-se este pânico enorme, tão assanhado, de Trump pelas Terras Raras chinesas! Que descontrolo, ilusão e desconhecimento. A luta pela hegemonia global perturba-lhe o pensamento.

A aposta da China

1. A China há muitos anos fez as suas escolhas estratégicas e uma foi, sem dúvida, a aposta nas Terras Raras.

Não nos podemos esquecer da célebre frase de Deng Xiaoping (1992): “o Médio Oriente tem petróleo, nós temos terras raras”. E esta frase, na realidade, tornou-se um desígnio: a China preparou-se. Investiu muito nas frentes mais diversas: equipamentos para mineração, investigação, tecnologia, formação, patentes, redes de distribuição, constituição e dinamização de empresas altamente competitivas e especializadas e acordos de cooperação com empresas estrangeiras e países diversos.

Segundo a informação disponível, este processo teve os seus acidentes de percurso, não foi construído só de sucessos. Mas, a China acabou por consolidar um caminho invejável, com um registo de ganhos acumulados em dinâmicas inovadoras, atingindo e permanecendo no comando deste cluster de actividades, a nível mundial, de forma firme e difícil de destronar.

Pequim com as suas múltiplas patentes e domínio das tecnologias goza de um quase monopólio mundial, acabando por transformar cerca de 90 por cento das Terras Raras, quando só dispõe de 55% a 60% dos recursos mundiais.

Assim, não é fácil a empresas não chinesas, a não ser em estreita cooperação, explorarem a parte da industrialização das Terras Raras, ou seja, a extracção do minério e a sua transformação em concentrados e respectivo refinamento.

Muitas empresas estrangeiras têm acordos de longa duração com as suas congéneres da China para a transformação e refinação das Terras Raras, ou seja, para transformar estes minerais estratégicos em peças a serem aplicadas nos produtos finais como semicondutores, aeroespacial, equipamentos militares, automóvel eléctrico, equipamentos para a energia solar e eólica…, o que lhe acrescenta ainda mais poder em toda esta longa fileira de produção e mercados.

Mais uma vez anoto: estes 17 minerais estratégicos, conhecidos por Terras Raras, são mais ou menos abundantes no subsolo do Planeta Terra. A questão-chave do cluster reside no domínio das tecnologias das diferentes fases do processo de fabrico. E é aí que se concentra o poderio económico de Pequim.

Existência de Terras Raras no planeta

2. Os Serviços Geológicos dos Estados Unidos (US Geological Survey) estimam que, no ano de 2024, as reservas mundiais de Pedras Raras andariam à volta de 110 milhões de toneladas, sendo os 12 países mais importantes e, por esta ordem, a China, Brasil, India, Austrália, Rússia, Vietname, EUA, Gronelândia, Tanzânia, África do Sul, Canadá e Tailândia.

Curioso verificar que os 4 países de origem dos BRICS constam desta lista e a África do Sul que veio a integrar o grupo um pouco depois também. E até o Vietname que tem mostrado interesse em aliar-se e marcou presença na última Cimeira (Kazan/Rússia, Novembro2024) do grupo dos países BRICS+ detém uma posição significativa nas reservas mundiais. O que significa que a China anda bem acompanhada neste domínio.

Posição da Ucrânia

3. A Ucrânia apenas terá 5% das reservas das Terras Raras mundiais. Não consta da lista dos 12 países principais.

Cerca de 50% desses minérios estão em territórios ocupados pela Federação da Rússia, nomeadamente em Donbass e Crimeia, pelo que vários especialistas questionam a pressão de Trump, quanto ao acordo dos minerais das Terras Raras, ainda mais sabendo-se, dizem esses mesmos estudiosos, que as últimas estimativas das reservas são reportadas ao período soviético, podendo haver margens de erro significativas de avaliação, pois, entretanto, as metodologias modificaram-se.

A acrescentar, refira-se, que a Ucrânia não tem qualquer mina em exploração, nem experiência de mineração, nem na fileira. Tudo, no ponto zero, agravado com falta de mão de obra com um mínimo de experiência, um grande obstáculo para investimentos neste domínio.

No entanto, a Rússia terá mostrado alguma abertura de cooperação com os EUA e, como aqui já se escreveu, poderá recorrer a algum apoio técnico da China, certamente em condições bem negociadas, pois como sabemos Pequim vedou completamente a exportação de tecnologias nestes domínios.

A complexidade é grande, tanto mais quando nada está definido em termos da guerra. Assim sendo, este acordo das Terras Raras parece, por enquanto, um negócio prematuro e absurdo. Para além disso, mesmo que este acordo avance já não terá qualquer efeito no “reinado Trump”, dado o período longo, que uma exploração mineira exige a arrancar.

