Para alguns parece que já nada mais há a acrescentar. Pressuponho que partem da convicção, pessoal e partidária, que a Revolução aconteceu há meio século e, portanto, não existem perigos de retrocesso político e de regime. Quão enganada está a Senhora Presidenta da Câmara Municipal do Funchal (estará?), quando impede uma cerimónia municipal evocativa porque, "(...) não se trata de um momento para intervenções políticas (...)". Bom, certamente, é "cozinhá-lo" em ambiente fechado, "declamando", sem margem para a diversidade da opinião.
Então, qual será o momento adequado? Quando, olhamos em redor, da escala internacional à local, e vemos o mundo dissolvido em políticas extremistas de interesses múltiplos, ódios e populismos que esmagam os povos, onde a pobreza se tornou paisagem, onde a inversão de prioridades oferece-nos um sinal claro de corrupções de variadíssima ordem, quando, até, o falecido Papa Francisco chamou à atenção para esta "Economia que mata", quando a ganância do ter se sobrepõe ao ser, quando a cidade está frágil, nas mãos de interesses de grandes senhorios que cavam assimetrias e geram velocidades distintas de desenvolvimento (qualidade), enfim, perante um quadro muito pouco auspicioso, pergunto, qual será o momento adequado?
Não se assinala o dia que celebra "o direito de falar, ouvir e de ser escutado" (aqui está o paradoxo da presidenta da câmara), apenas com iniciativas no âmbito do "Vivacidade". Ambas são compagináveis. O direito de falar, ouvir e de ser escutado, nunca poderá ser motivo de censura, porque a Senhora Presidenta entende que este "não é um momento para intervenções políticas". Pelo contrário, é mister dos políticos, representantes do povo, que falem com convicção, honestidade, seriedade e conhecimento, que apontem caminhos para a cidade, pois só por aí podemos celebrar o Abril da Esperança pelo qual tantos lutaram, foram presos, torturados, deportados, morreram às mãos do anterior regime, quer no país, quer na vergonhosa guerra colonial.
Os tempos são outros e os problemas também, é certo. Mas só com a palavra, por mais que soe a repetição e cause incómodos, as instituições poderão caminhar e defender novos equilíbrios, fazendo crescer e desenvolver uma cidade que não fique pela singularidade do anfiteatro do Funchal, mostrado pelo cartão-postal. Para além do discurso político, em qualquer patamar de intervenção, digo-lhe, Senhora Presidenta, está na altura de resistir e de regressarem novas canções que exerçam influência. Ademais, se a democracia causa embaraços, parafraseando alguém, não queiram "experimentar a ditadura"!
Ilustração: Google Imagens.
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