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quinta-feira, 10 de outubro de 2019

A história de um casalinho


O resultado era esperado. O casamento de conveniência também. Tal como na velha historieta, pergunto-me, se por amor ou por interesse? Neste caso, deduzo, por óbvio interesse, porque amor parece-me não existir. Nunca teriam dado o passo em frente. Foram quarenta anos de péssima vizinhança sempre que assomavam à janela, com ofensas mútuas, só que ela, com o passar dos anos, sentia-se a ficar com os "pés amarelos" e, portanto, aqui chegada, acabou por entregar-se, completa e doidamente, nos braços de quem lhe fez a vida negra. Surgiram as juras e, no altar, engalanado e cheio de convivas, vão dar o passado como tempo perdido. No fundo, apesar da crispação ao longo de todos estes anos em que se cruzaram, ela sempre teve um secreto fraquinho, pensava nele, sobretudo porque adora ser submissa. Contenta-se com pouco. Um dia disseram-lhe que mais valeria ser rainha por um dia do que princesa toda a vida! E ela acreditou.


Ela não se importa de ser obediente ao senhor, rico, cheio de tiques de quero, posso e mando. Acomodou-se e "amochou". Ao nariz empinado fez uma operação plástica. Ficou direitinho. O senhor leva já dezenas de anos a "virar frangos" e sabe como assá-la em lume brando, tornando-a boa menina apesar da idade. Se ela, a mocinha que nunca teve a oportunidade de casar, mas que sempre enfrentou o desejado, com esta mudança de estatuto social, fica obrigada, publicamente, a andar de cabisbaixo, de véu, silenciosa, engolindo em seco o dito e o pensado durante anos, inclusive, as próprias ofensas à família. Infantilmente, sonha que irá partilhar e herdar alguma coisa. Por isso, jamais será a mesma. Jurou fidelidade, nos "pensamentos, actos e omissões", mas não é virgem. É o seu ponto fraco. Em tempos andou com outro, pobre, e dele se desligou na primeira esquina. Não lhe garantia futuro, ouro, jóias, benesses, os encantos das festas e aquele carrinho preto com motorista à porta que tanto gosta. 
O senhor abraçou a noiva, mas sem a olhar de frente. E já lhe disse: ficas com a responsabilidade da cozinha e dos jardins e quero que sejas a governanta daquele espaço lá em baixo, mas não te metas em sarilhos. Aceitou e ajoelhou!
Ilustração: Google Imagens.

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