Reacção da China às tarifas de Trump

A China tem respondido quase de imediato às sucessivas alterações das taxas sobre as importações dos EUA, aplicando condições similares e condicionando as exportações de 7 metais das Terras Raras o que vai complicar a produção de semicondutores nos EUA se perdurar além de dois meses. Pequim impôs sanções a algumas empresas norte-americanas e uma acção judicial na OMC.

A comunicação social

O futuro está na China, escreve o colunista Thomas Friedman, do New York Times, laureado com três prémios Pulitzer. Diz este jornalista: “enquanto Donald Trump se preocupa em saber em que equipa jogam as pessoas transgénero, os chineses transformam as suas fábricas com a ajuda da IA”.

A revista The Economist escreveu: “How America could contribute to China’s growth”, ou seja, como os EUA poderão devolver à China a sua grandeza de antes, em referência ao slogan da campanha de Donald Trump. O The Economist anotava ainda que as tarifas do presidente Trump vão esmagar os seus rivais ocidentais, dando o domínio aos chineses dos mercados da viatura eléctrica e drones.

O New York Times, por seu lado, sublinhava que a empresa Huawei instalou 100.000 locais de recarga rápida para os veículos eléctricos chineses, em 2024, enquanto os EUA apenas conseguiram instalar 214 novos, no mesmo período, com 7,5 mil milhões de dólares.

Muitos outros órgãos de informação, em todo o mundo, se referem às tarifas Trump, apontando para uma recessão económica profunda, se não houver recuos.

Até a Directora Geral do FMI, Kristalina Georgieva, demonstrou preocupação em relação às “tarifas de reciprocidade”, falando de “riscos significativos” para a economia mundial.

Mas, se alguma conclusão não abusiva se poderá retirar, com riscos embora, é que o maior importador mundial (EUA) está em perda contra o maior exportador (China), nesta luta pela hegemonia global, porque Pequim deu um salto tecnologicamente gigante, levando estudiosos como Sophie Boisseau du Rocher e Christian Lechervy a afirmarem (2025) que “as multinacionais virão para o Leste Asiático para aprender, não para ensinar ou transferir“.

De facto, em curso, está a substituição do modelo ocidental de desenvolvimento por um novo, centrado na Ásia.

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Uma Europa “a sair” da história?


Por
Economista

Que saídas para esta guerra económica? Na Ásia, a comunicação social fala na recomposição de novas alianças: Coreia do Sul, Japão e China em aproximação para responder a Trump. O que se seguirá?



Os EUA e a União Europeia leram a bússola do tempo, de olhos trocados. Os EUA, apanhados de surpresa pela descolagem económica, tecnológica e diplomática da China, [finais1990/inícios 2000], resultante das reformas transformacionais, introduzidas por Deng Xiaoping, a partir de 1978, tentam mudar de rumo para não perderem o pé no xadrez da governação mundial. Assim, redireccionam e recentram poderosos meios e recursos económicos, políticos, diplomáticos e militares na Ásia, numa estratégia de enfrentamento da China. Conter os avanços de Pequim tornou-se o foco central da política externa americana.

A UE, por seu lado, não soube captar os sinais de declínio em que, a partir daí, entrou o seu relacionamento com os EUA, pelas mesmas razões que levaram à mudança do foco internacional dos interesses americanos em termos de geografia e conteúdo.

EUA versus China

1. A grande contenda EUA/China começa aqui. Na Ásia, nem tudo tem sido desfavorável aos EUA, o que significa que a China não viu a vida facilitada. Forças de um lado e do outro reorganizam-se para um combate duradouro pelo controlo do Mundo. Até que ponto a constituição e o desenvolvimento dos BRICS vieram trazer um certo conforto à China, no âmbito desta rivalidade, é uma outra matéria a merecer acompanhamento.

Esta descolagem, uma vez “descoberta”, tem atravessado as Presidências americanas, desde George W. Bush a que não se pode deixar de imputar os fracassos das guerras do Afeganistão e Iraque, mas o chamado “epicentro” asiático não deixou de perpassar as presidências de Clinton, Obama, Trump1, Joe Biden e agora Trump2. Os ritmos é que variaram, segundo a personalidade dos presidentes e seus assessores, mas o foco da guerra à China mantém-se vivo.

A Europa sai do mapa americano

2. Neste contexto, a Europa perdeu para os EUA o interesse estratégico que detinha na Segunda Guerra Mundial e no período da guerra fria. A Europa perdeu espaço nos planos das Presidências americanas, pois nada de novo acrescenta aos desígnios dos EUA no mundo.

A Europa não apreendeu, durante muito tempo, esta alteração da realidade. Não se ajustou a estas novas ambições de confronto. Ficou parada no tempo, sob domínios importantes, com realce para a esfera da defesa.

