Nunca vi um episódio do Big Brother. Passo, espreito e mudo de canal. Porém, fiz questão de observar dois momentos aos quais dediquei algum tempo. Ao longo da visualização lembrei-me da frase tantas vezes dita por Artur Albarran: "o drama, o horror, a tragédia". Ora, tudo aquilo é, para mim, cómico, patético, desgraçado, bizarro e medonho. Não tem ponta por onde se pegue, ou melhor, talvez sirva para estudo das causas que se escondem a montante e se aquilatar do grau de cognição e da sanidade dos intervenientes, sei lá, no quadro de uma dissertação de Mestrado na área da Sociologia (já existem estudos sobre esta matéria).
Tudo aquilo é mau, porém, paradoxalmente, está no topo das audiências em Portugal. Porventura, também um pouco por toda a parte. Li que, no nosso país, mais de um milhão de pessoas segue aquele travestido jogo de emoções profundamente barato e reles. Luanda Pires, jornalista brasileira, há dias, escreveu que aquilo é "o retrato de uma sociedade em ruína na sua TV". E é. Um programa com aquelas características, de linguagem barata e ignorante, inculto em várias vertentes, conduz apenas à estupidificação e consequente ruína social.
É um negócio que rende, porventura muito, a quem o promove. Se há procura, logo a oferta surge, daí que o BB seja uma mercadoria assente no exibicionismo-voyeurismo. Gera lucro: os que para lá vão, sujeitando-se a uma espécie de "prisão dourada", olham para os prémios, para a hipótese de uma certa fama narcísica porque estão expostos a milhões; para quem promove, obviamente, que tem tudo estudado para garantir o rendimento, entre vários factores, o da publicidade. Quem lá entra, está, portanto, borrifando-se para a demonstração de ignorância ou para o baixo nível do "espectáculo". Nesse aspecto, julgo eu, não existe desconforto.
Desconheço outros formatos do BB, este é ridículo. Se os promotores tentam retratar a realidade social fico com a convicção que aquilo não tem nada a ver com realidade. Tem muito de fantasia e ridicularização do ser humano ao serviço do lucro. São seleccionados e conduzidos em função de quanto mais sangue melhor, pois é por aí que se verificam os picos de audiência e a concomitante publicidade. Em uma leitura mais vasta do processo, fico também com o pressentimento que esse tal pressuposto "retrato social", no fundo, visa manter a sociedade tal como é ou arrastá-la para o redemoinho da ignorância. E no meio disto surgem os comentadores, os "especialistas" que multiplicam toda aquela pobreza.
Em um desses momentos que acompanhei segui uma concorrente, casada e mãe de dois filhos. "Desabafava" com um outro sujeito através de um paleio enervante. Questiono-me: o que move aquela senhora para, temporariamente, abandonar a família e sujeitar-se a um ambiente degradante que humilha e desonra? Ininteligível.
Mas há mercado. Há quem goste. Respeito. Eu detesto a vulgaridade que embrutece e bestifica.
Ilustração: Google Imagens.
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