Foi continuando a construir e mal a sua economia, fazendo “umas flores”, aqui e ali, nas COP com o “plano verde europeu”, hoje, em vias de abandono, rejeitado pela maioria dos países membros, designadamente devido a metas irrealistas e, não indo ao fundo dos problemas, como na energia, em que deixou enredar-se pela Alemanha, está a pagar essa visão errada, com o afundamento de sectores económicos-base como as indústrias químicas e metalúrgicas e agora o automóvel, arrastando a União Europeia no seu todo para o abismo.

A Europa falhou. Não soube definir os seus fundamentos económicos e, neste momento, com um radical na governação do outro lado do Atlântico, enfrenta um futuro muito incerto porque a mudança de foco para a Ásia tornou-se mais brusca, desferindo um corte radical nas relações transatlânticas e grandes incertezas/turbulências na economia mundial provocadas pelas taxas aduaneiras e eventual não pagamento de títulos do tesouro americanos na mão de estrangeiros, visando sobretudo a China … mas a que a Europa não sairá ilesa.

A desorientação na UE aprofunda-se e surgem os delírios sem nexo, como o de rearmar a Europa para se defender de quê…? Certamente “de tropas russas” nas ruas de Londres! É o máximo do ridículo e do desconhecimento da História. A Rússia nunca invadiu a Europa, sendo aquela várias vezes invadida.

Uma Europa 2.0?

3. A União Europeia deixou de ter o pé em terra. Cimeiras, mais cimeiras, a reboque de Macron e Starmer, com os dirigentes máximos europeus, presentes, mas em situação de marginalidade, ao lado de um secretário-geral da NATO, um cargo que ninguém sabe o que vale, pessoa pouco credível, pelo menos, para Portugal, embora os políticos portugueses, de fraca memória, já tenham esquecido o palavreado ofensivo de Mark Rutte, para com o nosso País.

Até parece que caminhamos para uma Europa 2.0, alargada a recém-saídos (Reino Unido) e a potenciais novos membros tipo Canadá. Será a “Europa do Rearmamento”? Estas cimeiras “de coligação de voluntários” andam a discutir incongruências e inconsequências, “sem pés, nem cabeça”, só para se manterem em palco. Meras encenações perigosas. Que forças querem construir, forças de intermediação de quê?! Ainda não estão negociados acordos de paz e, quando aí se chegar, serão as forças de paz compostas por forças militares não neutras?!

Forças de paz só com intervenção da ONU. Acho que pelos corredores das diversas instituições internacionais, deverá haver muito comentário e sorrisos sarcásticos sobre o pretenso frenesim que percorre os dirigentes europeus. O próprio Zelensky anda à deriva, mas não pode voltar as costas aos europeus. A sua participação neste desarrazoado de Cimeiras não contribui positivamente para as negociações em que a Ucrânia é chamada a participar.

Acentua-se o fosso entre os Estados-membros da UE

4. A divisão entre os países-membros da União Europeia (UE) está a aprofundar-se em todo este processo, minando o ambiente já de si pouco conforme, até porque, para algumas das cimeiras, nem todos os países foram convidados, apenas “os amigos” de Macron e Starmer.

Na realidade, assiste-se a países com posições de extrema-direita, próximas das correntes trumpistas e em cumplicidade com Musk, caso Meloni, primeira-ministra de Itália, apostados numa postura de negociação e um outro grupo bem maioritário que admite avançar para o armamento, a posição oficial da Comissão europeia e do Conselho para o qual Ursula von der Leyen desencantou uns 800.000 milhões de euros, sem identificar onde os vai arranjar, sem qualquer programação.

Mas, neste segundo grupo, há muitas visões sobre as percentagens do PIB nas despesas com a defesa. Há os que se vangloriam (poucos) com a sua aproximação dos 5% exigidos por Trump, mas um grande número de países-membros não vai por aí. Países como a Áustria, Irlanda, Malta, Espanha, Bélgica, Eslovénia, Luxemburgo e talvez Portugal não estarão dispostos a percorrer esse caminho. Onde vão desencantar tanto financiamento? Em que despesas vão cortar?

A Europa está cada vez mais isolada de Trump e Putin, do centro das decisões, também pelas posições que tomou e estas cimeiras só ampliam a marginalização. O caminho de negociações a três, separados, será muito em ziguezague. A UE vai ser chamada, em alguma fase, nem que seja para colocar uma assinatura!

Só espero que as negociações não se arrastem tempo em demasia, embora as perspectivas não se apresentem risonhas, nomeadamente porque as “decisões erráticas” da presidência Trump, sobretudo no campo da economia, estão a prosseguir, podendo arrastar uma crise profunda, a nível mundial. Que saídas para esta guerra económica, pois é de uma guerra real que se trata.

Na Ásia, a comunicação social fala na recomposição de novas alianças: Coreia do Sul, Japão e China em aproximação para responder a Trump? A acontecer, algo que envolverá muita imprevisibilidade. Mas talvez seja um caminho a explorar pela diplomacia.